sábado, 14 de setembro de 2013

ADOÇÃO: UM GESTO DE AMOR E MUITA RESPONSABILIDADE


Por MADSON MORAES
Especialistas discutem a adoção de crianças e adolescentes no Brasil. Quer saber como fazer para adotar uma criança? Tire suas dúvidas!

Segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), em 22 de agosto de 2013, entre os 5.439 adolescentes e crianças prontos para a adoção, haviam 1.766 brancos (32,47%), 2.598 pardos (47,77%), 1.027 negros (18,88%), 24 de pele amarela (0,44%) e 32 indígenas (0,59%). Desses 5.439, 2.355 eram do sexo feminino e 3.084 do sexo masculino.
Em relação aos 29.987 pretendentes cadastrados, 9.342 aceitavam apenas crianças brancas (31,26%) ante 567 (1,90%) que queriam apenas crianças negras. Já 1.672 (5,59%) desejavam apenas crianças pardas e 11.959 (40,01%) eram indiferentes em relação à cor da pele. A preferência maior era por crianças do sexo feminino (9.709) ante 2.883 por crianças do sexo masculino.
Como o cadastro é alimentado pelos próprios juízes de infância e juventude, o número é dinâmico, mas a variação deles normalmente é pequena. O problema é que esses números, analisa o advogado Antonio Carlos Berlini, presidente da Comissão Especial de Direito à Adoção da OAB de São Paulo, nem sempre refletem uma realidade. Em linhas gerais, opina Antonio Carlos, é difícil acreditar em números governamentais. Dados oficiais constam que no Brasil existem hoje por volta de 37 mil crianças e adolescentes vivendo longe das suas famílias em instituições de acolhimentos, os antigos abrigos.
PANORAMA DA ADOÇÃO NO PAÍS
'Nós, da área, trabalhamos com números bem superiores a esse, algo entre 50 a 60 mil crianças e adolescentes vivendo longe de suas famílias numa situação que deveria emergencial e provisória. Se acontece algum tipo de problema dentro da família, é o Estado, é o Judiciário que vai lá, interfere na família e retira a criança de uma situação de perigo colocando-a a salvo sob a tutela desse próprio Estado. Nessa situação, nós teríamos cerca de 60 mil e não 37 mil', explica o advogado.
O problema, avalia Carlos Berlini, é que essas 5 mil e poucas crianças do Cadastro Nacional não preenchem o perfil preferencial da família brasileira. 'O perfil da família, falando em Estado de São Paulo, é de 95% dos pretendentes à adoção querendo crianças com até 5 anos de idade. Mas a maioria dos pretendentes brasileiros querem crianças até 2 anos de idade, do sexo feminino, pele branca e que não tenham nenhum problema físico ou mental. Infelizmente, essas crianças do cadastro não preenchem o perfil da adoção nacional', opina o presidente da comissão.
Por isso, o panorama geral da adoção no país é o crescimento tanto de crianças a serem adotadas quanto de pretendentes à adoção. Isso porque, explica o advogado, esses 5 mil e pouco do cadastro são adolescentes, crianças acima de 7 ou 8 anos, de raça negra, muitas vezes com vivência de rua, que têm irmãos, problemas físicos ou mentais e com problema comportamental. Ou seja, não preenchem o perfil e, portanto, ficam em lista de espera da adoção. 'Da mesma forma, cresce do outro lado o número de pretendentes à adoção porque são famílias brasileiras que tem um perfil muito estreito à adoção. De um lado, cresce a lista de crianças e adolescentes e, de outro, cresce a lista de pretendentes', analisa Carlos.

QUEM PODE ADOTAR?
O tempo no processo de adoção de uma criança é proporcional à exigência do casal. 'Temos uma boa lei, a Lei de Adoção, mas, em contrapartida, o Estado tem uma grande dificuldade em prover meios céleres para que o processo caminhe rapidamente em prol dessa criança que está esperando de uma família. Não temos, principalmente em todo o Brasil, varas específicas da infância e da juventude em número suficiente nem nas capitais', comenta o advogado.
E quem pode adotar? Pode adotar homens e mulheres, maiores de 18 anos, independentemente do estado civil. Não há restrições para homossexuais. É necessário que o pretendente seja pelo menos 16 anos mais velho do que o adotado e ofereça um ambiente familiar adequado. Os interessados devem procurar um advogado ou a Defensoria Pública que dará entrada no período de habilitação para adoção na Vara da Infância da Juventude. Além disso, desde 2009 é obrigatório um curso de preparação à adoção, indicado pelas Varas de Infância e da Juventude.

A SEGUIR, PSICÓLOGA EXPLICA OS DESAFIOS ENFRENTADOS POR PAIS E FILHOS ADOTADOS.

