05/04/2016
Luís Barrucho
Da BBC Brasil em Londres
Adotada ainda recém-nascida, Orit Sharabi, de 28 anos, cresceu em Israel, mas nasceu supostamente em Fortaleza.
A israelense Orit Sharabi busca solucionar um mistério que a acompanha há 28 anos.
Ela mora na cidade de Herzliya, na região central de Israel, com o marido e a filha pequena. Fala hebraico e, como todos seus amigos, cumpriu o serviço militar obrigatório.
Mas Orit não nasceu em Israel, e sim supostamente em Fortaleza, no Ceará ─ e de mãe brasileira. Adotada por um casal israelense ainda recém-nascida, cresceu a 10 mil quilômetros de distância da terra natal.
Agora, ela quer encontrar a mãe biológica. E, como outras crianças adotadas, lançou uma campanha nas redes sociais para buscá-la. A iniciativa contou com o apoio do ex-embaixador de Israel no Brasil Reda Mansour.
Em vídeo (bit.ly/25AXqSK), Orit faz, em português com sotaque carregado, um apelo por informações sobre seu passado. O post, publicado em novembro do ano passado, já teve mais de mil compartilhamentos.
"Meus pais adotivos nunca esconderam minhas origens. Sempre quis encontrar minha mãe biológica", disse ela à BBC Brasil.
"Desde que me tornei mãe, no entanto, essa vontade cresceu dentro de mim, mas não consigo obter nenhuma informação a respeito do paradeiro dela".
A ideia de lançar uma campanha nas redes sociais foi do marido, diz ela.
"Meu marido teve a ideia porque nossas buscas não estavam dando resultado. Quando tiramos um ano sabático após o serviço militar (hábito comum entre israelenses), viajamos à América do Sul. Mas não conseguimos nenhuma informação valiosa".
DOCUMENTOS
Do passado brasileiro, Orit tem poucas recordações. Ela conta que saiu do Brasil com poucos meses de vida e seus pais adotivos não chegaram a se encontrar com sua mãe biológica. A adoção foi feita no Rio de Janeiro, por intermédio de dois advogados israelenses, depois de Orit passar dois meses no Paraguai junto a uma família adotiva temporária.
Os únicos documentos que ela possui são a certidão de nascimento e o documento de adoção. Em ambos constam seu primeiro nome, Orit Simião, e o de sua mãe biológica, Estela Simião. Ela seria empregada doméstica e natural de Fortaleza.
"Mas não sei se esses documentos são verdadeiros. Tampouco obtive qualquer apoio dos advogados que intermediaram a minha adoção".
A reportagem da BBC Brasil não conseguiu contato com os advogados que viabilizaram a adoção de Orit, mas telefonou para o cartório que aparece no documento de adoção. A repartição, que ficava no centro do Rio de Janeiro, mudou de endereço. No local, hoje funciona uma loja de games.
No entanto, os funcionários do cartório não conseguiram encontrar o documento de adoção da israelense nos arquivos.
TRÁFICO?
Orit diz não saber se foi mais uma vítima de uma quadrilha de tráfico internacional de crianças que atuava em estados do sul do Brasil no final da década de 80.
Liderado pela brasileira Arlete Hilu, o esquema milionário envolvia adoções ilegais para casais na Inglaterra, Canadá e, principalmente, Israel.
Mulheres disfarçadas de assistentes sociais convenciam grávidas brasileiras a doar seus bebês. Elas argumentavam que as mães poderiam ver seus filhos quando quisessem, mas perdiam contato assim que assinavam os papéis de adoção.
Muitos estrangeiros também eram enganados ao serem procurados por advogados que prometiam contornar as dificuldades burocráticas brasileiras.
"Meus pais me adotaram sem conhecer minha mãe biológica, por intermédio de dois advogados israelenses", conta Orit.
"O que eu soube é que esses advogados andavam com a Arlete, mas não sei se fui vítima desse esquema", acrescenta.
REENCONTRO
A mãe adotiva de Orit não podia ter filhos. Como na época o processo de adoção em Israel costumava ser demorado, seus pais decidiram tentar a sorte no exterior. E a escolha pelo Brasil se deveu pela fama do país entre casais israelenses na mesma situação.
"Naquela época, era muito comum adotar crianças brasileiras aqui em Israel", conta ela.
O irmão mais velho de Orit também foi adotado no Brasil. Nascido em Santa Catarina, ele se tornou judeu ortodoxo e não tem planos de reencontrar os pais biológicos.
"Mas eu ainda não perdi as esperanças. Apesar da resistência inicial dos meus pais adotivos, eu quero encontrar minha mãe biológica. Por isso, estou pedindo ajuda", diz.
E, como tantas outras crianças entregues à adoção, Orit já sabe o que perguntar à sua mãe biológica, se um dia encontrá-la.
"Quero saber por que ela me abandonou", conclui.
Original disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/04/israelense-lanca-campanha-para-encontrar-mae-biologica-no-brasil.html
Reproduzido por: Lucas H.
