segunda-feira, 11 de julho de 2016

Mais de 4 mil crianças e adolescentes já ganharam um padrinho afetivo no Brasil (Reprodução)

09/07/2016

Por Pedro Durán

Aos nove anos de idade, Maria Aparecida Neves perdeu a mãe - que estava grávida - e morreu por uma infecção generalizada.
No ano seguinte, quando tinha dez anos, o pai de Maria foi condenado a ficar preso por sete anos.
Logo depois, quando ela completou 11 anos, a justiça determinou que ela e os irmãos fossem para um abrigo.

Hoje, Maria tem 30 anos e acabou de se tornar mãe. Ela diz que encarar o destino e chegar até aqui só foi possível porque nesse abrigo, ganhou um padrinho.

"Hoje, minha cabeça já é outra, é diferente né, depois de ter ganhado padrinho. Eu me sinto bem melhor, muito feliz mesmo. Se não fosse esse padrinho mesmo, eu não sei o que seria de mim mesmo. E se um dia eu pudesse também, fazer parte de ser padrinho, eu seria também padrinho. Eu acho que cada um merece ter uma chance pra ter alguém na vida. O significado de pai pra mim eu não conheço, então eu falo que ele é pai e mãe pra mim. E me ajuda até hoje, nunca deixou de me ajudar”, conta Maria.

Diferentemente da adoção, no apadrinhamento afetivo, o adulto cria um vínculo com a criança, até pode levar ela para passear, acompanhar na escola ou no hospital, mas não tem a guarda, apenas uma espécie de responsabilidade temporária. Os pré-requisitos variam de acordo com a cidade, mas em geral é preciso fazer uma espécie de treinamento para ser padrinho. Das 6.811 pessoas que esperam para ser adotadas, 3.555 tem mais de 12 anos. São adolescentes que muito provavelmente não encontrarão nem pai e nem mãe e, portanto são o principal foco desse tipo de projeto.

A juíza Dora Martins, responsável por um projeto piloto em São Paulo, explica que o laço estabelecido entre padrinhos e afilhados é fundamental quando os adolescentes se tornam adultos e ficam em uma situação delicada.

"Uma situação de abandono emocional porque você tá com 18 anos, você vai sair para o mundo sem ter uma referência afetiva, sem ter alguém que goste de você, que cuide de você, que zele por você psicologicamente. Sabe uma referência de você poder ligar para alguém pra pedir uma opinião, de você ligar num domingo à tarde? Então a construção desse projeto de apadrinhamento visa essas crianças, essas crianças que não tem chances de ser adotadas", explica a juíza.

Maria Aparecida foi apenas uma de muitos afilhados de Laércio. Ele perdeu as contas de quantas crianças já ganharam dele tempo e abraços. Para dar conta de levar grupos de até 80 crianças e adolescentes para sua chácara, no interior de estado, ele convenceu a família e os amigos a se tornarem uma rede de apoiadores dessa iniciativa voluntária.

"Meu coração é do tamanho que cabe todas as crianças desse mundo, né? Se eu pudesse abraçar o mundo inteiro, se pudesse ajudar, né?! Fazer um carinho, brincar...".

- Te faz melhor?

"Ô, com certeza! Eu sou uma pessoa feliz de poder fazer isso. A dica do mundo é abrir o coração e fazer alguma coisa pra alguém. Não só criança, qualquer pessoa que necessita, né? Faz a diferença na vida da gente, com certeza".

Em algumas cidades, em especial as pequenas, o apadrinhamento afetivo ainda é tímido. Nas capitais, como Porto Alegre, a iniciativa funciona melhor. Foi lá que a técnica em enfermagem Leticia da Costa e seu marido João Marcos escolheram como afilhado o pequeno Gabriel, quando ele tinha 5 anos de idade. Como ele, uma a cada quatro crianças que moram em abrigos têm problemas de saúde - no caso dele, a paralisia cerebral, que limita a fala e os movimentos. Foi por conta disso que o casal resolveu comprar um apartamento no térreo e mudar a rotina. Três anos depois, quando o menino já tinha se tornado o centro da vida do casal, o apadrinhamento virou adoção e Gabriel honrou o nome de anjo na vida do jovem casal.

"Tudo. Ele é tudo. Tudo que a gente faz, tudo que a gente pensa é em função dele, não tem o que dizer, sabe? Ele tá aqui rindo pra mim! Ele é tudo na nossa vida, sabe? A nossa vida gira em torno dele. Ele nos trouxe muita alegria, muita vontade de viver. E tudo que a gente faz, a gente adquiriu um imóvel em função dele, a gente estuda em função dele. Tudo em função dele, de dar uma vida melhor pra ele. A gente brinca que o Gabriel foi uma gravidez não planejada né, porque ele apareceu na nossa vida e tomou conta”, conta Leticia.

Confira abaixo lista de abrigos que têm projeto de apadrinhamento ativo:
Cidade dos Meninos
Governador Valadares (MG)
cidadedosmeninosgv@hotmail.com
http://www.cidademeninos.org.br
Lar Paulo de Tarso
Recife (PE)
larpaulodetarso@yahoo.com.br
http://www.iclarpaulodetarso.org.br
Abrigo Jesus Menino
Recife (PE)
abrigojesusmenino@gmail.com
https://www.facebook.com/abrigojesusmenino
Lar Vinícius
São Paulo (SP)
tecnicas@larvinicius.org.br
http://larvinicius.org.br
Guardinha
Campinas (SP)
guardinha@guardinha.org.br
http://guardinha@guardinha.org.br
Casa de Apoio de Contagem
Contagem (MG)
casadeapoio@casadeapoio.org.br
http://www.casadeapoio.org.br
Chácara Meninos 4 Pinheiros
Curitiba (PR)
marjorye03@hotmail.co.uk
http://www.4pinheiros.org.br/
Lar Maria Dolores e Meimei
Duque de Caxias (RJ)
mariadoloresemeimei@uol.com.br
Abrigo de Menores AMAM
Arroio do Meio (RS)
abrigors@hotmail.com
Abrigo João Paulo II
Porto Alegre (RS)
http://www.abrigojoaopauloii.org.br
4000@pobresservos.org.br
Lar Mãe Maria
São José dos Pinhais (PR)
irnarcisa@yahoo.com.br
Lar Batista de Crianças
São Paulo (SP)
contato@larbatista.com.br 
http://www.larbatista.com.br
Lar Escola Pequeno Leão
São Bernardo do Campo (SP)
pequenoleao@outlook.com
Fundação Casa Aberta
São Leopoldo (RS)
casaaberta@brturbo.com.br
http://fundacaocasaaberta.blogspot.com.br
Amigos do Lucas
Porto Alegre (RS)
presidencia@amigosdelucas.org.br
http://amigosdelucas.org.br
Aconchego
Brasília (DF)
contatos@aconchegodf.org.br
http://aconchegodf.org.br
Abrigo Amanhecer Amparo
Rio de Janeiro (RJ)
abrigoamanheceramparo@yahoo.com.br

Reproduzido por: Lucas H.


 

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