Sexta-feira, 18 de dezembro 2015
GYLMAR CHAVES
Especial para O Estado
Visto do espaço, o céu se mostra com a cor negra, enquanto nosso planeta se apresenta com a cor azul, devido os 71% da superfície da Terra ser composta por extensões líquidas, provenientes dos mares e oceanos.
Nosso olhar em direção ao céu capta a cor azul. É uma doação do sublime, como a história de Adoção realizada pelo casal Massimo Baraglia, italiano de Roma, e de sua esposa, a cearense Lilissane Monteiro de Barros, pais dos filhos adotivos, Ana Clara Barros Baraglia (6 anos), Paulo Victor Barros Baraglia (5 anos), e do filho biológico, Caique Barros Baraglia (3 anos), pois o azul do céu é um só em qualquer espaço geográfico do planeta.
Do bairro fortalezense da Serrinha, eles se unem em torno de um mundo repleto de compromissos profissionais, desejos e afetos:
Meu esposo trabalha em Organizações Não Governamentais-ONGs. Ele veio da Itália como voluntário para trabalhar com projetos sociais. Eu sou professora de Geografia. E quando percebemos que a cada dia nossa relação ficava mais séria, passamos a falar sobre filhos. O Massimo comentava: “Os filhos podem ser biológicos, podem não ser biológicos”, aproveitando o momento para me relatar sobre algumas experiências de casais com filhos adotivos que conhecia.
Nessas conversas eu também manifestava de não fazer para mim a mínima diferença. O importante era construir uma família. Que vissem filhos biológicos, filhos adotivos.
Decididos em adotar uma criança, procuraram o Fórum e começaram a dar entrada nos documentos necessários, sem jamais imaginarem que o futuro iria surpreendê-los:
No cadastro nacional de adoção optamos por um perfil que poderia ser até cinco anos de idade, ser dois se fossem irmãos, independente de sexo, de raça. Mas, caso houvesse doenças, que fossem tratáveis.
Passados alguns meses descobri que estava grávida, e o nosso processo de adoção foi concomitante a gestação biológica.
No decorrer, nosso filho Caíque nasceu, e ficamos somente numa família de três durante quase dois anos, até recebermos um telefonema do Fórum informando sobre duas crianças, Ana Clara e Paulo Victor, irmãos disponíveis para a adoção dentro das nossas expectativas conforme constava em nosso cadastro.
Massimo e Lilissane, de dois se fizeram três, e se debruçaram sobre os acenos da vida para se tornarem cinco, uma família muito mais que nuclear.
Ana Clara e Paulo Victor se encontravam no abrigo Casa de Jeremias, e em companhia da Assistente Social do Fórum, Massimo e Lilissane se dirigiram para lá:
Ao vê-los não tivemos dúvidas que estavam dentro do perfil que havíamos escolhido. Então, nada nos impedia a aproximação. Tudo iria depender da construção desse vínculo inicial, e como eles também iam nos receber. Planejamos fazer todo esse processo de aproximação com bastante calma. No primeiro dia ficamos observando e conversando sobre a história deles, e perceber como se comportavam com as demais crianças.
Há nos grandes encontros sempre a possibilidade de profundas compreensões, a doação dourada que o tempo exige, a fruição dos primeiros passos em direção ao amor. Assim, também se fertiliza o instinto materno:
Passados uns dois meses, fizemos com eles os primeiros passeios. O ritmo depende muito do casal e das crianças. Sentimos logo que a Ana e o Paulo Victor eram bastante receptivos, afetuosos, e isso já nos deixou surpresos. Apesar de eles ficarem felizes com a nossa presença, também demonstravam medo, certa resistência, principalmente porque eles vivenciaram a figura da mãe biológica, e das cuidadoras do abrigo, que naturalmente acabam substituindo a figura materna.
