01/11/2016
Casas de acolhimento recebem crianças e adolescente de qualquer idade. História foi contada na série 'Cuida de Mim', do JPB 1ª Edição.
“Já tenho dois filhos, não crio nenhum, será que vou ficar velha nessa vida?”, foi o que Fernanda Kelly da Silva pensou quando recebeu a notícia de que estava grávida novamente. Usuária de drogas e expulsa de casa pela mãe, ela resolveu mudar a própria vida para mudar também a vida do terceiro filho. Arthur nasceu nos braços de uma mãe que se tornou cuidadora em um abrigo para retribuir ao destino as mudanças que aconteceram na vida dela e que impediram seu filho de ter o mesmo destino da crianças que vivem no local no local.
A história de Artur e Fernanda foi contada na primeira reportagem da série "Cuida de Mim", do JPB 1ª Edição, nesta terça-feira (1º). No total, quatro reportagens contam histórias de crianças e abrigos com passado e futuro prontos para renascerem. As diversas motivações para uma criança sair do seio de sua família e ser abrigada numa casa de acolhida, podendo inclusive ser adotada por novos pais, foram o tema da primeira reportagem.
O caso de Fernanda, no entanto, é uma exceção, como destaca a assistente social Elk Nogueira. Segundo sua experiência, muitas outras mães decidem doar o próprio filho e não fraquejam na decisão, algumas já têm histórico de doação. "Mas, quando ela resolve que, mesmo na condição de vulnerabilidade em que se encontra, ela deseja cuidar do filho dela, então acionamos a rede de proteção", diz Elk. Esta foi a opção feita por Fernanda. Porém, caminho percorrido pela criança deixada para adoção é outro.
NECESSIDADE DE PAIS
Nas casas de acolhimento vivem crianças de qualquer idade. Elas chegaram a estes locais porque tiveram seus direitos violados de alguma forma. Na Casa Padre Pio, no município de Pedras de Fogo, por exemplo, trinta crianças e adolescentes vivem à procura de uma nova família ou tentando se reintegrar à família biológica.
Carlos, de 13 anos, transformou os colegas da casa em uma família. “Cada um se gosta, se ama. São meus irmãos. Eu gosto de brincar com tio Roberto, que é meu paizinho, e com a filha dele. Eu gosto dela, muito, como se fosse uma irmãzinha”, declarou. A família na Casa Padre Pio é grande, no entanto, não se basta. Os moradores precisam de um pai e de uma mãe para chamar de seus.
De acordo com uma das cuidadoras da casa, Nelyana Vieira, em algum momento todos eles chamam por um pai. “A gente pode tentar oferecer tudo para elas, mas quando bate a saudade, se chateiam com alguma coisa, o que eles mais querem é a mãe ou o pai”, disse. É um instinto natural das crianças, que precisam de um porto seguro. É uma necessidade que vai aparecer mais cedo ou mais tarde.
As histórias são muitas, mas com passados em comum. Em um dos abrigos visitados pela reportagem, vive uma criança de um ano e meio que não sabe que a mãe é moradora de rua e usuária de drogas, porque saiu da maternidade direto para o abrigo. A casa de acolhimento foi o único lar que já conheceu. Outra bebê é filha de uma jovem de 14 anos com um traficante de drogas. A avó quis ficar com a criança, mas a Justiça entendeu que o ambiente é perigoso demais para um bebê. Há ainda um garoto com paralisia cerebral que foi rejeitado pelos pais.
Em um abrigo no bairro Treze de Maio, uma bebê de um ano e três meses é filha de uma usuária de drogas. O pai está detido em um presídio de João Pessoa, por tentativa de homicídio. A avó materna também quis ficar com ela, mas já criava outros cinco netos com apenas um salário mínimo. A menina tem alergia a lactose, situação que a avó nunca entendeu bem. A Justiça, após descobrir o caso durante uma grave crise de saúde da criança, decidiu que ela não poderia mais viver em condições indignas.
FÉ EM TER NOVOS PAIS
Algumas crianças têm na adoção um sonho distante, como é o caso de Cauã, de 12 anos. Ele vive em uma casa de acolhimento, mas ainda não foi destituído do poder da mãe. Lindinalva Silva, mãe de Cauã, teve oito filhos, mas cria apenas as três meninas mais novas. “Hoje eu não tenho condições de estar com meus filhos, mas não gostaria que eles fossem para adoção, porque não são cachorros. Eu tô viva, não tenho contato com o pai. Pedi esmola para dar de comer, já fiz muitas coisas erradas pra dar de comer a eles”, desabafou a mãe.
Cauã disse na audiência que quer ir para a adoção, quer ter um pai e uma mãe. “Minha mãe não tem condições de me criar, nem meu pai. É para quando eu crescer ajudar minha mãe e meu pai”, disse. Sobre a esperança de ser adotado ou não, Cauã tem apenas uma resposta. “Só precisa ter fé, né?”.
PROJETO FAZ ACOMPANHAMENTO
Por tantas mães decidirem pela adoção ainda na maternidade é que existe o projeto Acolher. De acordo com a coordenadora do setor de adoção da Vara da Infância, Maria Goretti, o projeto foi criado em 2010. Desde esse período, todas as mães que desejam doar esses bebês passam por uma triagem de dados e a Vara da Infância é acionada até o hospital para ouvir a mãe. “Nós entramos em contato com os familiares para ver a possibilidade desse bebê ficar em família. Com a sinalização dela e da família de que a criança não vai ficar, ela é dirigida para a Vara da Infância”, esclareceu.
Original disponível em: http://www.baltashow.com.br/artigo/usuaria-de-droga-muda-de-vida-na-pb-para-cuidar-de-filho-e-outras-criancas
Reproduzido por: Lucas H.
