Forte o título? Concordo que é
impactante e que se aguarda uma severa crítica às questões políticas do Brasil.
Essa crítica iniciou-se nos idos de 1500, coincidentemente quando do
descobrimento dessa terra livre e pueril.
A corrupção, a discriminação e o endividamento
ali então se iniciaram.
Em nosso solo, até então virgem, se
instalou a escravidão de índios e negros, a exploração do ser humano sem
reconhecimento de que todos são uma única raça.
Lá, também, tornaram o nosso país
corrupto e esse vírus aparentemente perpetuou-se na espécie homo brazilis,
pois, 515 anos depois continua a infectar hordas no país.
Outros vírus, tão terríveis quanto e que
utilizam a mesma forma de transmissão, são os vírus do preconceito, da discriminação
e da intolerância.
Não vamos nos deter no vírus da
corrupção, esse já ganhou a mídia falada, escrita, televisada e sociais, vamos falar dos
vírus do preconceito, discriminação e intolerância.
A novela Babilônia estreou na última
segunda-feira, 16/03, com autoria de Ricardo Linhares. Iniciou logo após o fim
de Império, de Aguinaldo Silva, onde o Comendador José Alfredo Medeiros – por quem
todas e todos suspiravam com justos motivos – fora assassinado por seu primogênito
José Pedro. Em Império lidamos com
traições, assassinatos, roubos, furtos, prostituição, etc. Passou despercebido,
pasmem, a poliafetividade entre Xana, Nana e Antônio, mas... águas passadas não
movem moinhos.
No novo folhetim Fernanda Montenegro, o
monstro sagrado da dramaturgia nacional, e Nathália Timberg, outro ícone, compõem
um casal homoafetivo da terceira idade que se relacionam com o carinho e o
afeto comuns a todos os casais que estão unidos com amor, respeito e cuidado
por toda uma vida.
O casal, duas senhoras lindas e dignas,
se beijam, um beijo cálido, suave e cheio de amor, mas, sem cunho sexual e sem
qualquer exacerbação. Um beijo entre pessoas que se amam.
O mundo, então, acabou com tal cena apocalíptica.
Os bastiões da tradição da família brasileira insurgiram-se contra a novela,
ameaças de boicote surgiram por todas as partes. Os fundamentalistas ergueram
suas lanças e ameaçam derrubar a audiência da nova atração das 21 horas.
Na mesma soap opera – só para instigar a
ira dos tradicionalistas – acontecem traições – inúmeras -, assassinatos,
corrupção, jogatinas, suborno, chantagem, prostituição, lenocínio, peculato e
não sei quantas outras questões que atacam a moral de um povo.
Os crimes e os afrontes morais que
acontecem em nada abalaram os pilares da sociedade brasileira – prefiro nem
mencionar os motivos -, mas, o beijo das duas senhoras gerou um verdadeiro
terremoto social e político, capazes de abalar os alicerces da pátria amada.
Políticos eleitos pelo povo para
legislar preparam um ato de repúdio à novela. Religiosos preparam boicote ao folhetim.
E a pergunta que não quer calar: por que política e religião estão se
envolvendo com entretenimento? Os políticos deveriam estudar técnicas
legislativas e direito; os religiosos devem se preocupar com seus ofícios e desempenhar
suas funções de conformidade com os preceitos religiosos que seguem. Em suma,
ambos devem estudar, aprender e apreender suas respectivas lições.
Não estudei teologia e não sou a pessoa
ideal para interpretar a bíblia, mas não lembro nos colégios que estudei – um de
freiras e outro de irmãos – ter aprendido algo diferente de amar o próximo como
a ti mesmo. Será que, com o tempo, defasou-se esse preceito bíblico? Talvez eu
esteja desatualizada.
Também lembro que estudei sobre os 10 mandamentos,
aparentemente foram abrandados já que o não mataras, o não furtaras, já estão
sendo tratados como atos banais – vide a corrupção desenfreada e ao roubo do
seu, do meu, do nosso dinheiro.
Já os 7 pecados capitais também foram
relevados, ou alguém se lembra deles?
A IRA : Tem como
sinônimos a raiva, a cólera, agressividade exagerada;
A GULA: No
sentido literal, gula é o excesso no comer e beber,na sua simbologia maior
significa voracidade.
A INVEJA: É o
desgosto ou pesar pelos bens do outro, a dificuldade de admirar o outro, o
sentimento de injustiça .
O ORGULHO: É o brio, a altivez, a soberba. A
sensação de que "Eu sou melhor que os outros" por algum motivo. Isto
leva a ter uma imagem de si inflada, aumentada, não correspondendo à realidade.
A AVAREZA :
Define-se como estar excessivamente apegada a alguma coisa levando a um grande
medo de faltar, uma percepção de escassez.
