19 de junho de 2016
Assim, Gilmar, Gislaine e Gisele, hoje com 22 anos, foram acolhidos como irmãos dos filhos biológicos do casal, a relações públicas Monica e o industriário Ciro, hoje com 41 e 33 anos, respectivamente. “Foi um período bem intenso e movimentado. De uma hora para outra, três crianças precisando de auxílio, carinho e cuidados. Mobilizou a família inteira, amigos e muitas pessoas que nem conhecíamos. Recebemos doações de roupas, utensílios de higiene de parentes, amigos, pessoas da vizinhança, mães de leite, instituições religiosas, acompanhamento de médicos da Cidade, doações de leite e fraldas de empresas e supermercados”, lembra Olimpia.
A rotina foi afetada em todos os sentidos, já que os bebês precisam de atenção 24 horas por dia e, com a desnutrição, era necessário amamentá-los de meia em meia hora. “Isso fazia com que as noites fossem bem mais longas e todas as atividades que envolvem um recém-nascido, como troca de fraldas, banhos, hora de dormir, tudo era multiplicado por três. Muitas vezes, quando achávamos que os três estavam dormindo, um chorava e acordava os outros dois. A estrutura física da casa também não estava preparada para a vinda de três crianças, então por um tempo, as coisas foram compartilhadas, como berço e armários, até termos condições de adquirir três carrinhos, três berços”, explica a mãe.
Mas hoje, duas décadas depois, a realidade é outra. Gilmar formou-se em técnico em Informática, Gislaine é técnica em Enfermagem e Gisele está estudando. “A adoção é um ato de amor incondicional, que surge de repente e faz com que aquele ser humano se torne parte das nossas vidas. As alegrias e sofrimentos são compartilhados com a mesma intensidade de alguém que tenha nascido no mesmo seio familiar, e com o tempo, a palavra adoção nem faz mais parte de nosso vocabulário. Somos membros de uma família, nos apegamos, nos completamos e vivemos nossa trajetória familiar independentemente de como se iniciou essa história de amor”, conclui Monica.
“Foi uma decisão feliz, faríamos tudo de novo com muito amor. Hoje, além de irmãos, eles são amigos e companheiros, e trazem alegria e amor à família. Houve o fortalecimento do núcleo familiar que existia, antes da vinda deles, que agregaram valores ao convívio que já prezava a harmonia e o bem comum e, mais do que nunca, a união, respeito e amor foram condições extremamente valorizadas na família”, avalia Monica.
“Apesar de ficarmos três anos esperando, ela chegou de supetão. O Fórum entrou em contato conosco em 27 de janeiro e estávamos em Taubaté, atendendo um cliente. Na hora, perdi o chão e me perguntei: ‘E agora? O que eu faço?’ Liguei para minha mãe e para minha sogra, que providenciou o primeiro enxoval, o Eduardo comprou o carrinho e, em três dias montamos o quarto, com berço, banheira, guarda-roupa, mamadeira e tudo mais. No dia 30 fomos ao Fórum de manhã e, quando a conhecemos, ficamos sem reação. Como diz o Eduardo, é como esvaziar totalmente uma piscina e os sentimentos começam a brotar do novo. É o amor que vai se construindo todos os dias”, explica Silvana.
Casados há 19 anos, eles decidiram primeiramente se dedicar à carreira profissional, conquistar a casa própria e viajar. Quando planejaram ter filhos, Silvana fez tratamentos, não conseguiu engravidar e, há três anos, entraram na fila da adoção na Cidade. “Fomos tocando a vida nós dois, mas com o tempo, sentimos que estava faltando algo. Ele já falava da adoção há 8 anos, mas isso não era algo fácil para mim até o dia em que, na sala de TV, comecei a sentir uma angústia, um vazio, e fiquei me questionando. Chamei o Eduardo e disse que era o momento de falarmos sobre adoção. Fomos ao Fórum, levamos a documentação, fizemos entrevistas juntos e sozinhos com a equipe de assistência social, apresentamos fotos da nossa casa, assistimos a vídeo e palestra e o processo foi para o juiz. Entramos na fila em 2012 e ela chegou em janeiro de 2015”, lembra Silvana.
Como desde 2014, Silvana divide com o marido o comando da empresa de treinamento e desenvolvimento Z Trainning, precisou reduzir o ritmo de trabalho para dar prioridade à Maria Vitória, hoje com 1 ano e meio. “No início, quando ela dormia, levava a babá eletrônica ao escritório e trabalhava. Quando ela acordava, cuidava dela. Já fomos acompanhá-lo em algumas viagens, mas enquanto ele faz as palestras, aproveitamos o passeio. Ela veio em uma fase de preenchimento, para nos acalentar o coração, após a perda do meu sogro, e envolveu toda a família e os amigos”, conta Silvana.