Casas de acolhimento recebem crianças e adolescente de qualquer idade. História foi contada na série 'Cuida de Mim', do JPB 1ª Edição.
“Já tenho dois filhos, não crio nenhum, será que vou ficar velha nessa vida?”, foi o que Fernanda Kelly da Silva pensou quando recebeu a notícia de que estava grávida novamente. Usuária de drogas e expulsa de casa pela mãe, ela resolveu mudar a própria vida para mudar também a vida do terceiro filho. Arthur nasceu nos braços de uma mãe que se tornou cuidadora em um abrigo para retribuir ao destino as mudanças que aconteceram na vida dela e que impediram seu filho de ter o mesmo destino da crianças que vivem no local no local.
A história de Artur e Fernanda foi contada na primeira reportagem da série "Cuida de Mim", do JPB 1ª Edição, nesta terça-feira (1º). No total, quatro reportagens contam histórias de crianças e abrigos com passado e futuro prontos para renascerem. As diversas motivações para uma criança sair do seio de sua família e ser abrigada numa casa de acolhida, podendo inclusive ser adotada por novos pais, foram o tema da primeira reportagem.
O caso de Fernanda, no entanto, é uma exceção, como destaca a assistente social Elk Nogueira. Segundo sua experiência, muitas outras mães decidem doar o próprio filho e não fraquejam na decisão, algumas já têm histórico de doação. "Mas, quando ela resolve que, mesmo na condição de vulnerabilidade em que se encontra, ela deseja cuidar do filho dela, então acionamos a rede de proteção", diz Elk. Esta foi a opção feita por Fernanda. Porém, caminho percorrido pela criança deixada para adoção é outro.
NECESSIDADE DE PAIS
Nas casas de acolhimento vivem crianças de qualquer idade. Elas chegaram a estes locais porque tiveram seus direitos violados de alguma forma. Na Casa Padre Pio, no município de Pedras de Fogo, por exemplo, trinta crianças e adolescentes vivem à procura de uma nova família ou tentando se reintegrar à família biológica.
Carlos, de 13 anos, transformou os colegas da casa em uma família. “Cada um se gosta, se ama. São meus irmãos. Eu gosto de brincar com tio Roberto, que é meu paizinho, e com a filha dele. Eu gosto dela, muito, como se fosse uma irmãzinha”, declarou. A família na Casa Padre Pio é grande, no entanto, não se basta. Os moradores precisam de um pai e de uma mãe para chamar de seus.
De acordo com uma das cuidadoras da casa, Nelyana Vieira, em algum momento todos eles chamam por um pai. “A gente pode tentar oferecer tudo para elas, mas quando bate a saudade, se chateiam com alguma coisa, o que eles mais querem é a mãe ou o pai”, disse. É um instinto natural das crianças, que precisam de um porto seguro. É uma necessidade que vai aparecer mais cedo ou mais tarde.
As histórias são muitas, mas com passados em comum. Em um dos abrigos visitados pela reportagem, vive uma criança de um ano e meio que não sabe que a mãe é moradora de rua e usuária de drogas, porque saiu da maternidade direto para o abrigo. A casa de acolhimento foi o único lar que já conheceu. Outra bebê é filha de uma jovem de 14 anos com um traficante de drogas. A avó quis ficar com a criança, mas a Justiça entendeu que o ambiente é perigoso demais para um bebê. Há ainda um garoto com paralisia cerebral que foi rejeitado pelos pais.
Em um abrigo no bairro Treze de Maio, uma bebê de um ano e três meses é filha de uma usuária de drogas. O pai está detido em um presídio de João Pessoa, por tentativa de homicídio. A avó materna também quis ficar com ela, mas já criava outros cinco netos com apenas um salário mínimo. A menina tem alergia a lactose, situação que a avó nunca entendeu bem. A Justiça, após descobrir o caso durante uma grave crise de saúde da criança, decidiu que ela não poderia mais viver em condições indignas.
FÉ EM TER NOVOS PAIS
Algumas crianças têm na adoção um sonho distante, como é o caso de Cauã, de 12 anos. Ele vive em uma casa de acolhimento, mas ainda não foi destituído do poder da mãe. Lindinalva Silva, mãe de Cauã, teve oito filhos, mas cria apenas as três meninas mais novas. “Hoje eu não tenho condições de estar com meus filhos, mas não gostaria que eles fossem para adoção, porque não são cachorros. Eu tô viva, não tenho contato com o pai. Pedi esmola para dar de comer, já fiz muitas coisas erradas pra dar de comer a eles”, desabafou a mãe.
Cauã disse na audiência que quer ir para a adoção, quer ter um pai e uma mãe. “Minha mãe não tem condições de me criar, nem meu pai. É para quando eu crescer ajudar minha mãe e meu pai”, disse. Sobre a esperança de ser adotado ou não, Cauã tem apenas uma resposta. “Só precisa ter fé, né?”.
PROJETO FAZ ACOMPANHAMENTO
Por tantas mães decidirem pela adoção ainda na maternidade é que existe o projeto Acolher. De acordo com a coordenadora do setor de adoção da Vara da Infância, Maria Goretti, o projeto foi criado em 2010. Desde esse período, todas as mães que desejam doar esses bebês passam por uma triagem de dados e a Vara da Infância é acionada até o hospital para ouvir a mãe. “Nós entramos em contato com os familiares para ver a possibilidade desse bebê ficar em família. Com a sinalização dela e da família de que a criança não vai ficar, ela é dirigida para a Vara da Infância”, esclareceu.
Original disponível em: http://www.baltashow.com.br/artigo/usuaria-de-droga-muda-de-vida-na-pb-para-cuidar-de-filho-e-outras-criancas
Reproduzido por: Lucas H.
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