A PREGUIÇA: É
definida como aversão ao trabalho, negligência. Este sentimento faz com que as
pessoas desqualifiquem os problemas e a possibilidade de solução destes. A
preguiça não se resume na preguiça física mas também na preguiça de pensar,
sentir e agir. A crença básica da preguiça é "Não necessito aprender nada.
LUXÚRIA: É
definida como uma impulsividade desenfreada, um prazer pelo excesso, tendo
também conotações sexuais. (Fonte: https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090601175118AAVc43j)
Perpassadas as
questões política-religiosas, vamos ao ponto focal: preconceito, discriminação,
homofobia, inoperância, omissão! Ufa!
Estamos numa
luta inglória contra o Estatuto da Família – por favor LEIAM! – que assim
determina em seu artigo 2º Para os fins desta Lei, define-
se entidade familiar como o núcleo social formado a partir da união entre um homem
e uma mulher , por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
Ou seja, são
desconsideradas as famílias não formadas pela descendência de pais e mães
(linhagem biológica), famílias adotivas não terão a proteção do Estado,
famílias anaparentais (formadas por parentes consanguíneos ou por afinidade),
famílias sócio-afetivas (formadas pelo amor, carinho, afeto, cuidado), e diversas
outras formações familiares.
A Constituição Federal em seu artigo 226 consagra a família como a base
da sociedade, conferindo a ela especial proteção do Estado, e em seus
parágrafos traz o rol de espécies de entidades familiares, sendo elas: a
constituída pelo casamento civil ou religioso com efeitos civis, a união
estável e a família monoparental.
Em razão das mudanças sociais novas configurações familiares sugiram, e continuarão a surgir, não apenas pelos laços consanguíneos ou matrimoniais, mas calcadas,
primordialmente, na afinidade , no afeto e no cuidado, transformando essas
novas comunidades em entidades familiares reais.
A família anaparental tem base na sócio-afetividade caracterizando-se
pela inexistência da figura dos pais, constituindo-se pela convivência entre
parentes com vínculo colateral ou da afinidade ou pessoas – mesmo que não
parentes e sem qualquer cunho sexual - dentro de uma mesma estruturação com
identidade de propósitos, com o objetivo comum de constituir família.
A adoção, por sua vez, torna juridicamente família pais e filhos sem
quaisquer laços consanguíneos, mas com laços sócio-afetivos e tem por base o
cuidado como formador da parentalidade.
Não se pode, ainda, esquecer as família multiparentais e as poliafetivas,
já constituídas com o respaldo do judiciário e assim reconhecidas como
entidades familiares, mas, será assunto para um próximo texto.
O crescimento do número dessas novas configurações familiares na
sociedade brasileira ainda não ganhou a atenção e a importância devidas dos
estudiosos do direito e do próprio Estado, ao contrário, pois, vem sofrendo
ataques das bancadas fundamentalistas do legislativo federal, além da
propositura de leis absurdas com o malfadado Estatuto da família.
Essas famílias estão prestes a perder a proteção do Estado como
entidade familiar, não sendo a elas garantido os direitos que somente são
disponibilizados para os que constituem uma das espécies de entidades
familiares do rol do artigo 226 da Constituição Federal. É o que prega o
Estatuto da Família!
É preciso, além de combatermos veementemente o Estatuto da Família que
lutemos pela inclusão no ordenamento jurídico da proteção às famílias formadas
pela consanguinidade, afetividade e afinidade conforme estabelece o Estatuto
das Famílias – no plural, FAMÍLIAS, abrangendo a pluralidade e diversidade familiar.
O Estatuto das Famílias é projeto do IBDFAM – Instituto Brasileiro de
Direito de Família e foi proposto pela Senadora Lídice da Mata – PLS 450/2013. http://ibdfam.org.br/noticias/5182/Projeto+de+Estatuto+das+Fam%C3%ADlias+%C3%A9+apresentado+no+Senado+
Estranhamente, ou muito claramente, não existe qualquer enquete para
saber se a população concorda com o conceito de família estabelecido no Art.
9º O parentesco resulta da consanguinidade, da socioafetividade e da
afinidade.
Então minha meta é que deixemos de ser
hipócritas, verdadeiros sepulcros caiados, e passemos a nos importar de fato
com as questões contundentes que afetam o âmago de nossa nação: corrupção e
preconceito! Não podemos nos manter inertes e omissos. Temos que assumir nossa
própria hipocrisia e lutar contra ela.
Não podemos acreditar, e muito menos
internalizar, que nossa hipocrisia e leniência são atávicas, somos melhores que
isso.
Não quero limpar privadas em Miami nem
morar em condomínio de luxo por lá, quero ficar no meu país e ter orgulho do
meu solo, da minha pátria amada e do meu povo heroico, salve, salve!
Silvana do Monte Moreia
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