Segundo ele, há ainda outros menores de 18 anos acolhidos, mas não disponíveis para adoção porque aguardam reinserção na família de origem (pai e/ou mãe) ou extensa (tios, primos, avós, irmãos) ou ainda a conclusão do processo de destituição do poder familiar. “Neste último caso, os pais perdem o direito de serem pais, através de decisão judicial, deixando os caminhos dos filhos acolhidos livres para futuro acionamento do cadastro de adoção pela ordem cronológica, onde há casais com idades variáveis, sendo frequente os mais maduros, de diversos níveis sócio-econômicos, etnias e escolaridade. São casais heterossexuais, homoafetivos em razão de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), famílias recompostas e solteiros”, detalha do juiz.
No momento, Mogi tem um casal homoafetivo à espera de adoção. “Os inscritos são contatados pela ordem cronológica de habilitação ao cadastro. Os casais homoafetivos são mais flexíveis em relação a restrições, como pouca idade ou etnia da criança, afirmando interesse também por adoções tardias e sem restrição à origem étnica da criança ou adolescente”, enfatiza, lembrando que o tempo de espera é definido pelo perfil da criança pretendida, sendo que os interessados naquelas mais velhas, com problemas de saúde ou grupo de irmãos aguardam menos tempo para adotar.
No entanto, Perini avalia que a preferência por crianças de até 3 anos de idade, de pele clara e sadios não é questão de egoísmo, mas sim um paradigma a ser quebrado e uma questão cultural que apenas poderá ser modificada por meio de campanhas sobre o tema. “Já estamos avançando nisso, apesar da velha discussão sobre eugenia e racismo ainda não ter saído de pauta na sociedade. Não é possível que deixemos apenas aos europeus essa possibilidade, na modalidade de adoção internacional, por exemplo em casos de adoções tardias (crianças com mais idade ou adolescentes) ou mesmo grupo de irmãos. Já tivemos alguns casos de adoção de criança nascida com deficiência ou mesmo com doenças que poderiam deixar sequelas, mas que não tiveram mais problema algum”, aponta, acrescentando que esta preferência reflete na fila de adotantes que acabam esperando uma criança por mais tempo e também estende o tempo de estadia de crianças e adolescentes nas instituições de acolhimento – Lar Batista de Crianças, Instituto Social O Caminho da Vida (Obede Edom), Casa da Criança Municipal, Associação Beneficente de Renovação e Assistência à Criança (Abrac), Instituição de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (Renovação) e Associação São Lourenço -, onde ficam sem expectativa de família substituta para serem inseridas. Associação São Lourenço
Por fim, Perini lembra que a adoção tem por pressuposto o afeto, que deve ser recíproco entre adotante e adotando. “Na prática, este é que deve ´adotar´ aquele, o que passa pelo estágio de convivência, surgindo a vinculação afetiva. Adotar alguém vai além do ato de amor, exige o preparo para mudança de vida, alimentação, cuidado e proteção de uma pessoa ainda em formação. Estamos vivendo a judicialização do afeto. Adoção, afeto e felicidade é a ordem constitucional. E não podemos esquecer que o afeto não tem idade”, conclui. (Carla Olivo)
Se a adoção é um ato de amor, este sentimento foi multiplicado por três na vida da família Lamberti. Em abril de 1994, com o filho caçula já adolescente e a mais velha na universidade, o casal Olimpia Amaral Lamberti e Ciro Lamberti, moradores do Mogi Moderno, em Mogi das Cruzes, decidiram salvar a vida de três irmãos recém-nascidos em Guararema. Os pais biológicos dos trigêmeos e de mais quatro filhos não tinham condições de cuidar dos bebês, que corriam risco de morte devido ao frágil estado de saúde agravado pela desnutrição. Esta é uma das histórias que O Diário publica hoje sobre a relação de amor construída dia a dia por quem oferece ou recebe um novo lar. Atualmente, o cadastro da Vara da Infância e Juventude do Fórum de Mogi tem 57 casais e 22 crianças e adolescentes nesta expectativa.
“Eles estavam com 2 meses de idade e se não fossem adotados naquele momento, iriam para o Juizado e poderiam ser separados. Para que isso não acontecesse, decidimos adotar os três”, conta Olimpia, hoje aposentada e com 65 anos, que teve o apoio do marido, Ciro, atualmente com 71 e também aposentado, além de toda a família.
