Aos 50 anos, o empresário Luiz de Andrade não imaginava que iria se realizar com a coleção de figuras paternas, conquistadas a cada vez em que foi presenteado com um filho. O primogênito Luiz Fellipe, 23, dá ao pernambucano o título de pai de um filho homem. Mariana, 13, proporciona a experiência de ser pai de uma menina e, de quebra, conhecer o mundo das pessoas com necessidades especiais. Já a caçula Heloísa, 1 ano, veio para atestar a imensidão e infinidade do amor de pai, que transcende até mesmo os laços sanguíneos.
Apesar de ser múltiplo e de carregar consigo vários pais em um só, Luiz acredita que seu papel na vida dos filhos é singular, essencial, único. “Não quero nunca deixar riquezas. Quero deixar como legado a honestidade e o amor. Quero que eles sejam felizes, amem e sejam amados”, diz, buscando traduzir, em palavras, a grandeza do sentimento pelos rebentos.
Em 1994, o primeiro filho trouxe a Luiz o privilégio de adentrar por um território até então desconhecido. Por meio do desejado filho homem, cujo sexo foi um mistério ao longo das semanas de gravidez, ele soube, no momento em que viu a criança sair da sala de parto, que tinha cumprido uma missão. “A continuidade da minha vida estava ali, em mais um galho da minha árvore genealógica. Foi maravilhoso”, relembra.
Ao saber o sexo da criança, em pleno corredor do hospital, a alegria da descoberta tirou o pai de primeira viagem da unidade de saúde. “Saí comemorando pela comunidade dos Coelhos (Centro do Recife) assim que eu soube que era um menino”, diz, nostálgico. Ano após ano, ele descobriu, no filho, um companheiro. “Eu achava que estava ficando velho, aos 40, mas voltei a fazer jiu-jítsu por causa dele. Na época, fizemos juntos uns seis meses de artes marciais. Fazemos muita coisa juntos”, diz.
As desavenças aqui e ali, iniciadas na adolescência e de vez em quando presentes na vida adulta do filho, não abatem o pai “coruja”, que se orgulha do homem que criou. “Não é porque é meu filho, mas é um menino excelente. Eu sou fã do meu filho”, assume.
Dez anos depois, o anúncio de que a esposa estava grávida de uma menina trouxe ainda mais felicidade à família. Aos sete meses de gestação, no entanto, veio a surpresa, que, por alguns momentos, abalou a família.
“Minha mulher teve uma deficiência de ácido fólico durante a gravidez e disseram que isso ia trazer sequelas. Ficamos muito abalados, choramos muito, mas Deus faz tudo certo. Agradeço a Ele por ter mandado Mariana da forma que mandou”, conta. Para o pai, a cadeira de rodas e as dificuldades cognitivas, frutos da mielomeningocele, não impediram a menina de trazer um novo sentido à vida dele.
“Com Mariana, tive que aprender a viver no mundo de crianças especiais. Pude conhecer outras mães, outras histórias, ir a instituições de caridade e ter outra concepção do que é o mundo dessas pessoas. Todo dia é uma descoberta”, relata, sentindo-se igualmente desafiado e presenteado pela filha.
Já Heloísa, a terceira filha, veio após quatro anos e dez meses de espera na fila de adoção do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Quando a expectativa dos pais quase deixou abater pelo tempo, veio a notícia de que a pequena estava à espera do casal.
“Quando a gente viu a foto, foi amor à primeira vista. Ela não tem nada de diferente dos outros. Tudo que ela tem é lindo e parece que ela é nossa desde a gestação”, afirma. Pelo conforto da criança nos braços do pai, não há como negar a reciprocidade disso.
Apesar de ter a responsabilidade de educar três pessoas, o empresário acha, na verdade, que o aprendizado vem com os três filhos. Aprender a ser pai de um adulto. A celebrar cada conquista da filha especial. A ser criança novamente para acompanhar o pique da caçula.
As tarefas são intensas e requerem, muitas vezes, paciência e energia. Por outro lado, os abraços e sorrisos dos rebentos são um afago e representam a certeza de que ser pai é, provavelmente, uma das melhores coisas que Luiz poderia ser.
Original disponível em: http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/pai-plural-se-adapta-para-aprender-com-as-diferencas-dos-tres-filhos.ghtml
Reproduzido por: Lucas H.
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