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Advogadas que adotaram juntam-se à Caarj na Caminhada pela Adoção, neste domingo
Três mulheres unidas por dois fatos em comum: são advogadas e mães adotivas. Para elas, a adoção foi um encontro de vidas transformador, uma vocação. Silvana do Monte Moreira, Ana Paula Monteiro e Dália Tayguara estarão, junto com os Eixos Social e Bem-estar da Caarj e grupos de apoio à causa na 6ª Caminhada da Adoção do Rio de Janeiro. O evento será neste domingo (24), na praia de Copacabana.
Pelo menos 5,7 mil crianças aguardam por uma família, no Cadastro Nacional de Adoção. Os dados, do Conselho Nacional de Justiça, mostram ainda um número que parece incongruente: 33,5 mil pessoas pleiteiam o direito à adoção. Para a diretora jurídica da Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção (Angaad), Silvana Moreira, ela mesma mãe natural de Carolina, 21 anos, e adotiva de Gabriela, 14, é preciso analisar e amadurecer o perfil da criança que se busca adotar, para reduzir este quadro. “A criança idealizada não existe. Não digo que se deva desistir de uma criança recém-nascida, saudável; mas que se busque o maior conhecimento das crianças reais: negras, pardas, mais velhas, com problemas de saúde, grupos de irmãos”, defende.
Dália buscou justamente esta escolha. Sua primeira filha, Daísa, hoje com 11 anos, foi adotada aos cinco, e sua segunda, Thamara, hoje com 14 anos, foi adotada quando tinha 12. “Em razão do perfil escolhido para a primeira criança, não ficamos muito tempo na fila. Nos habilitamos em julho de 2009 e em agosto ela nos foi indicada. A segunda nem tinha requerentes, por conta da idade”, relata Dália, que vive uma relação homoafetiva há 20 anos. Coordenadora do Grupo de Apoio à Adoção de Paracambi, Ana Paula Monteiro também aumentou o leque de opções ao se cadastrar no CNA. Sua espera levou nove meses, tempo necessário para a chegada de Bárbara, hoje com 3 anos e 11 meses. Ao se cadastrar, ela, que é solteira, não só colocou como indiferentes quesitos como sexo e cor, como também que aceitava crianças com doenças ou HIV. Este era o caso de Bárbara, que foi exposta ao vírus da Aids após ter sido amamentada por sua genitora – a menina já está negativada. “Com amor é possível superar tudo: os entraves burocráticos, a espera angustiante, a incerteza”, garante.
Além da questão da definição do padrão, a qualificação e o aumento do contingente de pessoal também foram ressaltados como necessidades para se ter avanços nesta área. Ana Paula cita a morosidade do Judiciário como o principal obstáculo encarado durante o processo. “Isso acontece, seja por não termos juízes vocacionados, seja pela falta de profissionais técnicos”, critica. Silvana completa e defende a criação de varas exclusivas em matéria de infância, que “não acumulem competências outras que colidam com a prioridade absoluta e com o melhor interesse da criança”. “Não é possível que processos de habilitação, adoção e destituição do poder familiar fiquem acumulados por meses por falta de técnicos para os respectivos estudos”, frisa.
Dália sentiu na pele os efeitos desta demora. Apesar de ter encontrado sua primeira filha rapidamente, o processo de conclusão da adoção foi lento: por conta da destituição do poder familiar, os trâmites levaram cinco anos para serem concluídos. “Vários fatores precisam mudar para agilizar o processo de adoção, tais como o fim das adoções ‘à brasileira’, melhor orientação às gestantes sobre entrega voluntária, agilidade nos processos de destituição familiar. A adoção precisa sair do patamar de filiação de segunda classe”, argumenta. Este, aliás, é um desejo comum às outras duas mães. “Que nossas crianças, ainda cobertas pelo manto da invisibilidade, se tornem filhos e filhas reais”, sonha Silvana. “O mais importante é termos disponibilidade para amar. Minha filha é a melhor parte da minha vida”, acrescenta Ana Paula.
http://caarj.org.br/2015/05/19/simplesmente-maes/
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