Assim, Gilmar, Gislaine e Gisele, hoje com 22 anos, foram acolhidos como irmãos dos filhos biológicos do casal, a relações públicas Monica e o industriário Ciro, hoje com 41 e 33 anos, respectivamente. “Foi um período bem intenso e movimentado. De uma hora para outra, três crianças precisando de auxílio, carinho e cuidados. Mobilizou a família inteira, amigos e muitas pessoas que nem conhecíamos. Recebemos doações de roupas, utensílios de higiene de parentes, amigos, pessoas da vizinhança, mães de leite, instituições religiosas, acompanhamento de médicos da Cidade, doações de leite e fraldas de empresas e supermercados”, lembra Olimpia.
A rotina foi afetada em todos os sentidos, já que os bebês precisam de atenção 24 horas por dia e, com a desnutrição, era necessário amamentá-los de meia em meia hora. “Isso fazia com que as noites fossem bem mais longas e todas as atividades que envolvem um recém-nascido, como troca de fraldas, banhos, hora de dormir, tudo era multiplicado por três. Muitas vezes, quando achávamos que os três estavam dormindo, um chorava e acordava os outros dois. A estrutura física da casa também não estava preparada para a vinda de três crianças, então por um tempo, as coisas foram compartilhadas, como berço e armários, até termos condições de adquirir três carrinhos, três berços”, explica a mãe.
Mas hoje, duas décadas depois, a realidade é outra. Gilmar formou-se em técnico em Informática, Gislaine é técnica em Enfermagem e Gisele está estudando. “A adoção é um ato de amor incondicional, que surge de repente e faz com que aquele ser humano se torne parte das nossas vidas. As alegrias e sofrimentos são compartilhados com a mesma intensidade de alguém que tenha nascido no mesmo seio familiar, e com o tempo, a palavra adoção nem faz mais parte de nosso vocabulário. Somos membros de uma família, nos apegamos, nos completamos e vivemos nossa trajetória familiar independentemente de como se iniciou essa história de amor”, conclui Monica.
“Foi uma decisão feliz, faríamos tudo de novo com muito amor. Hoje, além de irmãos, eles são amigos e companheiros, e trazem alegria e amor à família. Houve o fortalecimento do núcleo familiar que existia, antes da vinda deles, que agregaram valores ao convívio que já prezava a harmonia e o bem comum e, mais do que nunca, a união, respeito e amor foram condições extremamente valorizadas na família”, avalia Monica.
Maria Vitória, o sonho de dois mogianos
Após três anos de espera, a bióloga e coaching vocacional Silvana Valverde Stiliano Zugaib, 52, e o publicitário e palestrante Carlos Eduardo Ribeiro Zugaib, 43, receberam a notícia de que seriam pais, em três dias montaram o enxoval e o quarto da recém-nascida, fizeram as lembrancinhas para entregar às visitas e trouxeram a recém-nascida para casa. A mogiana Maria Vitória Stiliano Zugaib nasceu em 8 de dezembro de 2014 e foi adotada pelo casal no dia 30 de janeiro de 2015.
“Apesar de ficarmos três anos esperando, ela chegou de supetão. O Fórum entrou em contato conosco em 27 de janeiro e estávamos em Taubaté, atendendo um cliente. Na hora, perdi o chão e me perguntei: ‘E agora? O que eu faço?’ Liguei para minha mãe e para minha sogra, que providenciou o primeiro enxoval, o Eduardo comprou o carrinho e, em três dias montamos o quarto, com berço, banheira, guarda-roupa, mamadeira e tudo mais. No dia 30 fomos ao Fórum de manhã e, quando a conhecemos, ficamos sem reação. Como diz o Eduardo, é como esvaziar totalmente uma piscina e os sentimentos começam a brotar do novo. É o amor que vai se construindo todos os dias”, explica Silvana.
Casados há 19 anos, eles decidiram primeiramente se dedicar à carreira profissional, conquistar a casa própria e viajar. Quando planejaram ter filhos, Silvana fez tratamentos, não conseguiu engravidar e, há três anos, entraram na fila da adoção na Cidade. “Fomos tocando a vida nós dois, mas com o tempo, sentimos que estava faltando algo. Ele já falava da adoção há 8 anos, mas isso não era algo fácil para mim até o dia em que, na sala de TV, comecei a sentir uma angústia, um vazio, e fiquei me questionando. Chamei o Eduardo e disse que era o momento de falarmos sobre adoção. Fomos ao Fórum, levamos a documentação, fizemos entrevistas juntos e sozinhos com a equipe de assistência social, apresentamos fotos da nossa casa, assistimos a vídeo e palestra e o processo foi para o juiz. Entramos na fila em 2012 e ela chegou em janeiro de 2015”, lembra Silvana.