Não demorou muito para Massimo e Lilissane serem chamados por Ana Clara e Paulo Victor de pai e de mãe, mesmo de forma tímida, ainda um pouco receosos:
Na primeira vez que saímos do abrigo permanecemos todos juntos durante o decorrer do dia. Somente no final de semana seguinte eles dormiram conosco. Tudo com bastante cuidado para a gente perceber como eles se sentiam.
Com o tempo, começamos a constatar que eles ficavam um pouco confusos com esse vai e volta do abrigo, principalmente quando nos despedíamos deles.
No encontro de Ana Clara e Paulo Victor com o Caíque presenciamos logo laços de amizade. O contato deles com crianças menores que se encontravam no abrigo facilitou tudo isso. Lá, eles brincavam juntos. Mesmo sendo maiores, desenvolveram o impulso interior em ajudar os menores. Como o Caíque, evidenciaram esse mesmo cuidado:
Caíque achou tudo muito divertido, certamente por passar a ter companhia em casa, e com quem brincar a todo instante. E como se comportavam com certa autonomia, Caíque também começou a querer a proceder da mesma forma.
Depois que obtivemos a guarda provisória, e vieram para a nossa casa, inicialmente perguntavam pelo abrigo, indagavam pelos amiguinhos deixados lá. Para eles, era um lugar de referencia que transmitia total segurança, apesar de serem preparados para a chegada de outra família, de uma mãe e de um pai, mesmo porque testemunham os outros amiguinhos irem embora, e se sentem com a despedida por já existir vínculos entre eles.
Em toda relação necessário se faz construir sentimento de segurança, momentos para diálogos, trocas afetivas e esclarecimentos. É indispensável os papéis não permanecerem duvidosos e invertidos. No caso dos filhos adotivos, que a educadora do abrigo não é a mãe deles, nem tampouco a moradia é definitiva, que eles ficam por lá enquanto chega uma mamãe e um papai. Nas crianças as dúvidas tem vida longa:
E tivemos que explicar porque chegou esse papai e essa mamãe, e, não outra? No começo eles perguntavam mais, e a gente passou a compreender que a preocupação era com os amigos. Eles costumavam nos indagar: nós estamos aqui e eles continuam lá?
A convivência entre pais e filhos se inscreve com a rotina, com as regras e a dieta, com os espaços de adaptação, com a bagunça gerada no dia a dia, e os ensinamentos mais que necessários à vida inteira:
Mesmo diante das dificuldades iniciais de adaptação, a convivência foi se desenrolando de maneira muito positiva. Agora a gente percebe nitidamente que estão interagindo ainda cada vez melhor. Não existe entre eles um conflito grave, como um rejeitar o outro. Eles brincam juntos, arengam juntos.
A adoção para nós é uma forma de construir família. É uma constituição tão bonita quanto a que possuímos com o nosso filho biológico. É a mesma vontade de acolher, de cuidar, de amar.
Quando fizemos o cadastro, em Fortaleza não existia nenhum grupo de apoio à adoção. Nós nos preparamos sozinhos, pesquisando na internet, acompanhando matérias sobre adoção, lendo depoimentos, e comprando livros sobre o assunto.
Agora existe o grupo de apoio à adoção Acalanto. Nos encontros do Acalanto, tanto vão os pais quanto as crianças. Participar dele foi muito importante para nós, principalmente no período de adaptação, que é muito delicado.
Aprendemos que, como tudo na vida pode faltar, também pode sobrar. Existe amor demais um pelo outro aqui em casa.
O que temos a dizer, após um ano e meio de convivência com nossos filhos é que estamos muito felizes e somos uma família linda.
O céu será sempre azul se não nos restringirmos aos espaços menores da vida! Massimo e Lilissane estão ampliando seus territórios pessoais com os filhos, um biológico e dois adotivos, dentro da realidade mais tocante, que é a construção extraordinária de uma consciência familiar para além do querer, dos desejos e dos afetos.
Original disponível em: http://www.oestadoce.com.br/especiais/adocao/uniao-bem-sucedida-reune-mais-que-desejos-e-afetos
Reproduzido por: Lucas H.
