Silvana do Monte Moreira, advogada, sócia da MLG ADVOGADOS ASSOCIADOS, presidente da Comissão Nacional de Adoção do IBDFAM - Instituto Brasileiro de Direito de Família, Diretora de Assuntos Jurídicos da ANGAAD - Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção, Presidente da Comissão de Direitos das Crianças e dos Adolescentes da OAB-RJ, coordenadora de Grupos de Apoio à Adoção. Aqui você encontrará páginas com informações necessárias aos procedimentos de habilitação e de adoção.
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sábado, 4 de maio de 2013
DA VIDA REAL PROCURA A MÃE BIOLÓGICA
04/05/2013 Paulistana adotada por casal francês tenta, 25 anos depois, reencontrar a família biológica perdida Cleo Francisco / Especial para o DIÁRIO
ACEITA NA UNIVERSIDADE SORBONNE, CHARLOTTE ESTUDOU LETRAS E CINEMA
O público da novela “Salve Jorge”, da Rede Globo, tem se emocionado com
a história de Aisha que, enfim, encontrou a família verdadeira. Mas a
reação da moça ao saber que os parentes moram na favela foi criticada
por uma brasileira de 25 anos, adotada por um casal na França. Charlotte
Cohen Tenoudji desembarcou no Brasil em 1 de setembro passado, com o
firme propósito de descobrir sua família biológica. “O mais importante
não é que a família seja rica, mas saber a verdade para viver em paz”,
disse a jovem que, aos 14 anos, descobriu numa pasta no escritório do
pai os documentos de sua adoção. Entre eles, estava a certidão de
nascimento feita no Brasil, constando o nome da suposta mãe, Maria das
Dores Pinto da Mota, e citando também um suposto irmão gêmeo, Raphael.
Ela conhecia o garoto apenas como um amigo com quem brincava no orfanato
Lar da Criança Menino Jesus, em Santana. Mas eles perderam contato na
infância, após uma briga entre sua mãe francesa e Christiane, a mulher
que adotou o garoto. Charlotte não acredita que Maria das Dores seja sua mãe e também duvida da autenticidade dos documentos.
“Diziam que eu e o Raphael éramos crianças de rua, abandonadas”, conta
Charlotte, cujo depoimento foi ao ar na novela “Salve Jorge” dia 29. “Ao
abrir a pasta, vi que tinha uma cópia da página do passaporte com o
nome da minha mãe, sem foto.” Charlotte também tem uma foto em que
aparece Christiane, a mãe adotiva de Raphael, segurando-o, e, ao lado,
outra mulher com Charlotte no colo, no orfanato cuja responsável era
Guiomar Morselli. Segundo Charlotte, Christiane queria adotar um menino e
veio ao local por indicação de uma amiga. “A Guiomar disse para
Christiane que tinha uma menina que ia para um casal na Itália, mas que
eles mudaram de ideia.” Ainda de acordo com Charlotte, Christiane, com
quem retomou contato somente há alguns meses, contou que voltou para a
França e, algum tempo depois, Maria das Dores chegou ao país com as duas
crianças vindas do Brasil. Saber sua origem é uma missão. “Quero
saber de onde vieram minhas características físicas, meu caráter. Tenho a
impressão de que aconteceu algo errado, que minha mãe foi forçada a me
dar.”
‘SE FOI IRREGULAR, NÃO SEI DIZER’ Ex-diretora de orfanato diz não se lembrar sobre as circunstâncias da adoção
Maria das Dores Pinto da Mota, que aparece como a mãe da criança, é
empregada até hoje na casa de Guiomar Morselli, responsável pelo
orfanato à época da adoção. Ela atendeu a reportagem da porta sem nem
sequer chegar ao portão, em Vargem Grande Paulista, a 40 km da capital.
É melhor falar com dona Guiomar que ela vai explicar tudo direitinho.
