14/02/2018
Uma mulher transgênero de 30 anos conseguiu realizar um
sonho. Após um tratamento que durou três meses e meio, incluindo hormônios, uma
droga para náuseas e estimulação nos seios, ela foi capaz de amamentar seu
filho, num caso inédito na medicina. De acordo com o relato dos médicos, a
produção de leite foi “modesta”, mas o suficiente para ser a única fonte de
nutrição nas primeiras seis semanas do bebê.
"Este é o primeiro passo em direção a um tratamento
padrão para mães transgênero construírem famílias felizes e saudáveis",
disse Tamar Reisman, uma das médicas envolvidas no tratamento, em entrevista ao
“Sun”. "Esse caso mostra que, sob certas circunstâncias, a lactação pode
ser induzida em mulheres transgênero."
A paciente, que não teve o nome divulgado, procurou o
Hospital Monte Sinai, em Nova York, em busca de uma solução para o seu
problema. Ela contou que estava prestes a se tornar mãe, mas a sua parceira,
grávida de cinco meses e meio, não estava interessada em amamentar o bebê.
Então, ela pretendia assumir essa importante função para o desenvolvimento da
criança.
Seu histórico médico mostrava que ela estava num regime
terapia hormonal para transexuais desde 2011, mas não havia passado por nenhum
procedimento cirúrgico, como aumento dos seios ou para a mudança de sexo. Por
causa da terapia hormonal, a paciente já possuía seios aparentemente femininos.
Tamar e Zil Goldstein aceitaram o desafio, receitando o
aumento das doses dos hormônios estradiol e progesterona, para simular o
aumento dos níveis vistos durante a gravidez; o uso da domperidona, um
medicamento usado para controlar as náuseas, mas que tem como efeito o aumento
dos níveis de prolactina; e de uma bomba para estimular os seios.
Após o primeiro mês, um exame já foi capaz de detectar a
produção de gotas de leite. Aos três meses, ela estava produzindo 237
mililitros de leite. A criança nasceu três meses e meio após o início do
tratamento, e a paciente foi capaz de amamentar o bebê exclusivamente com seu
leite nas primeiras seis semanas. Durante esse período, a pediatra relatou que
o crescimento, a alimentação e os hábitos intestinais estavam se desenvolvendo
normalmente.
“Com seis semanas, a paciente começou complementar a
amamentação com fórmula diariamente, devido a preocupações sobre o volume
insuficiente de leite”, escreveram as autoras do artigo. “No momento da
submissão deste artigo, o bebê se aproxima dos seis meses de idade. A paciente
continua amamentando com o complemento da fórmula”.
"É um grande feito", avaliou Joshua Safer, do
Boston Medical Center, em entrevista à “New Scientist”. "Muitas mulheres
transgênero desejam ter o máximo de experiências de mulheres não-transgênero
que puderem ter, então prevejo que isso será extremamente popular."
De acordo com o médico, não envolvido no estudo, existem relatos
anteriores em fóruns de internet, mas este tratamento alcançado no Monte Sinai
é o primeiro caso descrito na literatura médica. Safer se disse impressionado,
mas não surpreso com essa possibilidade.
"Quando eu trato mulheres transgênero, nós percebemos
um bom desenvolvimento dos seios", comentou, acrescentando que não existe
razão para essas célular não produzirem leite como em uma mulher
não-transgênero. E caso o método se prove seguro e eficaz, ele pode beneficiar
não apenas as mulheres transgêneros, mas também as mães adotivas ou as que
enfrentam dificuldades para amamentar.
Madeline Deutsch, pesquisadora da Universidade da
Califórnia, alerta que antes que o tratamento possa ser recomendado, é preciso
avaliar se os componentes do leite produzido pela mãe transgênero é o mesmo do
presente no leite de mães gestacionais. Também é preciso avaliar os impactos de
longo prazo desse leite no bebê. Deutsch também é uma mulher transgênero, com
uma filha de seis meses que é amamentada pela sua esposa, a mãe gestacional da
criança.
"Eu fico muito triste por não ser capaz de amamentá-la,
mas ao mesmo tempo eu não considero fazer isso por estas razões",
comentou.
Original disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2018/02/tratamento-inedito-permite-que-mae-transgenero-amamente-o-filho-nos-eua.html
Reprozudo por: Lucas H.
Original disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2018/02/tratamento-inedito-permite-que-mae-transgenero-amamente-o-filho-nos-eua.html
Reprozudo por: Lucas H.
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