11/09/2013
Wagner Sarmento
wsarmento@jc.com.br
Cristiane Marvin conta detalhes do episódio de guarda provisória de uma menina de 1 ano em Olinda
A esteticista carioca Cristiane Marvin, 43 anos, falou na terça-feira
(10) pela primeira vez sobre o processo de guarda provisória irregular
de uma menina de 1 ano em Olinda. De volta ao Estado para prestar
depoimento à polícia na Delegacia do Varadouro, ela abriu o coração e
contou detalhes do episódio que até hoje lhe tira o sono. Ao lado do
marido, o piloto Donald Marvin, 54, negou o tráfico de influência, falou
sobre o batismo da criança e disse que se arrependeu de tê-la
devolvido. Cristiane e o companheiro viajariam para o Rio, um dos
endereços do casal, onde aguardariam novidades sobre o caso. As imagens
do vídeo foram captadas pelo repórter fotográfico Diego Nigro/JC Imagem.
JORNAL DO COMMERCIO – COMO SURGIU O INTERESSE DE VOCÊS EM ADOTAR UMA CRIANÇA?
CRISTIANE MARVIN – Eu e meu marido somos casados há 14 anos e tentamos
um filho nos 10 primeiros anos do casamento. Fizemos cinco tratamentos
de fertilização in vitro. No quarto, fui vítima do médico Roger
Abdelmassih. Aí acabei desistindo do sonho da maternidade e decidimos
que não teríamos mais filhos, que nos dedicaríamos a viajar e aproveitar
a vida.
JC – COMO E QUANDO A SENHORA CONHECEU FABÍOLA CARNEIRO DE BARROS?
CRISTIANE – A irmã de Fabíola mora em Miami. Já a conhecia há algum
tempo e ela sempre me falava para vir aqui. Como eu não conhecia o
Recife, decidimos viajar e passar meu aniversário, em 26 de abril, na
cidade. A gente veio para passar uma semana.
JC – COMO A SENHORA FOI PARAR NO ABRIGO ONDE ESTAVA A MENINA?
CRISTIANE – Fabíola tem uma filha adotada e sempre ajuda casas de
apoio. Aí quis conhecer o local. Vim para cá certa de que não teria mais
filho. Fomos com Fabíola fazer doações e, assim que entramos, demos de
cara com a garota. Meu marido falou para eu tirar aquilo da cabeça, mas
foi algo imediato. Ela veio para meus braços. Pensei que talvez o motivo
para eu não ter filhos seria este: encontrá-la. Uma assistente social
contou a história dela, o abandono que sofreu, e tudo aquilo foi mexendo
conosco. A menina nasceu desnutrida e, até os sete meses de vida, deu
entrada mais de 30 vezes no Hospital Tricentenário com quadro de
pneumonia. No abrigo, acabava de voltar do hospital e davam banho nela
com água gelada da pia. Eu não aguentava ver aquilo.
JC – ENTÃO VOCÊS NÃO VIERAM AO RECIFE PARA ADOTAR UMA CRIANÇA?
CRISTIANE – Nós não viemos para isso, mas acabamos nos envolvendo com a
menina. Saí de lá umas 13h e, às 17h30, pedi a Fabíola para voltar.
Quando entrei de novo, ela pulou no meu colo. A mãe biológica falou que
não a queria. A criança estava doente, em um abrigo sem condições
sanitárias, sujo, fedido, cheio de mosquito e escorpião. Eu a pegava nos
braços e o peito dela miava, de tão doente que estava. Então, perguntei
a Fabíola se a gente podia ir na Vara da Infância e Juventude.
JC – ENTÃO VOCÊS PROCURARAM A JUÍZA ANDRÉA CALADO MESMO NÃO ESTANDO NO CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO (CNA)?
CRISTIANE – Fomos porque a menina não estava inscrita no cadastro. Se
estivesse, a gente respeitaria, pois sabia que não teria condições. Não
queríamos passar na frente de ninguém. Eu não vim a Olinda para adotar,
vim para passear, mas as coisas aconteceram. Não sei explicar o que
ocorreu. Não planejei nada. Em nenhum momento a gente agiu de má fé.
