sexta-feira, 6 de março de 2015

FILHAS REENCONTRAM A MÃE COM 'CORRENTE DO BEM' DA PREFEITURA


05/03/2015
Irmãs Márcia e Amanda Angeli vieram da Itália para o Brasil. Procura pela mãe biológica já durava mais de 20 anos.
Toda viagem transforma. Ainda mais uma viagem pelo Brasil. Mas para as irmãs Márcia (27) e Amanda Angeli (25), que deixaram a cidade italiana de Pescia, próximo a Firenze, na Toscana dos cenários cinematográficos, o retorno à pátria em fevereiro deste ano seria mais do que transformador. A procura da mãe biológica que não viam há mais de 20 anos chegou ao fim graças à ajuda da Prefeitura de Jundiaí e do Circolo Italiano.
Procurada pelas moças por meio da página no Facebook, a Prefeitura soube da história delas antes mesmo do embarque para o Brasil. Em contato com a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (Semads), descobriu-se o endereço da mãe biológica por causa de um benefício social que ela recebe. Assim, quando Marcia e Amanda visitaram o Paço Municipal, receberam da Secretaria de Comunicação Social a notícia com que tanto sonhavam.
A data de 11 de fevereiro passou a marcar a vida delas. Foi o dia em que puderam rever Silvana Pereira Barbosa (51) e conhecer o irmão Braian (12) - cuja existência nem sabiam, mas por quem já declaram o mais sincero amor fraternal. E na manhã da última sexta-feira (27), o café da manhã na sede do Circolo marcou a despedida das irmãs, que seguiram para a Itália no domingo (1º). “Agora que nos encontramos, ninguém mais poderá nos separar”, declara Marcia, enquanto abraçava a mãe.
Além de Marcia e Amanda, outras duas filhas de Silvana foram adotadas por outra família italiana: Suelen (23), que passou a se chamar Simona, e Franciele (20), que adotou o nome de Francesca. “Nossas outras duas irmãs não puderam vir conosco, mas estão acompanhando cada passo das nossas descobertas no Brasil. Embora elas tenham sido adotadas por outra família, temos muito contato com elas e moramos perto”, diz Amanda, que tinha 4 anos quando foi separada da mãe.
ADOÇÃO
Silvana não gosta de relembrar o momento da separação. Ela morava com o segundo marido, pai das duas filhas mais novas, com quem exercia a atividade de auxiliar de pedreiro. “Elas foram levadas de mim com a desculpa de que iriam ao médico. Quando soube quais seriam os verdadeiros destinos delas, tentei recorrer junto às autoridades, mas não obtive sucesso”, relata Silvana, que diz ter perdido uma gravidez por causa da separação das filhas, ter sido internada em um sanatório, além de passar a sofrer de diabetes e pressão alta. “Era como se eu estivesse em um buraco e, finalmente, começasse a sair dele.”
Já Marcia, que tinha 6 anos à época, relata que a mãe adotiva sempre tratou a situação de modo positivo e com carinho, nunca como um abandono. “Ela nos dizia que nossa mãe biológica tinha dado um presente a ela, que éramos nós! Mas eu só passei a entender tudo quando eu me tornei mãe da menina Sofia”, relata, sem conseguir esconder as lágrimas.
As condições financeiras de Silvana não melhoraram desde então e, por essa razão, recebe um benefício por meio da Prefeitura. “Não gostamos de ver o ambiente em que nossa mãe e nosso irmão vivem e, por isso, gostaríamos muito de levá-los a viver conosco na Itália. Chega de chorar mãe, você já chorou muito!”, diz Amanda, apresentando um novo horizonte para a vida da família, considerando também os entraves legais para isso.
MARCAS DO ENCONTRO
Silvana tem quatro borboletas tatuadas no braço direito, uma para cada filha “que voou”. Para presentear a mãe, Marcia e Amanda escolheram então dar um colar de borboleta e homenageá-la com uma tatuagem, também no braço direito: “Escolhemos tatuar um poema de um escritor de nossa terra, Vinícius de Moraes, e duas flores, representando nossas duas mães! Além do 11 de fevereiro, data que mudou os rumos de nossas vidas”, diz Marcia.
As irmãs Angeli regressam à Itália no domingo (1º), forçadas pelos respectivos compromissos. Esperam por elas os pais adotivos, grandes incentivadores do reencontro. Antes de partir, as irmãs demonstram a preocupação que têm com os amores recém-descobertos e o compromisso também pelo bem-estar. “Nós já tivemos o melhor. Agora queremos dar isso também a eles.”
Perguntadas sobre o que levam da viagem ao Brasil, as irmãs respondem em português com a mais genuinamente portuguesa das palavras: “Saudades!”.
Texto: Fred Zanatta
Fotos: Paulo Grégio
http://g1.globo.com/…/filhas-reencontram-mae-com-corrente-d…

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