Numa gravidez convencional, os pais e as famílias aguardam durante nove meses pela chegada do filho. Pode acontecer de ele chegar antes, mas jamais depois. No processo de adoção, as crianças também ficam à espera da família, espera essa que pode se tornar angustiante tanto para os pequenos como para os adotantes.
Conforme o advogado da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Ênio Gentil Vieira Júnior, são necessários três procedimentos para uma adoção seja deferida - habilitação/inscrição de pretendentes à adoção; destituição do poder familiar em relação aos pais biológicos; e colocação em família substituta (adoção propriamente dita).
Para a coordenadora administrativa Luciane Moreira Cruz, 35 anos, a gravidez invisível, destacada por ela como de coração, começou em 2011, quando ela e o marido já sabiam que não poderiam gerar filhos biologicamentes. “Ali eu começava a me preparar para ser mãe. Já amava essas crianças dentro de mim, sem elas existirem ainda. Hoje eu tenho o Noah, de 4 anos, e o Luca, de 3. Eu não imagino mais minha vida sem eles. Digo que recebi um chamado de Deus, um chamado para adotar os meus meninos”, conta.
Noah chegou com três dias de vida e Luca com um ano e meio. “A expectativa é muito grande. O processo de adoção demorou em torno de quatro anos, é uma espera sem fim. A adoção é uma felicidade que parte de uma dor da separação dos genitores, daqueles que geraram e deram o presente da vida, mas é preciso seguir em frente e ajudar a criança a se sentir segura e amada, sabendo que pertence aquela família independente do vínculo sanguíneo”, afirma.
Luciane conta que a maternidade vem lhe ensinando muitas coisas. “Os meninos se dão bem, eu trabalho com eles sobre companheirismo e oferecemos um lar de muito amor e muita verdade, contamos a história deles de maneira coerente com a idade deles. É um sonho realizado, pois eles estão crescendo felizes e saudáveis e completam a nossa família”, diz. Na falta de informação sobre adoção e gravidez invisível, ela criou o blog "Gravidez Invisível", que junto com outras profissionais e mães, informa e auxilia pessoas que passam pelo processo de adoção ou pretender adotar.
Questões burocráticas
É do cruzamento dos cadastros resultantes dos três procedimentos (um cadastro de pessoas interessadas à adoção e outro de crianças juridicamente prontas para a adoção) que resulta na indicação para a adoção, formulada pelo setor técnico (assistente social e psicólogo) da Vara da Infância, no qual se dá início ao processo de adoção. A indicação tem como propósito final garantir a adoção da criança, como todos os direitos inerentes ao instituto, considerando a igualdade de filiação.
O advogado Ênio Gentil Vieira Júnior orienta ainda a procura da informação com os órgãos responsáveis. “É importante que a informação seja buscada no Fórum, informação de credibilidade”, explica.
Encontro comemora o Dia Mundial da Adoção
Quando se fala em adoção, a maioria das pessoas tenta encontrar explicações para uma conta que não fecha. A realidade é que Santa Catarina tem hoje 1.428 crianças em instituições de acolhimento, sendo que apenas 10% estão em condições para adoção, destituídas do poder familiar, segundo dados da Ceja (Comissão Estadual Judiciária de Adoção). A maioria, no entanto, tem acima de dez anos, o que não se encaixa no perfil dos 2.732 pretendentes inscritos no cadastro.
Para debater este tema e comemorar o Dia Mundial da Adoção, celebrado em 9 de novembro, o GAP (Grupo Adoção em Pauta), do Instituto Hope House, realiza neste sábado (11), às 15h, um evento gratuito. Estarão presentes profissionais da área, entre eles o advogado Ênio Gentil Vieira Júnior, especialista no assunto, e o assistente social Edelvan Jesus da Conceição, que coordena um abrigo, na Capital.
Quando: 11/11, sábado, 15h
Onde: Instituto Hope House – rua João Pacheco da Costa, 43 (anexo à antiga Confraria das Artes), Lagoa da Conceição
Larissa morava na Casa de Acolhimento Semente Viva, no Norte da Ilha, e recebeu os presentes, não só os que havia pedido, mas recebeu uma mãe, um pai e irmãos. “Foi uma louca paixão. A gente sente uma ‘química’, é inexplicável. Mesmo com meus três filhos biológicos senti que a Larissa poderia me completar e dividir com ela a família que éramos. Eu não sosseguei até conseguir adotá-la. O processo de adoção demorou sete meses, mais rápido que o convencional, porque para idade dela não haviam pretendentes, afinal a maioria quer adotar bebês e não adolescentes”, comenta.
