segunda-feira, 4 de abril de 2016

INSTITUIÇÕES QUE CUIDAM DE CRIANÇAS CARENTES BUSCAM PESSOAS QUE DEEM ATENÇÃO (Reprodução)

Domingo, 03/04/2016
Jurana Lopes
jurana.lopes@jornaldebrasilia.com.br
Segundo o assistente social William Silva, é necessário preparo para "adotar" uma criança, pois a questão não envolve doar somente bens materiais, mas atenção
Todo mundo precisa de carinho, seja na forma de um beijo, um abraço ou uma conversa. O que dizer então das crianças que vivem em lares adotivos? A ausência dos pais é bastante sentida. Quem vive em unidades de acolhimento nem sempre tem vínculos afetivos com alguém. Para mudar essa situação, algumas unidades são cadastradas pela Vara de Infância e da Juventude do DF no projeto de apadrinhamento afetivo.
Em datas comemorativas, as crianças sofrem mais com a falta dos familiares. É nesse período que a presença de um padrinho afetivo faz a diferença. Segundo William Silva, assistente social da instituição Batuíra – Obras Sociais do Centro Espírito, é necessário preparo para “adotar” uma criança, pois a questão não envolve doar somente bens materiais, mas atenção.
“Muitos padrinhos esquecem a questão afetiva e pensam que basta comprar roupas, presentear e fazer as vontades da criança. O apadrinhamento afetivo é para doar tempo, carinho, amor. Ou seja, é mostrar para a criança que ela é importante para alguém e tem com quem contar”, explicou.
De acordo com William Silva, as crianças querem um laço afetivo com seus padrinhos. “Eles querem alguém que dê não só presentes, mas cafuné, abraço, amor, afeto, que os levem para passear no fim de semana. Faltam pessoas dispostas para isto: doar tempo”, avaliou o assistente social.
POUCOS APADRINHADOS
Hoje, a unidade de acolhimento Batuíra, localizada em Ceilândia Norte, está com 40 crianças, mas apenas cinco são apadrinhadas afetivamente.
No Lar São José, também em Ceilândia, a situação é semelhante. Das 70 crianças acolhidas, só duas são apadrinhadas. “O apadrinhamento afetivo é muito positivo, pois a criança cria um vínculo. Porém, o que vejo é que não existem pessoas preparadas para essa responsabilidade, porque, na primeira dificuldade que aparece, elas abandonam seus afilhados”, explicou Geise Nunes, coordenadora da instituição.
Segundo ela, essa atitude prejudica muito a criança, pois ela construiu um novo vínculo afetivo e se vê abandonada novamente.
Na Casa do Caminho, em Taguatinga Norte, são 32 crianças e apenas dois padrinhos afetivos. Segundo Lêda da Silva, coordenadora da instituição, hoje as pessoas preferem doar dinheiro a tempo.
Lêda chama a atenção para que mais gente tome a iniciativa de apadrinhar uma criança. “Os fins de semana são dias ociosos, quase não tem atividades e, como a maioria não tem padrinho, fica sem fazer nada. As crianças sentem a falta de cafuné, sair para passear, ir ao shopping”, explicou a coordenadora.
Todas as três instituições são conveniadas à ONG Aconchego, que realiza cursos para quem têm interesse em se tornar um padrinho afetivo.
UMA CONVIVÊNCIA PARA A VIDA INTEIRA
A administradora Ana Alice de Souza, 28 anos, se interessou pelo apadrinhamento anos atrás ao ver uma reportagem sobre o assunto. Desde então, ela ficou com a ideia na cabeça. Depois de um tempo, encontrou a ONG Aconchego, se informou sobre o programa e achou interessante a possibilidade de trocar experiências e conviver com uma criança ou um adolescente.
Em maio de 2014, ela amadrinhou Pedro, 14 anos. Mas, antes de começar a ter contato com o garoto, fez curso de preparação por um ano. “O que eu diria para as pessoas que pensam em apadrinhar é para ter uma visão realista da questão. É uma relação como outra qualquer, com altos e baixos. Nós conversamos bastante e acompanhamos a vida dele. É preciso afeto, dedicação, paciência, carinho e persistência. Tem que ter tempo livre, mas, principalmente, tempo de qualidade, conversa sincera e aberta sobre tudo”, explicou.
Ana Alice tem uma relação boa com o menino e faz vários programas com o afilhado. “Às vezes, ele almoça aqui em casa, vemos filme, ele dorme quando quer, vamos ao shopping. Ele já foi para a Bahia comigo quando fui morar lá durante uns meses. Foi a primeira vez que ele viu a praia, nos divertimos muito”, relembrou.
De acordo com ela, é importante mostrar ao afilhado que ela se preocupa com a vida dele, pois, assim, ela se torna um referencial de apoio. Ela e Pedro mantêm uma relação de carinho e respeito.
De acordo com Ana Alice, a experiência é única, complexa e desafiadora e envolve não só ela, mas toda a sua família e os seus amigos, pois o afilhado é incluído em todos os programas. “É uma boa experiência, sim, gratificante. É uma relação real de troca de experiências. Precisa se doar e ter muita responsabilidade com compromissos. Uma vez estabelecido o vínculo, é para a vida toda. Mesmo que me mude de cidade ou país, ele vai continuar para sempre meu afilhado”, informou.
A administradora afirma que sabe tudo sobre a vida de Pedro, conversa com as psicólogas, acompanha a vida escolar dele, dá conselhos e broncas, além de ouvir suas histórias e conhecer os amigos do garoto.
COMO FUNCIONA
Apadrinhar afetivamente uma criança é permitir que ela passe algum tempo com você, por alguns períodos, um dia da semana ou o fim de semana, sem implicar qualquer vínculo jurídico. O padrinho ou madrinha é alguém que queira auxiliar e acompanhar a vida de uma criança ou um adolescente que está em um abrigo e com pouca possibilidade de ser adotado. Cada padrinho ou madrinha tem a liberdade de escolher lugares para passear, ocasiões e demais atividades para realizar com o afilhado, participando efetivamente da vida da criança ou do adolescente.
Para iniciar o processo e se tornar um padrinho ou madrinha, é necessário que os interessados:
Tenham disponibilidade para partilhar tempo e afeto com crianças adolescentes acolhidos;
Possam oferecer cuidados de qualidade e singularizados;
Desejem colaborar com a construção e a sustentação do projeto de vida e promoção da autonomia de adolescentes;
Tenham mais de 21 anos de idade (diferença de pelo menos 16 anos para o afilhado);
Não façam parte do cadastro de adoção;
Participem dos encontros de sensibilização e formação de padrinhos e madrinhas;
Participem dos encontros de acompanhamento.
Mais informações podem ser obtidas no site da ONG Aconchego: www.aconchegodf.org.br
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília


Original disponível em: http://www.jornaldebrasilia.com.br/noticias/cidades/676050/instituicoes-que-cuidam-de-criancas-carentes-buscam-pessoas-que-deem-atencao/

Reproduzido por: Lucas H.

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