Reproduzido por: Lucas H.
GYLMAR CHAVES
Especial para O Estado
Visto do espaço, o céu se mostra com a cor negra, enquanto nosso planeta se apresenta com a cor azul, devido os 71% da superfície da Terra ser composta por extensões líquidas, provenientes dos mares e oceanos.
Nosso olhar em direção ao céu capta a cor azul. É uma doação do sublime, como a história de Adoção realizada pelo casal Massimo Baraglia, italiano de Roma, e de sua esposa, a cearense Lilissane Monteiro de Barros, pais dos filhos adotivos, Ana Clara Barros Baraglia (6 anos), Paulo Victor Barros Baraglia (5 anos), e do filho biológico, Caique Barros Baraglia (3 anos), pois o azul do céu é um só em qualquer espaço geográfico do planeta.
Do bairro fortalezense da Serrinha, eles se unem em torno de um mundo repleto de compromissos profissionais, desejos e afetos:
Meu esposo trabalha em Organizações Não Governamentais-ONGs. Ele veio da Itália como voluntário para trabalhar com projetos sociais. Eu sou professora de Geografia. E quando percebemos que a cada dia nossa relação ficava mais séria, passamos a falar sobre filhos. O Massimo comentava: “Os filhos podem ser biológicos, podem não ser biológicos”, aproveitando o momento para me relatar sobre algumas experiências de casais com filhos adotivos que conhecia.
Nessas conversas eu também manifestava de não fazer para mim a mínima diferença. O importante era construir uma família. Que vissem filhos biológicos, filhos adotivos.
Decididos em adotar uma criança, procuraram o Fórum e começaram a dar entrada nos documentos necessários, sem jamais imaginarem que o futuro iria surpreendê-los:
No cadastro nacional de adoção optamos por um perfil que poderia ser até cinco anos de idade, ser dois se fossem irmãos, independente de sexo, de raça. Mas, caso houvesse doenças, que fossem tratáveis.
Passados alguns meses descobri que estava grávida, e o nosso processo de adoção foi concomitante a gestação biológica.
No decorrer, nosso filho Caíque nasceu, e ficamos somente numa família de três durante quase dois anos, até recebermos um telefonema do Fórum informando sobre duas crianças, Ana Clara e Paulo Victor, irmãos disponíveis para a adoção dentro das nossas expectativas conforme constava em nosso cadastro.
Massimo e Lilissane, de dois se fizeram três, e se debruçaram sobre os acenos da vida para se tornarem cinco, uma família muito mais que nuclear.
Ana Clara e Paulo Victor se encontravam no abrigo Casa de Jeremias, e em companhia da Assistente Social do Fórum, Massimo e Lilissane se dirigiram para lá:
Ao vê-los não tivemos dúvidas que estavam dentro do perfil que havíamos escolhido. Então, nada nos impedia a aproximação. Tudo iria depender da construção desse vínculo inicial, e como eles também iam nos receber. Planejamos fazer todo esse processo de aproximação com bastante calma. No primeiro dia ficamos observando e conversando sobre a história deles, e perceber como se comportavam com as demais crianças.
Há nos grandes encontros sempre a possibilidade de profundas compreensões, a doação dourada que o tempo exige, a fruição dos primeiros passos em direção ao amor. Assim, também se fertiliza o instinto materno:
Passados uns dois meses, fizemos com eles os primeiros passeios. O ritmo depende muito do casal e das crianças. Sentimos logo que a Ana e o Paulo Victor eram bastante receptivos, afetuosos, e isso já nos deixou surpresos. Apesar de eles ficarem felizes com a nossa presença, também demonstravam medo, certa resistência, principalmente porque eles vivenciaram a figura da mãe biológica, e das cuidadoras do abrigo, que naturalmente acabam substituindo a figura materna.