Como desde 2014, Silvana divide com o marido o comando da empresa de treinamento e desenvolvimento Z Trainning, precisou reduzir o ritmo de trabalho para dar prioridade à Maria Vitória, hoje com 1 ano e meio. “No início, quando ela dormia, levava a babá eletrônica ao escritório e trabalhava. Quando ela acordava, cuidava dela. Já fomos acompanhá-lo em algumas viagens, mas enquanto ele faz as palestras, aproveitamos o passeio. Ela veio em uma fase de preenchimento, para nos acalentar o coração, após a perda do meu sogro, e envolveu toda a família e os amigos”, conta Silvana.
Cadastro de Mogi possui 22 crianças e 57 casais
Na Cidade, 22 crianças e adolescentes, sendo grupos de irmãos com idades variadas e situação legal definida, esperam por adoção na Cidade. Enquanto isso, 57 casais habilitados na Comarca local aguardam a participação em curso e avaliação psicológica e social. As informações são do juiz Gioia Perini, da Vara da Infância e Juventude do Fórum de Mogi das Cruzes.
Segundo ele, há ainda outros menores de 18 anos acolhidos, mas não disponíveis para adoção porque aguardam reinserção na família de origem (pai e/ou mãe) ou extensa (tios, primos, avós, irmãos) ou ainda a conclusão do processo de destituição do poder familiar. “Neste último caso, os pais perdem o direito de serem pais, através de decisão judicial, deixando os caminhos dos filhos acolhidos livres para futuro acionamento do cadastro de adoção pela ordem cronológica, onde há casais com idades variáveis, sendo frequente os mais maduros, de diversos níveis sócio-econômicos, etnias e escolaridade. São casais heterossexuais, homoafetivos em razão de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), famílias recompostas e solteiros”, detalha do juiz.
No momento, Mogi tem um casal homoafetivo à espera de adoção. “Os inscritos são contatados pela ordem cronológica de habilitação ao cadastro. Os casais homoafetivos são mais flexíveis em relação a restrições, como pouca idade ou etnia da criança, afirmando interesse também por adoções tardias e sem restrição à origem étnica da criança ou adolescente”, enfatiza, lembrando que o tempo de espera é definido pelo perfil da criança pretendida, sendo que os interessados naquelas mais velhas, com problemas de saúde ou grupo de irmãos aguardam menos tempo para adotar.
No entanto, Perini avalia que a preferência por crianças de até 3 anos de idade, de pele clara e sadios não é questão de egoísmo, mas sim um paradigma a ser quebrado e uma questão cultural que apenas poderá ser modificada por meio de campanhas sobre o tema. “Já estamos avançando nisso, apesar da velha discussão sobre eugenia e racismo ainda não ter saído de pauta na sociedade. Não é possível que deixemos apenas aos europeus essa possibilidade, na modalidade de adoção internacional, por exemplo em casos de adoções tardias (crianças com mais idade ou adolescentes) ou mesmo grupo de irmãos. Já tivemos alguns casos de adoção de criança nascida com deficiência ou mesmo com doenças que poderiam deixar sequelas, mas que não tiveram mais problema algum”, aponta, acrescentando que esta preferência reflete na fila de adotantes que acabam esperando uma criança por mais tempo e também estende o tempo de estadia de crianças e adolescentes nas instituições de acolhimento – Lar Batista de Crianças, Instituto Social O Caminho da Vida (Obede Edom), Casa da Criança Municipal, Associação Beneficente de Renovação e Assistência à Criança (Abrac), Instituição de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (Renovação) e Associação São Lourenço -, onde ficam sem expectativa de família substituta para serem inseridas. Associação São Lourenço
No caso de adoções informais, o juiz alerta que quando a Justiça toma conhecimento destes casos, na maioria das vezes a medida a ser tomada é drástica e dolorosa, com a busca e apreensão da criança e preparação para inserção em família substituta, mas daquelas que aguardam na fila do cadastro de adoção da Comarca. “Para evitar sofrimentos indesejados, a melhor solução é que a pessoa ou casal interessado em adotar procure a Vara da Infância e Juventude para que possa tomar conhecimento dos requisitos legais e documentos necessários a fim de adotar dentro da lei”, orienta.
Por fim, Perini lembra que a adoção tem por pressuposto o afeto, que deve ser recíproco entre adotante e adotando. “Na prática, este é que deve ´adotar´ aquele, o que passa pelo estágio de convivência, surgindo a vinculação afetiva. Adotar alguém vai além do ato de amor, exige o preparo para mudança de vida, alimentação, cuidado e proteção de uma pessoa ainda em formação. Estamos vivendo a judicialização do afeto. Adoção, afeto e felicidade é a ordem constitucional. E não podemos esquecer que o afeto não tem idade”, conclui. (Carla Olivo)
Original disponível em: http://odiariodemogi.com.br/adocao-prova-de-amor-incondicional/
Reproduzido por: Lucas H.
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