Quinta, 10 Setembro 2015
Por WELISSON SILVA / Foto: Juan Diaz
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) “toda criança tem o direito de ser criada em uma família”. Porém, o que parece ser tão simples, na realidade, não é. São várias as que vivem em abrigos. São seres indefesos que foram abandonados pelos pais, alguns filhos de dependentes químicos que perderam o pátrio-poder. E que fizeram para estar assim? Simplesmente nasceram.
De acordo com o Cadastro Nacional de Adoção, o CNA, criado pelo Conselho Nacional de Justiça, o CNJ, existem quase 40 mil crianças e adolescentes vivendo em abrigos em todo o país. Destes, 5.240 estão aptos a serem adotados e esperam que a justiça defina seu destino: voltarem para a família biológica ou serem encaminhados para adoção.
Para conhecer melhor como vivem esses meninos e meninas, à espera de um lar, OPINIÃO acompanhou de perto, por algumas horas, o dia destas crianças, vítimas do descaso e do abandono dos pais.
EM RIO BRANCO, 37 GAROTINHOS ESPERAM POR UM LAR
Rita Batista, diretora-presidente do educandário Santa Margarida, diz que hoje existem pelo menos 37 crianças abrigadas na instituição. “Todas são muito dóceis e encantadoras”, elogia.
Aliás, sobre isso, muitas pessoas têm um pensamento equivocado ao achar que elas são coitadinhas. “Pelo contrário, são amadas, seres indefesos que necessitam do máximo carinho possível”.
“Como necessitam do máximo carinho possível, é valido ressaltar que damos todo o amor do mundo para que elas vejam e sintam que são importantes para nós”, discorre.
Rita Batista acredita que seu trabalho está mais para “vocação do que para profissão”. Ela conta que sua prática vai muito além das horas trabalhadas no educandário. “Levamos as suas histórias e os seus problemas até para casa, quando vamos cuidar dos nossos afazeres pessoais”, frisa.
ELAS SÓ QUERIAM UM LAR
Rita Batista acrescenta que o objetivo principal da instituição é trabalhar para que os abrigados voltem à família de origem, que sejam reinseridos na família extensa ou encaminhados para adoção no menor tempo possível.
“O melhor lugar para uma criança é na família, mas não pode ser qualquer uma; tem que ser numa família saudável, equilibrada. Por isso, é importante que antes de qualquer coisa, as pessoas tenham consciência de que adotar é um gesto de amor, mas que requer compromissos” diz.
AMOR É FUNDAMENTAL
Janete Andrade, psicóloga do educandário, ressalta que para trabalhar com essas crianças é preciso ter, acima de tudo, amor. Ainda segundo ela, por meio deste trabalho a pessoa se torna mais humana, facilitando o trabalho.
“Todos nós damos um acolhimento aconchegante que é chamado de familiar, mas apresenta uma estrutura de organização diferente da família. Aqui é uma comunidade gerida por vários adultos e profissionais que as amam incondicionalmente”, afirma a psicóloga.
A profissional acrescenta que, apesar de pequenas, a maioria das criancinhas que convivem na instituição sente a dor da rejeição. A história vivida por todas elas traz sentimentos muito intensos, pois, costumam se sentir rejeitados.
“Apesar de novas, elas já têm uma pequena consciência do que estão vivendo. Por isso, a experiência do abrigo precisa ser explicável e compreendido para elas. E é isto que nós procuramos fazer: dar muito amor, carinho e fazer o possível para que não existam mágoas futuramente”, frisa.
COMO FUNCIONA O EDUCANDÁRIO SANTA MARGARIDA
Rita Batista, a administradora do educandário, explica que ele é o único abrigo para crianças até doze anos em Rio Branco. A instituição atua como entidade de enfrentamento, de prevenção e de reinserção na família, de crianças vítimas do abandono, da negligência ou de violências, sejam físicas, sexuais ou psicológicas.
Elas são encaminhadas pela Vara da Infância e Juventude de Rio Branco e pelos Conselhos Tutelares, de acordo com o que manda as diretrizes do ECA.
“A proposta fundamental desse abrigo é fazê-lo o mais parecido possível com um lar, embora provisório. Ao mesmo tempo, desenvolve-se um trabalho de conscientização da comunidade quanto a sua responsabilidade social para com o próximo”, fala.
LOCAL JÁ SERVIU PARA DOENTES DA HANSENÍASE
O Educandário Santa Margarida é uma instituição filantrópica, cultural e de Assistência Social, fundada em 30 de agosto de 1942 e criada originalmente como Sociedade de Assistência aos Lázaros e na defesa contra a hanseníase em Rio Branco. A iniciativa foi da senhora Eunice Weaver, que assumira, com o presidente Getúlio Vargas, o compromisso de criar obras semelhantes à fundada em Minas Gerais e nos demais estados brasileiros. No Acre, além de Rio Branco, outro leprosário foi fundado em Cruzeiro do Sul.
Posteriormente, para atender a interesses da legislação, e, por deliberação da diretoria, ele teve alterado seu nome para Sociedade Eunice Weaver de Rio Branco, e, novamente para atender aos preceitos legais advindos com a aprovação do novo Código Civil de 2002, teve seu nome modificado, passando a denominar-se apenas educandário Santa Margarida.
Sua fundação veio para atender ao interesse sanitário. Qualquer pessoa que tivesse diagnosticada a existência da hanseníase, na época conhecida como lepra, era sumariamente excluída da comunidade e isolada em colônias para portadores dessa doença, onde ficavam até morrer.
A proposta fundamental desse abrigo é fazê-lo o mais parecido possível com um lar, embora provisório. Ao mesmo tempo, desenvolve-se um trabalho de conscientização da comunidade quanto a sua responsabilidade social para com o próximo.
O educandário Santa Margarida é, ainda, o espaço no qual as crianças retomam relações no processo educativo, novas formações e regras de convivência social, novos hábitos de higiene, saúde e alimentação, visando à melhor qualidade de vida. A instituição persegue e garante os direitos de seus acolhidos, segundo os princípios e premissas do Estatuto da Criança e do Adolescente.
OS PASSOS PARA A ADOÇÃO
Dirigir-se à Vara da Infância e Juventude da cidade mais próxima (ou ligar), para se informar quais documentos são necessários para dar entrada ao pedido.
Após levar todos os documentos, se aprovado em análise preliminar, o interessado em adotar é convocado para entrevista com psicólogo e assistente social. Neste momento, é possível informar as características que busca na criança: idade, sexo e tipo físico.
Se aprovado nessa fase, o interessado passa a integrar o cadastro de habilitados e está apto a adotar
O serviço social confrontará os dados fornecidos pelo interessado com o cadastro de crianças disponíveis para adoção; caso haja coincidência de dados, o interessado é avisado.
Avisado sobre a existência da criança, o pretendente pode encontrar-se com ela na Vara da Infância e Juventude ou em abrigo.
O juizado promoverá uma aproximação gradativa entre a criança e o candidato à adoção, chamado de estágio de convivência, que varia de caso a caso e é acompanho por equipe psicossocial e entrevistas periódicas.
A sentença judicial de adoção é lavrada ao terminar o estágio de convivência, em prazo estabelecido pelo juiz.
Matéria original disponível em: http://www.jornalopiniao.net/editorias/geral/3107-a-espera-de-um-lar-como-vivem-as-criancas-que-moram-no-santa-margarida
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