A cartinha de Natal de 2015 rendeu uma filha à Viviane, que não imaginava que mais à frente a família aumentaria, pois ela também adotou o irmão biológico de Larissa, Rogério*, hoje com 12 anos. “Me tornei voluntária para ficar próximo das crianças da Casa, e com isso descobri que Larissa tinha mais três irmãos no local, que estavam para adoção. Minha vontade era de levar todos para a minha casa, mas tive que me conter. Em maio desse ano, depois de o Rogério ir para três famílias e ter sido devolvido, eu senti que o que ele precisava era estar com a minha família, fazer parte dela. Senti que ele seria meu. O processo de adoção durou dez dias”, diz.
Mas o processo de adoção do Rogério não foi tão simples como parece. Vivane, que é mãe de outros adolescentes e jovens, de 12, 17 e 19 anos, teve primeiramente a adoção negada, ouvindo que o Rogério precisava ter uma família só para ele, precisava de muita atenção devido às marcas psicológicas deixadas pela família biológica, e que aquela já era uma família muito grande. “Numa audiência no dia 19 de maio deste ano, a juíza me questionou sobre eu estar preparada para lidar com ele, o filho que eu escolhi, pois aquela criança não poderia mais ser devolvida. Respondi com um questionamento: ‘se quando ele escolheu ser mãe, estava preparada para lidar com os problemas dos filhos’. Ela me responde que não”, conta. Naquele dia, Viviane saiu do Fórum como mãe adotiva de Rogério.
* Nomes fictícios
Original disponível em: https://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/os-lacos-de-uma-adocao-e-historias-que-deram-certo-em-florianopolis
Reproduzido por: Lucas H.
Conforme o advogado da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Ênio Gentil Vieira Júnior, são necessários três procedimentos para uma adoção seja deferida - habilitação/inscrição de pretendentes à adoção; destituição do poder familiar em relação aos pais biológicos; e colocação em família substituta (adoção propriamente dita).
Para a coordenadora administrativa Luciane Moreira Cruz, 35 anos, a gravidez invisível, destacada por ela como de coração, começou em 2011, quando ela e o marido já sabiam que não poderiam gerar filhos biologicamentes. “Ali eu começava a me preparar para ser mãe. Já amava essas crianças dentro de mim, sem elas existirem ainda. Hoje eu tenho o Noah, de 4 anos, e o Luca, de 3. Eu não imagino mais minha vida sem eles. Digo que recebi um chamado de Deus, um chamado para adotar os meus meninos”, conta.
Noah chegou com três dias de vida e Luca com um ano e meio. “A expectativa é muito grande. O processo de adoção demorou em torno de quatro anos, é uma espera sem fim. A adoção é uma felicidade que parte de uma dor da separação dos genitores, daqueles que geraram e deram o presente da vida, mas é preciso seguir em frente e ajudar a criança a se sentir segura e amada, sabendo que pertence aquela família independente do vínculo sanguíneo”, afirma.
Luciane conta que a maternidade vem lhe ensinando muitas coisas. “Os meninos se dão bem, eu trabalho com eles sobre companheirismo e oferecemos um lar de muito amor e muita verdade, contamos a história deles de maneira coerente com a idade deles. É um sonho realizado, pois eles estão crescendo felizes e saudáveis e completam a nossa família”, diz. Na falta de informação sobre adoção e gravidez invisível, ela criou o blog "Gravidez Invisível", que junto com outras profissionais e mães, informa e auxilia pessoas que passam pelo processo de adoção ou pretender adotar.
Questões burocráticas
É do cruzamento dos cadastros resultantes dos três procedimentos (um cadastro de pessoas interessadas à adoção e outro de crianças juridicamente prontas para a adoção) que resulta na indicação para a adoção, formulada pelo setor técnico (assistente social e psicólogo) da Vara da Infância, no qual se dá início ao processo de adoção. A indicação tem como propósito final garantir a adoção da criança, como todos os direitos inerentes ao instituto, considerando a igualdade de filiação.