Estão fazendo uma injustiça conosco. Eu só me propus a ajudar essa
garota porque o olhinho dela estava me pedindo. Pensei na hora que ela
era minha filha e estava me esperando. Dois dias depois, fomos na Vara
da Infância conversar com a juíza Andréa Calado. A primeira pergunta que
ela fez foi qual era a cor da criança. Nunca vou esquecer. Andréa foi
generosa, entendeu a situação, mas falou que só poderia ajudar perante a
lei. Disse que, se a gente tivesse interesse, a primeira coisa a fazer
seria se inscrever no cadastro, se mudar para Olinda e lá ficar até
acabar o processo de adoção.
JC – FOI ISSO O QUE VOCÊS FIZERAM?
CRISTIANE – A dra. Andréa Calado deu permissão para continuarmos
visitando a criança. Passei mais de um mês indo todo dia no abrigo, de
segunda a sábado. Levava comida, roupa, brinquedo, ventilador, isso para
todas as crianças, não só para ela. Então, tivemos que alugar um
apartamento. Não tínhamos mais condições de ficar em hotel. Aí Fabíola
nos disse que tinha um local para alugar. Foi uma decisão pesada na
nossa vida, pois teríamos que ficar por dois ou três anos aqui. Tive que
fechar meu negócio nos EUA e meu esposo ficava indo e vindo, porque é
piloto e alguém tinha que trabalhar. Era minha filha ou voltar para
casa. Então, alugamos o apartamento e a juíza disse que encontraria a
melhor forma de resolver aquilo legalmente. Todo dia, eu chegava ao
Fórum de Olinda às 16h e saía às 20h. A dra. Andréa Calado mandava eu
ter paciência. Queria tudo logo, mas o tempo da Justiça é outro. Depois
de um tempo, ela resolveu, para o bem da menor e vendo todo o meu
sacrifício emocional e econômico, conceder a guarda provisória, o que é
diferente de adoção. Ela, como juíza e como mãe, pensou: o que é melhor
para a menina, ficar naquele abrigo ou com essa mãe?
Leia entrevista completa na edição impressa do Jornal do Commercio desta quarta-feira (11).
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
http:// jconline.ne10.uol.com.br/canal/ cidades/geral/noticia/2013/09/ 11/ eu-fui-fraca-por-devolver-a-min ha-filha-diz-mulher-envolvida- em-caso-de-adocao-96981.php
11/09/2013
Wagner Sarmento
wsarmento@jc.com.br
Cristiane Marvin conta detalhes do episódio de guarda provisória de uma menina de 1 ano em Olinda
A esteticista carioca Cristiane Marvin, 43 anos, falou na terça-feira (10) pela primeira vez sobre o processo de guarda provisória irregular de uma menina de 1 ano em Olinda. De volta ao Estado para prestar depoimento à polícia na Delegacia do Varadouro, ela abriu o coração e contou detalhes do episódio que até hoje lhe tira o sono. Ao lado do marido, o piloto Donald Marvin, 54, negou o tráfico de influência, falou sobre o batismo da criança e disse que se arrependeu de tê-la devolvido. Cristiane e o companheiro viajariam para o Rio, um dos endereços do casal, onde aguardariam novidades sobre o caso. As imagens do vídeo foram captadas pelo repórter fotográfico Diego Nigro/JC Imagem.
JORNAL DO COMMERCIO – COMO SURGIU O INTERESSE DE VOCÊS EM ADOTAR UMA CRIANÇA?
CRISTIANE MARVIN – Eu e meu marido somos casados há 14 anos e tentamos um filho nos 10 primeiros anos do casamento. Fizemos cinco tratamentos de fertilização in vitro. No quarto, fui vítima do médico Roger Abdelmassih. Aí acabei desistindo do sonho da maternidade e decidimos que não teríamos mais filhos, que nos dedicaríamos a viajar e aproveitar a vida.
JC – COMO E QUANDO A SENHORA CONHECEU FABÍOLA CARNEIRO DE BARROS?
CRISTIANE – A irmã de Fabíola mora em Miami. Já a conhecia há algum tempo e ela sempre me falava para vir aqui. Como eu não conhecia o Recife, decidimos viajar e passar meu aniversário, em 26 de abril, na cidade. A gente veio para passar uma semana.
