segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Devolução de criança adotada: um tema que precisa ser discutido  (Reprodução)

12/11/2016

O assunto é delicado e ainda pouco pesquisado, mas infelizmente acontece, e é até mais comum do que a gente pensa. Trata-se da devolução ao Estado de crianças adotadas, geralmente por problemas de convivência entre os menores e seus pais adotivos. Uma das maiores especialistas no assunto é a psicanalista Maria Luiza Ghirardi, que acaba de lançar o livro Devolução de crianças adotadas: Um estudo psicanalítico, tendo por base as experiências vividas pelas famílias que atendeu durante os últimos anos em seu consultório. 

Quais as motivações do ato da devolução? O que leva alguém que passou por um longo período de espera a desistir de seu sonho realizado? Quais as consequências psicológicas para a criança que passa por esse processo? Maria Luiza debruçou-se sobre estas questões por muito tempo, e agora procura respondê-las também para o público interessado no assunto. Ela descobriu, por exemplo, que adotantes que têm expectativas extremadas com a chegada deste novo filho são os mesmos  que muitas vezes acabam se frustrando. Ela ressalta que o encontro entre pais e filhos adotados deve ter como premissa a busca pela superação de conflitos – que, aliás, são inevitáveis nas relações parentais de forma geral – e não apenas naquelas que envolvem adoção.

Algumas vezes os pais decidem por devolver a criança porque sentem dificuldade de inserir no seu próprio imaginário a criança adotada na condição de filho. Eles ser apoiam na fantasia da devolução. `¿Só podemos devolver aquilo que não nos pertence. No caso de um filho biológico é como se a criança pertencesse aos pais, então, ela não pode ser devolvida, mas sim abandonada. No caso da criança adotada, estes pais acreditam que ela não lhe pertence e que por isso poderá a qualquer hora ser devolvida ou para a família biológica ou para a tutela do Estado¿¿, explica a pesquisadora. Essa ideia, diz ela, pode surgir, em maior ou menor intensidade, nos momentos de conflito com a criança.
Outro ponto a ser observado é a presença da adoção por altruísmo. São pessoas que se consideram bondosas, que desejam adotar uma criança pobre com o objetivo de lhe oferecer boas condições de vida. Segundo a psicanalista, muitas vezes esse sentimento de altruísmo esconde frustrações internas profundas e uma baixa auto-estima. `¿São condições que irão interferir, no futuro, em seu relacionamento com a criança, dando margem à criação de inúmeros conflitos que podem culminar com a devolução¿¿, alerta.  Maria Luíza lembra que a adoção é um ato irrevogável, e que quando a devolução acontece é porque os técnicos percebem que a criança está sendo rejeitada de uma maneira tão intensa que torna inviável a sua permanência com aquela família. Então, para evitar maiores sofrimentos, a devolução é aceita e a criança volta para a tutela do Estado.   

Original disponível em: http://dc.clicrbs.com.br/sc/colunistas/viviane-bevilacqua/noticia/2016/11/devolucao-de-crianca-adotada-um-tema-que-precisa-ser-discutido-8264749.html

Reproduzido por: Lucas H.

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