quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Burocracia Longa espera leva a vias ilegais

 Para juiz da Infância, preferência por bebês e por crianças brancas trava fila
PUBLICADO EM 18/09/13 - 03h00

A dona de casa Andrea Bouché, 35, demorou três anos para realizar o sonho de ter um filho. “Esperei mais que o tempo normal de adoção porque eu tinha que fazer um curso de preparação psicológico, conforme determinação da Justiça, mas não havia turma aberta na época”, diz. Assim como ela, outras 29.886 pessoas podem encontrar dificuldades para adotar um filho, enquanto 5.487 crianças e adolescentes esperam por um lar, segundo o Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Isso porque a morosidade da Justiça, que pode aumentar o tempo de adoção em até quatro anos, somada à preferência majoritária por recém-nascidos brancos – condição para adotar de 30% dos pretendentes – muitas vezes entravam o processo e abrem brechas para a prática de crimes, como o tráfico de bebês.

Na capital, cerca de 400 pessoas aguardam para adotar um filho, sendo que existem 91 crianças disponíveis – 56 meninos e 35 meninas. Porém, o juiz Marco Flávio Lucas Padula, da Vara Civil de Infância e Juventude de Belo Horizonte, reconhece que a preferência é por um grupo de apenas sete crianças brancas, em detrimento de outras 84 negras ou pardas. “Existe uma discriminação. Se não for um recém-nascido ou um bebê branco, muitas pessoas não querem. É a limitação da preferência que não faz a fila andar”, disse. Esse pode ter sido o caso da advogada Selena Castiel, investigado pela Polícia Civil de Betim. Segundo a CNAm, mais da metade dos pretendentes no Brasil (56,3%) opta por crianças com até 2 anos.
O especialista em direito da família da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) Antônio Marcos Nohmi avalia que o excesso de preferências dos pretendentes pode favorecer crimes. “No caso de recém-nascidos, que são minoria para adotar, a pessoa vai demorar tanto, que prefere fazer uma adoção ilegal”, disse.
Justiça. Por outro lado, a dificuldade de atendimento da própria Justiça também entrava o processo de adoção, que deveria durar de cinco meses e um ano, mas pode chegar a cinco anos de espera. A advogada Silvana Moreira, presidente da Comissão de Adoção do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFam), adotou uma recém-nascida há 13 anos e precisou apenas de quatro meses – um caso de exceção, segundo ela. “Meu caso foi para provar que é possível adotar com facilidade. O problema é que várias varas de infância não têm psicólogos, assistentes sociais e sequer oferecem o curso psicológico e jurídico de uma semana, que é obrigatório. Aí o processo se arrasta por anos”, disse.

Como adotar
- Quem pode.
Qualquer pessoa maior de 18 anos, solteira ou não, pode se dirigir à Vara de Infância e Juventude para se inscrever no Cadastro de Pretendentes à Adoção (CPA). É necessária diferença mínima de 16 anos entre o adotante e o adotado.

- Documentos. Depois de reunida toda a documentação, são realizadas entrevistas e visitas à casa do pretendente, que é avaliado por assistentes sociais.

- Aprovação. A avaliação é encaminhada a um juiz, que aprova ou não a inserção do pretendente no Cadastro Nacional de Adoção (CNA). O processo demora cerca de cinco meses a um ano. Depois, o pretendente precisa escolher a criança ou adolescente para adotar. 

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