Não demorou muito para Massimo e Lilissane serem chamados por Ana Clara e Paulo Victor de pai e de mãe, mesmo de forma tímida, ainda um pouco receosos:
Na primeira vez que saímos do abrigo permanecemos todos juntos durante o decorrer do dia. Somente no final de semana seguinte eles dormiram conosco. Tudo com bastante cuidado para a gente perceber como eles se sentiam.
Com o tempo, começamos a constatar que eles ficavam um pouco confusos com esse vai e volta do abrigo, principalmente quando nos despedíamos deles.
No encontro de Ana Clara e Paulo Victor com o Caíque presenciamos logo laços de amizade. O contato deles com crianças menores que se encontravam no abrigo facilitou tudo isso. Lá, eles brincavam juntos. Mesmo sendo maiores, desenvolveram o impulso interior em ajudar os menores. Como o Caíque, evidenciaram esse mesmo cuidado:
Caíque achou tudo muito divertido, certamente por passar a ter companhia em casa, e com quem brincar a todo instante. E como se comportavam com certa autonomia, Caíque também começou a querer a proceder da mesma forma.
Depois que obtivemos a guarda provisória, e vieram para a nossa casa, inicialmente perguntavam pelo abrigo, indagavam pelos amiguinhos deixados lá. Para eles, era um lugar de referencia que transmitia total segurança, apesar de serem preparados para a chegada de outra família, de uma mãe e de um pai, mesmo porque testemunham os outros amiguinhos irem embora, e se sentem com a despedida por já existir vínculos entre eles.
Em toda relação necessário se faz construir sentimento de segurança, momentos para diálogos, trocas afetivas e esclarecimentos. É indispensável os papéis não permanecerem duvidosos e invertidos. No caso dos filhos adotivos, que a educadora do abrigo não é a mãe deles, nem tampouco a moradia é definitiva, que eles ficam por lá enquanto chega uma mamãe e um papai. Nas crianças as dúvidas tem vida longa:
E tivemos que explicar porque chegou esse papai e essa mamãe, e, não outra? No começo eles perguntavam mais, e a gente passou a compreender que a preocupação era com os amigos. Eles costumavam nos indagar: nós estamos aqui e eles continuam lá?
A convivência entre pais e filhos se inscreve com a rotina, com as regras e a dieta, com os espaços de adaptação, com a bagunça gerada no dia a dia, e os ensinamentos mais que necessários à vida inteira:
Mesmo diante das dificuldades iniciais de adaptação, a convivência foi se desenrolando de maneira muito positiva. Agora a gente percebe nitidamente que estão interagindo ainda cada vez melhor. Não existe entre eles um conflito grave, como um rejeitar o outro. Eles brincam juntos, arengam juntos.
A adoção para nós é uma forma de construir família. É uma constituição tão bonita quanto a que possuímos com o nosso filho biológico. É a mesma vontade de acolher, de cuidar, de amar.
Quando fizemos o cadastro, em Fortaleza não existia nenhum grupo de apoio à adoção. Nós nos preparamos sozinhos, pesquisando na internet, acompanhando matérias sobre adoção, lendo depoimentos, e comprando livros sobre o assunto.
Agora existe o grupo de apoio à adoção Acalanto. Nos encontros do Acalanto, tanto vão os pais quanto as crianças. Participar dele foi muito importante para nós, principalmente no período de adaptação, que é muito delicado.
Aprendemos que, como tudo na vida pode faltar, também pode sobrar. Existe amor demais um pelo outro aqui em casa.
O que temos a dizer, após um ano e meio de convivência com nossos filhos é que estamos muito felizes e somos uma família linda.
O céu será sempre azul se não nos restringirmos aos espaços menores da vida! Massimo e Lilissane estão ampliando seus territórios pessoais com os filhos, um biológico e dois adotivos, dentro da realidade mais tocante, que é a construção extraordinária de uma consciência familiar para além do querer, dos desejos e dos afetos.
Original disponível em: http://www.oestadoce.com.br/especiais/adocao/uniao-bem-sucedida-reune-mais-que-desejos-e-afetos
Reproduzido por: Lucas H.
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