Luís Barrucho
Da BBC Brasil em Londres
Adotada ainda recém-nascida, Orit Sharabi, de 28 anos, cresceu em Israel, mas nasceu supostamente em Fortaleza.
A israelense Orit Sharabi busca solucionar um mistério que a acompanha há 28 anos.
Ela mora na cidade de Herzliya, na região central de Israel, com o marido e a filha pequena. Fala hebraico e, como todos seus amigos, cumpriu o serviço militar obrigatório.
Mas Orit não nasceu em Israel, e sim supostamente em Fortaleza, no Ceará ─ e de mãe brasileira. Adotada por um casal israelense ainda recém-nascida, cresceu a 10 mil quilômetros de distância da terra natal.
Agora, ela quer encontrar a mãe biológica. E, como outras crianças adotadas, lançou uma campanha nas redes sociais para buscá-la. A iniciativa contou com o apoio do ex-embaixador de Israel no Brasil Reda Mansour.
Em vídeo (bit.ly/25AXqSK), Orit faz, em português com sotaque carregado, um apelo por informações sobre seu passado. O post, publicado em novembro do ano passado, já teve mais de mil compartilhamentos.
"Meus pais adotivos nunca esconderam minhas origens. Sempre quis encontrar minha mãe biológica", disse ela à BBC Brasil.
"Desde que me tornei mãe, no entanto, essa vontade cresceu dentro de mim, mas não consigo obter nenhuma informação a respeito do paradeiro dela".
A ideia de lançar uma campanha nas redes sociais foi do marido, diz ela.
"Meu marido teve a ideia porque nossas buscas não estavam dando resultado. Quando tiramos um ano sabático após o serviço militar (hábito comum entre israelenses), viajamos à América do Sul. Mas não conseguimos nenhuma informação valiosa".
DOCUMENTOS
Do passado brasileiro, Orit tem poucas recordações. Ela conta que saiu do Brasil com poucos meses de vida e seus pais adotivos não chegaram a se encontrar com sua mãe biológica. A adoção foi feita no Rio de Janeiro, por intermédio de dois advogados israelenses, depois de Orit passar dois meses no Paraguai junto a uma família adotiva temporária.
Os únicos documentos que ela possui são a certidão de nascimento e o documento de adoção. Em ambos constam seu primeiro nome, Orit Simião, e o de sua mãe biológica, Estela Simião. Ela seria empregada doméstica e natural de Fortaleza.
"Mas não sei se esses documentos são verdadeiros. Tampouco obtive qualquer apoio dos advogados que intermediaram a minha adoção".
A reportagem da BBC Brasil não conseguiu contato com os advogados que viabilizaram a adoção de Orit, mas telefonou para o cartório que aparece no documento de adoção. A repartição, que ficava no centro do Rio de Janeiro, mudou de endereço. No local, hoje funciona uma loja de games.
No entanto, os funcionários do cartório não conseguiram encontrar o documento de adoção da israelense nos arquivos.
TRÁFICO?
Orit diz não saber se foi mais uma vítima de uma quadrilha de tráfico internacional de crianças que atuava em estados do sul do Brasil no final da década de 80.
Liderado pela brasileira Arlete Hilu, o esquema milionário envolvia adoções ilegais para casais na Inglaterra, Canadá e, principalmente, Israel.
Mulheres disfarçadas de assistentes sociais convenciam grávidas brasileiras a doar seus bebês. Elas argumentavam que as mães poderiam ver seus filhos quando quisessem, mas perdiam contato assim que assinavam os papéis de adoção.
Muitos estrangeiros também eram enganados ao serem procurados por advogados que prometiam contornar as dificuldades burocráticas brasileiras.
"Meus pais me adotaram sem conhecer minha mãe biológica, por intermédio de dois advogados israelenses", conta Orit.
"O que eu soube é que esses advogados andavam com a Arlete, mas não sei se fui vítima desse esquema", acrescenta.
REENCONTRO
A mãe adotiva de Orit não podia ter filhos. Como na época o processo de adoção em Israel costumava ser demorado, seus pais decidiram tentar a sorte no exterior. E a escolha pelo Brasil se deveu pela fama do país entre casais israelenses na mesma situação.
"Naquela época, era muito comum adotar crianças brasileiras aqui em Israel", conta ela.
O irmão mais velho de Orit também foi adotado no Brasil. Nascido em Santa Catarina, ele se tornou judeu ortodoxo e não tem planos de reencontrar os pais biológicos.
"Mas eu ainda não perdi as esperanças. Apesar da resistência inicial dos meus pais adotivos, eu quero encontrar minha mãe biológica. Por isso, estou pedindo ajuda", diz.
E, como tantas outras crianças entregues à adoção, Orit já sabe o que perguntar à sua mãe biológica, se um dia encontrá-la.
"Quero saber por que ela me abandonou", conclui.
Original disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/04/israelense-lanca-campanha-para-encontrar-mae-biologica-no-brasil.html
Reproduzido por: Lucas H.
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