O advogado Ênio Gentil Vieira Júnior orienta ainda a procura da informação com os órgãos responsáveis. “É importante que a informação seja buscada no Fórum, informação de credibilidade”, explica.
Encontro comemora o Dia Mundial da Adoção
Quando se fala em adoção, a maioria das pessoas tenta encontrar explicações para uma conta que não fecha. A realidade é que Santa Catarina tem hoje 1.428 crianças em instituições de acolhimento, sendo que apenas 10% estão em condições para adoção, destituídas do poder familiar, segundo dados da Ceja (Comissão Estadual Judiciária de Adoção). A maioria, no entanto, tem acima de dez anos, o que não se encaixa no perfil dos 2.732 pretendentes inscritos no cadastro.
Para debater este tema e comemorar o Dia Mundial da Adoção, celebrado em 9 de novembro, o GAP (Grupo Adoção em Pauta), do Instituto Hope House, realiza neste sábado (11), às 15h, um evento gratuito. Estarão presentes profissionais da área, entre eles o advogado Ênio Gentil Vieira Júnior, especialista no assunto, e o assistente social Edelvan Jesus da Conceição, que coordena um abrigo, na Capital.
SERVIÇO
O quê: Encontro Dia Mundial da AdoçãoQuando: 11/11, sábado, 15h
Onde: Instituto Hope House – rua João Pacheco da Costa, 43 (anexo à antiga Confraria das Artes), Lagoa da Conceição
"Foi uma louca paixão"
Em novembro de 2015, uma cartinha de Natal tirou o sossego da empresária Viviane, 42 anos. A cartinha pedia apenas uma calça jeans e um par de tênis, mas transformou a vida de Viviane e de sua família. “Eu estava no salão de beleza e uma amiga comentou que tinha as cartinhas. Uma era da Larissa*, hoje com 13 anos. Na cartinha não constava a numeração da menina e eu não sosseguei. Fui pra casa com o coração mexido e comentei com meus três filhos e com o marido sobre a situação. Eles prontamente me incentivaram a descobrir mais sobre essa menina e comprar os presentes”, conta.Larissa morava na Casa de Acolhimento Semente Viva, no Norte da Ilha, e recebeu os presentes, não só os que havia pedido, mas recebeu uma mãe, um pai e irmãos. “Foi uma louca paixão. A gente sente uma ‘química’, é inexplicável. Mesmo com meus três filhos biológicos senti que a Larissa poderia me completar e dividir com ela a família que éramos. Eu não sosseguei até conseguir adotá-la. O processo de adoção demorou sete meses, mais rápido que o convencional, porque para idade dela não haviam pretendentes, afinal a maioria quer adotar bebês e não adolescentes”, comenta.
A cartinha de Natal de 2015 rendeu uma filha à Viviane, que não imaginava que mais à frente a família aumentaria, pois ela também adotou o irmão biológico de Larissa, Rogério*, hoje com 12 anos. “Me tornei voluntária para ficar próximo das crianças da Casa, e com isso descobri que Larissa tinha mais três irmãos no local, que estavam para adoção. Minha vontade era de levar todos para a minha casa, mas tive que me conter. Em maio desse ano, depois de o Rogério ir para três famílias e ter sido devolvido, eu senti que o que ele precisava era estar com a minha família, fazer parte dela. Senti que ele seria meu. O processo de adoção durou dez dias”, diz.
Mas o processo de adoção do Rogério não foi tão simples como parece. Vivane, que é mãe de outros adolescentes e jovens, de 12, 17 e 19 anos, teve primeiramente a adoção negada, ouvindo que o Rogério precisava ter uma família só para ele, precisava de muita atenção devido às marcas psicológicas deixadas pela família biológica, e que aquela já era uma família muito grande. “Numa audiência no dia 19 de maio deste ano, a juíza me questionou sobre eu estar preparada para lidar com ele, o filho que eu escolhi, pois aquela criança não poderia mais ser devolvida. Respondi com um questionamento: ‘se quando ele escolheu ser mãe, estava preparada para lidar com os problemas dos filhos’. Ela me responde que não”, conta. Naquele dia, Viviane saiu do Fórum como mãe adotiva de Rogério.
* Nomes fictícios
Original disponível em: https://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/os-lacos-de-uma-adocao-e-historias-que-deram-certo-em-florianopolis
Reproduzido por: Lucas H.
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