POLÍCIA MINEIRA VAI INVESTIGAR SITE EM QUE USUÁRIOS OFERECEM CRIANÇAS PARA ADOÇÃO
13/09/2013
Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília
A suspeita de que uma mulher presa nessa quarta-feira (11), na região
metropolitana de Belo Horizonte (MG), pode estar ligada a um esquema de
tráfico de crianças levou a Polícia Civil de Minas Gerais a identificar
um site, usado por pessoas de todo o país, no qual informam estar
interessadas em doar ou adotar uma criança. A suspeita é que, para não
ter que esperar pela vez no Cadastro Nacional de Adoção, alguns dos
usuários do site Quero Doar acabam por infringir a lei, acertando a
adoção entre si, em vez de recorrer à Vara da Infância e da Juventude.
Segundo o delegado Tito Barichello, da 3ª Delegacia de Polícia Civil de
Betim (MG), um inquérito será instaurado nos próximos dias para apurar a
atuação dos responsáveis pelo site. “Há indícios [de crime] ainda
superficiais, mas que, a meu ver, apontam para, no mínimo, um ilícito
civil. As adoções de crianças não se fazem assim”, disse o delegado à
Agência Brasil.
“Há todo um trâmite legal que precisa ser cumprido e
aos administradores do site caberia fiscalizar e impedir que ele fosse
usado para atividades ilícitas”, acrescentou o delegado, classificando
as mensagens encontradas como “no mínimo, imorais, por tratarem da
negociação de uma criança como se fosse um objeto”.
De acordo com o
delegado, a empresária Eliane Cristina Gonçalves Azzi, detida em
flagrante na quarta-feira, conheceu Janaína Carvalho, de 24 anos, após
esta ter deixado no site Quero Adotar uma mensagem informando que, por
falta de condições financeiras, daria o filho que estava prestes a
nascer.
Uma pessoa usando pseudônimo entrou em contato com Janaína e
negociou a doação. Para viabilizar a entrega da criança, sem o
cumprimento dos procedimentos legais, Janaína internou-se no Hospital
Regional de Betim usando os documentos da advogada Selena Castiel
Gualberto, a quem, supostamente, Eliane entregaria a criança. Segundo as
investigações preliminares, foi Eliane quem entregou a Janaína os
documentos de Selena. Ao ser interrogada, Eliane negou ter intermediado o
acordo em troca de dinheiro. Em seu celular, a polícia encontrou
mensagens que sugerem o envolvimento de outras pessoas.
A empresária
mineira continua presa. A Agência Brasil não conseguiu falar com nenhum
parente ou representante legal dela, nem com as outras duas mulheres
envolvidas. O delegado diz ter conversado com os advogados de Selena e
garante que, caso ela não se apresente até segunda-feira (16), pedirá
sua prisão preventiva.
A reportagem enviou mensagens aos
administradores do Quero Doar, mas, até o momento, não obteve respostas.
Após o caso de Betim ter se tornado público, o site passou a exibir uma
mensagem na qual se lê que “é crime oferecer ou adotar uma criança em
troca de dinheiro ou sem passar pelo Juizado da Infância e da Juventude.
Uma criança só pode ser adotada seguindo os meios legais”.
Aparentemente, o site foi criado para que as pessoas interessadas em
doar um objeto qualquer pudessem encontrar quem se interessasse em
receber. Uma rápida pesquisa, no entanto, revela que, há tempos, boa
parte das mensagens postadas trata exclusivamente da doação de crianças.
Uma das usuárias contou que chegou ao site pesquisando na internet e
que, após postar um anúncio informando a intenção de adotar uma menina,
foi surpreendida por mensagens com seu nome e número de telefone dizendo
que ela queria doar uma criança.
“Eu vi um monte de gente
procurando crianças e, por isso postei o anúncio dizendo que queria
adotar. Tem, inclusive, gente dizendo que há crianças cadastradas há
quatro anos à espera de adoção. Depois, alguém colocou outro anúncio
usando meu número de telefone [e nome] e dizendo que queria doar uma
criança. Agora, tem muita gente me ligando interessada em adotar, mas eu
expliquei que isso foi um grande mal-entendido e que eu não faria nada
fora da lei”, disse a moradora de Belo Horizonte, afirmando estar há
pelo menos seis meses tentando adotar legalmente uma criança.
“[No
site] Eu não quero que entregue a criança para mim. Quero só que a
pessoa me avise que vai entregar ao Conselho Tutelar ou aos órgãos
competentes para eu resolver com eles. De outra forma não, porque depois
podem dizer que eu raptei a criança ou até exigir ela de volta”, disse a
mulher, contando ser mãe de três filhos homens, o mais novo com 12
anos.
Criado há cinco anos, o Cadastro Nacional de Adoção é
administrado pela Corregedoria Nacional de Justiça, órgão do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ). Segundo os dados fornecidos pelos juizados de
Infância e Juventude, há, hoje, 5.487 crianças inscritas para serem
adotadas e 29.886 famílias interessadas em adotar. Do total de
interessados em adotar uma criança, 9.256 só aceitam crianças brancas;
24.124 não aceitam adotar irmãos e o número de interessados vai
diminuindo conforme as crianças vão ficando mais velhas.
O CNJ tem um guia disponível na internet para que os interessados em adotar uma criança saibam como proceder.
GUIA
http://www.cnj.jus.br/images/programas/cadastro-adocao/guia-usuario-adocao.pdf
http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-09-13/policia-mineira-vai-investigar-site-em-que-usuarios-oferecem-criancas-para-adocao
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