Tenho problema de depressão e faço coisas que não me lembro, minha
cabeça falha”, desconversou ao falar sobre Charlotte. Logo em
seguida, Guiomar foi entrevistada ao lado do marido, Franco Morselli, de
80 anos. “Se foi irregular, não sei. Não era comum fazer certidões de
nascimento com informações erradas. É questão de nos lembrar-mos. É
muita coisa”, disse Guiomar. Perguntados se alguma vez já haviam
recebido valores pelas adoções, o marido interrompeu: “Não toque nesse
assunto porque senão eu fico revoltado. Essa ideia me deixa revoltado e
posso ser indelicado”, disse, levantando-se da mesa em seguida. Uma
cópia da certidão foi deixada com Franco. Ele disse que iria ao
cartório certificar-se de que a assinatura da mulher era verdadeira. “O
Lar da Criança nunca a enviou para a França com nenhum bebê.” Durante a
conversa, Guiomar falou de uma certa Nely, senhora francesa que a
procurou porque queria uma criança para uma amiga. “Vinte anos atrás era
uma facilidade a adoção. Você sabe. É muito tempo. Muita criança passou
pela gente. Se foi irregular, não sei. Preciso localizar Nely.” O casal
também admite ter ido à França. “Fomos visitar a Nely e mais três
famílias da cidade de Lille que adotaram crianças”, disse Franco.
Fernando Nery, advogado de família, afirma o direito assegurado da jovem
em saber sua origem. “Todo brasileiro tem o direito fundamental de
saber quem são seus pais biológicos.” No último dia 19, Sami Paskin,
advogado de Charlotte, enviou para a Polícia Federal do Rio de Janeiro
petição para investigar o caso. “Ainda não tive resposta.”
MALTRATADA NA FRANÇA, CHARLLOTE RECEBEU ABRIGO
Diferentemente da Aisha de “Salve Jorge”, que tem carinho e total apoio
dos pais adotivos, Charlotte sofreu muito. “Fui retirada de casa por
maus-tratos psicológicos e morei em uma casa do governo a partir dos 16
anos.” Segundo a jovem, o pai já tinha 58 anos e a mãe, 51 quando ela
chegou ao lar, situado em um bairro nobre de Paris, com vista para Torre
Eiffel. O pai, um comerciante de arte, era alcoólatra. A mãe carregava
traumas da infância passada durante a Segunda Guerra e costumava mudar
de humor de uma hora para outra. “Minha mãe tinha crises de raiva,
era possessiva. Acho que ela pensou que uma criança ia trazer
felicidade, mas criança não é objeto de consumo, não é uma boneca”,
comentou Charlotte. “Eles não tinham saúde mental, estabilidade. Já os
vi lutar fisicamente. Não me batiam, mas era uma violência psicológica,
pior talvez porque não deixa marcas visíveis”, conclui. Embora sua
família pertencesse à classe alta, fora do lar ela enfrentava outros
problemas. “Sofri racismo. Cresci num bairro muito rico e conservador,
onde não tinha diversidade.” Aos 14 anos, Charlotte espiou a pasta que
via com seu nome e descobriu o que achou ser sua origem. A relação
piorou e a vida em casa se tornou um martírio. “Tentava falar com
assistentes sociais, mas ninguém acreditava. Até que uma psicóloga me
ouviu e um juiz me tirou da família. Fui morar num lar de adolescentes
aos 16 anos e recebi ajuda do governo até me formar.”
BENZEDEIRA DO BAIRRO NEGA ENVOLVIMENTO
Marisa Bueno Cabral, 72 anos, conhecida no bairro como benzedeira, foi
procurada para falar do assunto. Seu endereço, na Zona Norte da capital
paulista, é dado na certidão como o local onde ocorreram os nascimentos
de Charlotte e Raphael. “A Guiomar passou aqui em casa e pediu para eu
ser testemunha de uma mãe que estava ‘doando’ uma criança. Mas também
não li o documento. Não tenho a data, mas foi essa única vez. Dá uma
olhada nesta casa. Nem os meus filhos nasceram aqui.”
PASSAPORTE TEM DATA DE NASCIMENTO DIFERENTE
A jovem adotada tem em seu poder um passaporte com nome de Charlotte
Pinto da Mota, com data de 10 de julho de 1987, seis dias depois de ser
feita a certidão de nascimento. No registro, a data de nascimento
consta como 30 de maio de 1987. Foto: Ana Branco/Agência O Globo
Charlotte narrou a própria história a Aisha, personagem de Gloria Perez
vivido pela atriz Dani Moreno (foto abaixo) em “Salve Jorge”. A
participação foi ao ar no capítulo de 29 de abril
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