domingo, 3 de novembro de 2013

MOGI DAS CRUZES TEM O DOBRO DE PAIS PROCURANDO ADOÇÃO DO QUE CRIANÇAS


03/11/2013
Há 22 crianças aguardando uma nova família e 44 candidatos a pais.
Exigências quanto a idade, sexo e raça atrasam processo de adoção.
Pedro Carlos Leite Do G1 Mogi das Cruzes

Dados do Tribunal de Justiça de São Paulo apontam que em Mogi das Cruzes há 44 pessoas dispostas a adotar uma criança – exatamente o dobro de menores de idade que estão aguardando um lar. Porém, a espera para que os dois lados se unam para formar uma família pode chegar a anos. Parte da explicação está no número de restrições que os futuros pais colocam quando se candidatam a adotar uma criança. “Se o candidato opta por uma criança de até um ano de idade, sem irmãos e com restrição à raça, a espera pode chegar a quatro anos. Agora, se acolhe uma faixa etária ampliada, aceita grupo de irmãos e não tem restrição de raça a espera é de um a dois anos”, explica Maria Helena Rizzi, psicóloga do Fórum de Mogi das Cruzes.
Experiente em atender os candidatos a adoção na cidade, Maria Helena comenta sobre o perfil de criança mais procurado. "A maioria ainda prefere crianças com um ou dois anos de idade, uma única criança e de preferência branca. Porém, percebo que está crescendo a procura por crianças de até sete anos e, em ritmo menor, das de nove anos e com irmãos”. Em Mogi das Cruzes 13 crianças já foram adotadas neste ano.
O primeiro passo para casais ou pessoas solteiras que pretendem adotar é procurar o Fórum de sua cidade. Lá, é preciso ir até a Vara da Infância e retirar uma lista de documentos que precisam ser apresentados. Entre as exigências está a apresentação de fotos da residência da pessoa.
Na etapa seguinte o candidato vai passar por entrevistas com assistente social e psicólogo. “Serão avaliadas as motivações, quais as condições da família, se é um casal estruturado, se vive em brigas”, comenta Maria Helena.
Por fim, os candidatos frequentam um curso de capacitação psicossocial e jurídica onde conhecem mais sobre os aspectos sociais, legais e emocionais da adoção. Aprovada em todas as etapas, a pessoa é registrada no cadastro nacional de candidatos a adoção e aguarda o dia em que será chamado.
O tempo entre manifestar o interesse em adotar e ter seu nome aprovado para o cadastro é de cerca de seis meses. Outra variante importante que determina o tempo de espera é a área que o candidato escolhe para receber a criança. Há a opção de receber crianças do Estado de São Paulo, da região sudeste ou de todo o território nacional, por exemplo.

MOTIVOS PARA ADOTAR
Quem pensa em adotar uma criança precisa refletir se o desejo vem das motivações corretas. “É errado adotar porque a pessoa se sente sozinha e pensa que assim vai lidar com solidão. Também há pessoas que acham que vão fazer caridade. Não é esse o propósito. Para fazer caridade que leve crianças para passear, doe brinquedos. O comprometimento com a adoção é muito maior”, explica a psicóloga do Fórum.
Geralmente quem mais procura a adoção são casais que não podem ter filhos biológicos. Também nestes casos a decisão de adotar uma criança deve ser tomada de maneira cuidadosa. “Há pessoas que não lidam bem com a impossibilidade de ter filhos. É preciso superar esta questão antes de tentar uma adoção”, comenta Maria Helena.

CONTAR A VERDADE
Um momento importante na vida da criança é o momento da revelação. Maria Helena explica que os pais adotivos são orientados desde o início do processo sobre como contar. “É um processo contínuo. É importante os pais fotografarem a chegada da criança em casa, ou mesmo o primeiro contato com ela. Também devem guardar cópias da decisão do juiz e da certidão de nascimento da criança e ir montando um álbum com estas referências”, conta Maria Helena.
O importante é contar a verdade conforme a criança vai perguntando. “Eu recomendo sempre os pais contarem tudo o que sabem. Geralmente a criança pergunta 'como eu entrei na barriga da mamãe?', 'como eu saí?'. Aí é hora de puxar aquele álbum e contar que ela veio da barriga de outra mulher”, comenta Maria Helena.
A psicóloga explica que tem ressalvas em recomendar a expressão “filho do coração” depois de um episódio. “Uma vez aconteceu um caso interessante de uma menina adotada, de cerca de cinco anos. Ela perguntou para a mãe 'mãe, como que eu entrei na sua barriga?'. E a mãe respondeu 'você não nasceu da minha barriga, nasceu do meu coração. Você é filha do meu coração'. A criança ficou com aquilo na cabeça e precocupada por dias. Na época várias mulheres da família estavam grávidas, com as barrigas enormes, e a menina disse que achava que a mãe tinha ficado com o peito bem grande, que cresceu tanto até que explodiu e ela nasceu. Às vezes a criança ainda não tem idade para entender a metáfora, então prefiro deixar as coisas claras: você nasceu da barriga de outra mulher mas é filho do meu amor”.