DESAFIOS DE PAIS E FILHOS ADOTIVOS
Sobre essa questão, a psicóloga Maria Salete Abrão, explica que entender as diferenças que há entre um filho biológico e uma criança adotada e os desafios que isso traz foi que norteou suas pesquisas e que culminou no livro. 'O que constatei clinicando e em pesquisa é o fato de que, no nosso país e na cultura, temos de um lado os casais adotantes que passaram uma longa história de infertilidade. A maioria dos casais tem essa configuração, embora haja casos em que isso não ocorre. E, por outro lado, temos uma criança que foi ‘abandonada’, entregue pela família de origem por motivos diversos porque não pode cuidar dessa criança', analisa.
'Quando pais que não confiam neles mesmos enquanto pais e uma criança que vem com uma história de abandono, mesmo sendo um bebê recém-nascido, ou que já se imaginam abandonados. Quando há essas características, você já tem uma série de conflitos no crescimento e criação dos filhos”, afirma a psicóloga. Ela usa um exemplo: quando uma criança que é filha biológica faz birra, os pais olham para ela e pensam ‘bom, é minha filha, deve ter puxado’ ou pensa qualquer coisa do tipo.
Mas, muitas vezes, quando são pais adotivos que se deparam com esse cenário de birra, comum a toda infância, eles olham e pensam 'meu Deus, de onde veio isso?'. Isso, explica Maria Salete, gera um dos grandes problemas nessa relação entre pais e filhos adotivos, que é a falta de limite. 'Um dos problemas maiores é a falta de limite exatamente porque os pais não se autorizam a ocupar o que lugar que têm', analisa.

CASAIS HOMOSSEXUAIS
'Uma parte interessante da minha pesquisa é que com casais homossexuais que adotam crianças essa questão da fertilidade não se coloca. Em minha observação e pesquisa, isso facilitou muito com que o casal conseguisse assumir lugares de pai e mãe. Isso foi um aspecto interessante porque casais que passam por uma longa história de infertilidade se autorizam menos a ser pai e mãe e, como nesse cenário essa questão não se coloca, a criança é absorvida de uma forma mais ampla e mais intensa. Não generalizo, mas isso é uma observação da minha pesquisa', explica Maria Salete.

ADOÇÃO NO BRASIL
Adotar uma criança exige amor, mas também responsabilidade dos pais. A palavra adoção tem sua origem do latim 'adoptio' que significa 'tomar alguém como filho' e de 'tomar para si com cuidados'. No Brasil, explica a psicóloga Maria Salete Abrão, autora do livro 'Construindo vínculo entre pais e filhos adotivos' (Primavera Editorial), a adoção está ainda muito associada às fantasias ligadas à infância pobre, ao filho ilegítimo e ao abandono.
'Ainda são nítidas essas marcas a despeito de todo o desenvolvimento das políticas de proteção à infância. A evolução dos costumes e das leis não afastou de vez a discriminação social. Persistem vivos os preconceitos, a discriminação e as fantasias acerca daquilo que se poderia chamar de 'mau sangue' dos filhos adotivos. A ideia do mau sangue se refere ao desconhecimento das origens biológicas e à hipótese de que tais origens se vinculariam a uma classe socioeconômica inferior', analisa Maria Salete.

ADOTIVOS NÃO SÃO MAIS PROBLEMÁTICOS QUE FILHOS BIOLÓGICOS
Para Maria Salete Abrão, permeia a ideia de que, ‘se é adotivo, então terá problema’. Segundo ela, o desafio existe porque, em nossa cultura, a filiação de sangue é considerada a única genuína, a verdadeira. 'Recentemente, eu orientava um pai adotivo que me trouxe a seguinte situação. A orientadora da escola o chamou para falar da filha com problemas de comportamento e se dirigiu ao pai ‘olha, sou mãe, eu sei como meu filho é e vai se comportar, de onde ele veio, mas, o senhor não sabe de onde veio a sua filha, como o senhor vai saber?’. Isso é a dimensão do preconceito que precisa ser enfrentado', opina a psicóloga.
O advogado Carlos Berlini refuta essa ideia de acontecem mais problemas com o adotado do que o biológico. 'Os próprios meios de comunicação quando noticiam, por exemplo, um crime, ele dificilmente coloca ‘filho biológico assina os pais’. Mas, se ele for adotado, a manchete será ‘filho adotivo assassina pais biológicos’. Isso tudo forma diante da adoção uma pecha maldosa, um tabu, que as pesquisas mais renomadas possíveis dão conta de que os filhos adotados dão tanto problema quanto os filhos biológicos. Ou seja, não é que acontecem mais problemas com o adotado do que o biológico', opina
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