segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Encontro quer reunir crianças com necessidades especiais (Reprodução)

05 NOV 2016

Neide Martins poderia ser uma mulher como tantas outras, não fosse algumas peculiaridades que surgiram após uma escolha feita por ela, de livre e espontânea vontade.
Há alguns anos, trabalhando no ramo de Turismo, Neide recebia muitas ligações de instituições carentes que pediam doações. Interessada em trabalhos voluntários, começou a ajudar com pequenas quantias em dinheiro, em especial a Casa da vó Benedita, em Santos.
“Como sempre, no final da ligação, os responsáveis faziam o convite para ir conhecer o lugar, até que um dia eu resolvi ir”, conta ela.
Quando chegou, notou o quanto a ONG (Organização Não Governamental) carecia de ajuda, não só financeira, mas de voluntários que auxiliassem nos trabalhos. A Casa da Vó Benedita funciona como um abrigo que acolhe crianças vítimas de maus tratos.
“Passei a contribuir em eventos beneficentes, bazares, atividades deste tipo. Com o tempo, comecei a ter contato com as crianças que chegam à instituição. Daí nasceu a vontade de adotar”, recorda.
O marido, com dois filhos frutos de uma relação anterior, apenas ouvia os ensejos da esposa, sem compartilhar do mesmo desejo. “Até que eu o convenci a conhecer os trabalhos da Casa e aí ele foi tocado pelo que viu”, afirma ela.
O casal decidiu se cadastrar para o processo de adoção. Após quatro anos de espera, um menino com poucos meses de vida e sua irmã, com três anos, ganharam uma família.
Vida Nova. Depois de quatro meses de adoção, Neide percebeu que o bebê, na época com 10 meses, fazia movimentos estranhos com o pescoço, sobressaltos da cabeça para frente.
“Pareciam espasmos. Aquilo me preocupou. A partir dali, iniciamos uma longa saga em consultórios médicos, de suspeitas até o diagnóstico”.
O bebê foi diagnosticado com epilepsia e aos dois anos e oito meses, com Síndrome de West. A doença é uma forma grave de epilepsia em crianças. 90% dos casos começam em bebês menores de 12 meses e o pico ocorre entre quatro e seis meses de idade.
“Ele vai perdendo neurônios a cada crise que tem. No início, cheguei a registrar 80 em um dia só. É uma doença degenerativa. Aos poucos, o movimento dos membros diminui e a fala também. Ele já não pronuncia mais todas as palavras que aprendeu”, explica.
Canabidiol
Uma das substâncias que fazem parte do tratamento  é a Canabidiol, encontrada na planta cannabis sativa, da qual se origina a maconha. Até o início do ano passado, o medicamento fazia parte da lista de substâncias proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o órgão, era necessária uma investigação mais profunda.
Até que estudos científicos mostraram que o elemento não traz dependência e tem utilidade médica para tratar diversas doenças, entre elas, neurológicas.
Mesmo com a liberação desde 2015, é preciso importar a medicação, que continua controlada pela Agência.
“Pagamos uma taxa alta para a Anvisa por um medicamento que já é caro. Estou tentando a gratuidade através da Justiça. Também faço parte de uma ONG que luta para descriminalizar a visão preconceituosa que algumas pessoas tem sobre o tratamento”, esclarece.
Neurocirurgiões e psiquiatras possuem autorização do Conselho Federal de Medicina para prescrever remédios à base de canabidiol para portadores de epilepsias cujos tratamentos convencionais não surtiram efeito.
Família
Com a mudança completa na rotina, Neide explica que o apoio da família é crucial.
“No meu caso, meu marido está comigo e principalmente com as crianças. Ouvi opiniões terríveis a respeito da adoção de um filho com problemas. Amigos diziam que não poderíamos mais viajar. Eu acredito que isso é questão de valores. O que vale mais, assumir a situação ou se desfazer dela e viver viajando?”, questiona.
Luta
Depois que os médicos acertaram a medicação, as crises diminuíram, porém uma nova luta começou: encontrar uma escola. “Respondiam que meu filho não era o perfil da unidade. As escolas estão preparadas para o Autismo, Síndrome de Down, mas não para doenças raras.Por mais que sejam incomuns, estas síndromes existem e se existem merecem atenção”, justifica.
Ela reclama que muitos médicos defendem que crianças nestas situações não podem ir para a escola. Para Neide, isso pesa ainda mais no diagnóstico, já que elas deixam de interagir e os pais acabam fechando-se em seus lares. “O meu filho tem direito à escola”, encerra.
Atualmente, o filho de Neide estuda na Escola de Educação Especial 30 de Julho, em Santos.
Projeto. A experiência da adoção dos dois filhos e o conhecimento de pessoas inseridas no mesmo mundo que ela, levaram Neide a ter uma nova concepção da vida.
Através da amiga e fotógrafa Flavia Krol, Neide conheceu o Projeto Revelar, onde o intuito é fotografar crianças especiais em momentos de distração e diversão.
Neide decidiu organizar em parceria com Flavia, uma edição em Santos.
O objetivo é reunir famílias que tenham filhos com necessidades especiais, independente da doença. Ela explica que muitos pais não gostam de sair para evitar olhares desrespeitosos - já que o comportamento dessas crianças geralmente é diferente das outras.
Outro enfoque  será a segregação. “O ser humano tem o costume de segregar. No mundo especial não é diferente. Você vê grupos separados por doenças como autismo, down, paralisia cerebral e isso atrapalha o convívio de quem já quase não interage. A minha bandeira hoje é: qualquer patologia”, esclarece ela.
O encontro será ­realizado neste domingo, no Emissário Submarino, das 14h às 17h e é gratuito.
Reproduzido por: Lucas H.

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