'SINTA-SE GRÁVIDA'
Foi em um fim de tarde, quando estava no centro de Mogi das Cruzes, que Mônica Araújo Gnocchi Chumbinho recebeu uma ligação e descobriu que seria mãe. “Disseram que ela tinha nascido, era do jeito que a gente procurava e se eu queria conhecê-la no dia seguinte. Fomos lá e a levamos para casa no mesmo dia. Foi uma correria para conseguir roupa e todas as coisas. Foi bem rápido”, conta a mãe de Maria Clara, hoje 5 cinco anos.
Ela e o marido Wanderley tiveram que lidar com a ansiedade no início do processo. “Quando começamos o processo de adoção me disseram 'sinta-se grávida, só que você não sabe quando o bebê vai nascer'. Eles orientam a não comprar enxoval para não gerar ansiedade, pode até dar problema psicológico. Esperamos de quatro a cinco anos. A ansiedade é difícil, mas é sempre o tempo de Deus. Nós não fizemos opção de sexo. Pedimos apenas que fosse de 0 a 6 meses”, comenta.
Já a comerciante Elisabete Rodrigues de Matos Borges e seu marido Claudinei tiveram uma experiência diferente quando adotaram Eduardo, que tinha 9 anos quando entrou para a família. "Tem gente que acha que a criança mais velha já tem a personalidade formada e é mais difícil de lidar, mas isso não é verdade. Inicialmente a gente queria uma criança de até 4 anos, mas depois de um tempo de espera nós aceitamos adotar uma criança mais velha. Hoje o Eduardo está com 12 e a adaptação foi muito tranquila. Estamos até pensando em adotar outra criança em breve", afirma.
Elisabete confirma que o processo de adoção é longo, mas que a recompensa é muito maior. "A pessoa não pode desanimar com a burocracia. E outra coisa, não precisa ser rico para adotar. Isso não tem nada a ver. Tem que ter a vontade bem forte no coração".
Elisabete, o marido Claudinei e o filho Eduardo, adotado quando tinha nove anos e hoje com 12. Para ela, o mais importante é ter o desejo de adotar no coração. (Foto: Celso Mattos/Arquivo Pessoal)
http://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2013/11/mogi-das-cruzes-tem-o-dobro-de-pais-procurando-adocao-do-que-criancas.html
MOGI DAS CRUZES TEM O DOBRO DE PAIS PROCURANDO ADOÇÃO DO QUE CRIANÇAS
03/11/2013
Há 22 crianças aguardando uma nova família e 44 candidatos a pais. 
Exigências quanto a idade, sexo e raça atrasam processo de adoção.
Pedro Carlos Leite Do G1 Mogi das Cruzes

Dados do Tribunal de Justiça de São Paulo apontam que em Mogi das Cruzes há 44 pessoas dispostas a adotar uma criança – exatamente o dobro de menores de idade que estão aguardando um lar. Porém, a espera para que os dois lados se unam para formar uma família pode chegar a anos. Parte da explicação está no número de restrições que os futuros pais colocam quando se candidatam a adotar uma criança. “Se o candidato opta por uma criança de até um ano de idade, sem irmãos e com restrição à raça, a espera pode chegar a quatro anos. Agora, se acolhe uma faixa etária ampliada, aceita grupo de irmãos e não tem restrição de raça a espera é de um a dois anos”, explica Maria Helena Rizzi, psicóloga do Fórum de Mogi das Cruzes.
Experiente em atender os candidatos a adoção na cidade, Maria Helena comenta sobre o perfil de criança mais procurado. "A maioria ainda prefere crianças com um ou dois anos de idade, uma única criança e de preferência branca. Porém, percebo que está crescendo a procura por crianças de até sete anos e, em ritmo menor, das de nove anos e com irmãos”. Em Mogi das Cruzes 13 crianças já foram adotadas neste ano.
O primeiro passo para casais ou pessoas solteiras que pretendem adotar é procurar o Fórum de sua cidade. Lá, é preciso ir até a Vara da Infância e retirar uma lista de documentos que precisam ser apresentados. Entre as exigências está a apresentação de fotos da residência da pessoa.
Na etapa seguinte o candidato vai passar por entrevistas com assistente social e psicólogo. “Serão avaliadas as motivações, quais as condições da família, se é um casal estruturado, se vive em brigas”, comenta Maria Helena.
Por fim, os candidatos frequentam um curso de capacitação psicossocial e jurídica onde conhecem mais sobre os aspectos sociais, legais e emocionais da adoção. Aprovada em todas as etapas, a pessoa é registrada no cadastro nacional de candidatos a adoção e aguarda o dia em que será chamado.
O tempo entre manifestar o interesse em adotar e ter seu nome aprovado para o cadastro é de cerca de seis meses. Outra variante importante que determina o tempo de espera é a área que o candidato escolhe para receber a criança. Há a opção de receber crianças do Estado de São Paulo, da região sudeste ou de todo o território nacional, por exemplo.