JC – COMO A SENHORA FOI PARAR NO ABRIGO ONDE ESTAVA A MENINA?
CRISTIANE – Fabíola tem uma filha adotada e sempre ajuda casas de apoio. Aí quis conhecer o local. Vim para cá certa de que não teria mais filho. Fomos com Fabíola fazer doações e, assim que entramos, demos de cara com a garota. Meu marido falou para eu tirar aquilo da cabeça, mas foi algo imediato. Ela veio para meus braços. Pensei que talvez o motivo para eu não ter filhos seria este: encontrá-la. Uma assistente social contou a história dela, o abandono que sofreu, e tudo aquilo foi mexendo conosco. A menina nasceu desnutrida e, até os sete meses de vida, deu entrada mais de 30 vezes no Hospital Tricentenário com quadro de pneumonia. No abrigo, acabava de voltar do hospital e davam banho nela com água gelada da pia. Eu não aguentava ver aquilo.
JC – ENTÃO VOCÊS NÃO VIERAM AO RECIFE PARA ADOTAR UMA CRIANÇA?
CRISTIANE – Nós não viemos para isso, mas acabamos nos envolvendo com a menina. Saí de lá umas 13h e, às 17h30, pedi a Fabíola para voltar. Quando entrei de novo, ela pulou no meu colo. A mãe biológica falou que não a queria. A criança estava doente, em um abrigo sem condições sanitárias, sujo, fedido, cheio de mosquito e escorpião. Eu a pegava nos braços e o peito dela miava, de tão doente que estava. Então, perguntei a Fabíola se a gente podia ir na Vara da Infância e Juventude.
JC – ENTÃO VOCÊS PROCURARAM A JUÍZA ANDRÉA CALADO MESMO NÃO ESTANDO NO CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO (CNA)?
CRISTIANE – Fomos porque a menina não estava inscrita no cadastro. Se estivesse, a gente respeitaria, pois sabia que não teria condições. Não queríamos passar na frente de ninguém. Eu não vim a Olinda para adotar, vim para passear, mas as coisas aconteceram. Não sei explicar o que ocorreu. Não planejei nada. Em nenhum momento a gente agiu de má fé. Estão fazendo uma injustiça conosco. Eu só me propus a ajudar essa garota porque o olhinho dela estava me pedindo. Pensei na hora que ela era minha filha e estava me esperando. Dois dias depois, fomos na Vara da Infância conversar com a juíza Andréa Calado. A primeira pergunta que ela fez foi qual era a cor da criança. Nunca vou esquecer. Andréa foi generosa, entendeu a situação, mas falou que só poderia ajudar perante a lei. Disse que, se a gente tivesse interesse, a primeira coisa a fazer seria se inscrever no cadastro, se mudar para Olinda e lá ficar até acabar o processo de adoção.
JC – FOI ISSO O QUE VOCÊS FIZERAM?
CRISTIANE – A dra. Andréa Calado deu permissão para continuarmos visitando a criança. Passei mais de um mês indo todo dia no abrigo, de segunda a sábado. Levava comida, roupa, brinquedo, ventilador, isso para todas as crianças, não só para ela. Então, tivemos que alugar um apartamento. Não tínhamos mais condições de ficar em hotel. Aí Fabíola nos disse que tinha um local para alugar. Foi uma decisão pesada na nossa vida, pois teríamos que ficar por dois ou três anos aqui. Tive que fechar meu negócio nos EUA e meu esposo ficava indo e vindo, porque é piloto e alguém tinha que trabalhar. Era minha filha ou voltar para casa. Então, alugamos o apartamento e a juíza disse que encontraria a melhor forma de resolver aquilo legalmente. Todo dia, eu chegava ao Fórum de Olinda às 16h e saía às 20h. A dra. Andréa Calado mandava eu ter paciência. Queria tudo logo, mas o tempo da Justiça é outro. Depois de um tempo, ela resolveu, para o bem da menor e vendo todo o meu sacrifício emocional e econômico, conceder a guarda provisória, o que é diferente de adoção. Ela, como juíza e como mãe, pensou: o que é melhor para a menina, ficar naquele abrigo ou com essa mãe?
Leia entrevista completa na edição impressa do Jornal do Commercio desta quarta-feira (11).
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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