MOTIVOS PARA ADOTAR
Quem pensa em adotar uma criança precisa refletir se o desejo vem das motivações corretas. “É errado adotar porque a pessoa se sente sozinha e pensa que assim vai lidar com solidão. Também há pessoas que acham que vão fazer caridade. Não é esse o propósito. Para fazer caridade que leve crianças para passear, doe brinquedos. O comprometimento com a adoção é muito maior”, explica a psicóloga do Fórum.
Geralmente quem mais procura a adoção são casais que não podem ter filhos biológicos. Também nestes casos a decisão de adotar uma criança deve ser tomada de maneira cuidadosa. “Há pessoas que não lidam bem com a impossibilidade de ter filhos. É preciso superar esta questão antes de tentar uma adoção”, comenta Maria Helena.

CONTAR A VERDADE
Um momento importante na vida da criança é o momento da revelação. Maria Helena explica que os pais adotivos são orientados desde o início do processo sobre como contar. “É um processo contínuo. É importante os pais fotografarem a chegada da criança em casa, ou mesmo o primeiro contato com ela. Também devem guardar cópias da decisão do juiz e da certidão de nascimento da criança e ir montando um álbum com estas referências”, conta Maria Helena.
O importante é contar a verdade conforme a criança vai perguntando. “Eu recomendo sempre os pais contarem tudo o que sabem. Geralmente a criança pergunta 'como eu entrei na barriga da mamãe?', 'como eu saí?'. Aí é hora de puxar aquele álbum e contar que ela veio da barriga de outra mulher”, comenta Maria Helena.
A psicóloga explica que tem ressalvas em recomendar a expressão “filho do coração” depois de um episódio. “Uma vez aconteceu um caso interessante de uma menina adotada, de cerca de cinco anos. Ela perguntou para a mãe 'mãe, como que eu entrei na sua barriga?'. E a mãe respondeu 'você não nasceu da minha barriga, nasceu do meu coração. Você é filha do meu coração'. A criança ficou com aquilo na cabeça e precocupada por dias. Na época várias mulheres da família estavam grávidas, com as barrigas enormes, e a menina disse que achava que a mãe tinha ficado com o peito bem grande, que cresceu tanto até que explodiu e ela nasceu. Às vezes a criança ainda não tem idade para entender a metáfora, então prefiro deixar as coisas claras: você nasceu da barriga de outra mulher mas é filho do meu amor”.

'SINTA-SE GRÁVIDA'
Foi em um fim de tarde, quando estava no centro de Mogi das Cruzes, que Mônica Araújo Gnocchi Chumbinho recebeu uma ligação e descobriu que seria mãe. “Disseram que ela tinha nascido, era do jeito que a gente procurava e se eu queria conhecê-la no dia seguinte. Fomos lá e a levamos para casa no mesmo dia. Foi uma correria para conseguir roupa e todas as coisas. Foi bem rápido”, conta a mãe de Maria Clara, hoje 5 cinco anos.
Ela e o marido Wanderley tiveram que lidar com a ansiedade no início do processo. “Quando começamos o processo de adoção me disseram 'sinta-se grávida, só que você não sabe quando o bebê vai nascer'. Eles orientam a não comprar enxoval para não gerar ansiedade, pode até dar problema psicológico. Esperamos de quatro a cinco anos.  A ansiedade é difícil, mas é sempre o tempo de Deus. Nós não fizemos opção de sexo. Pedimos apenas que fosse de 0 a 6 meses”, comenta.
Já a comerciante Elisabete Rodrigues de Matos Borges e seu marido Claudinei tiveram uma experiência diferente quando adotaram Eduardo, que tinha 9 anos quando entrou para a família. "Tem gente que acha que a criança mais velha já tem a personalidade formada e é mais difícil de lidar, mas isso não é verdade. Inicialmente a gente queria uma criança de até 4 anos, mas depois de um tempo de espera nós aceitamos adotar uma criança mais velha. Hoje o Eduardo está com 12 e a adaptação foi muito tranquila. Estamos até pensando em adotar outra criança em breve", afirma.
Elisabete confirma que o processo de adoção é longo, mas que a recompensa é muito maior. "A pessoa não pode desanimar com a burocracia. E outra coisa, não precisa ser rico para adotar. Isso não tem nada a ver. Tem que ter a vontade bem forte no coração".
Elisabete, o marido Claudinei e o filho Eduardo, adotado quando tinha nove anos e hoje com 12. Para ela, o mais importante é ter o desejo de adotar no coração. (Foto: Celso Mattos/Arquivo Pessoal)
http://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2013/11/mogi-das-cruzes-tem-o-dobro-de-pais-procurando-adocao-do-que-criancas.html

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