03/12/2016
A artesã Rosângela Batista Tatin, de 39 anos, sempre se virou bem com o fato de ser filha adotiva. Mas, aos 35 anos, quando a mãe adotiva morreu, sentiu um vazio que não sabia explicar: precisava saber mais das origens e de sua família biológica. Em abril do ano passado, contou sua história em um grupo fechado de Facebook, onde deixou todos os dados de sua certidão de nascimento. O resultado veio poucos dias depois: um telefone e um endereço.
Como Rosângela, centenas de filhos adotivos têm recorrido a grupos fechados e páginas na rede social para pedir informações do paradeiro de seus pais biológicos. A reportagem conseguiu identificar ao menos dez grupos do gênero, com entre mil e 3 mil membros, mas seus criadores dizem que há mais de cem na rede.
As páginas têm em comum depoimentos emocionados e desesperados daqueles que tentam entender mais de seu passado. Quem as controla são usuários da rede, voluntários de todo o país, de advogada a bancária aposentada. Sem cobrar nada, os grupos fazem uso de ferramentas virtuais que usam cadastros comerciais.
Ilegalidade
A ação é vista com ressalvas pelo Ministério Público Estadual. Mas Rosângela não esperou nem um dia: ligou em seguida para o número que recebeu. "Aqui é a filha da senhora", disse, sem nem saber direito quem estava do outro lado. E assim começou uma conversa que duraria horas e levaria mãe e filha a se conhecerem "Hoje eu a chamo de mãe e nossa relação é de amizade. Vamos nos ver de novo na Páscoa."
Apesar da distância de quase 800 quilômetros - a filha mora em Mariópolis, no sudoeste do Paraná, e a mãe, em Itajaí, Santa Catarina - marcaram um encontro que aconteceria meses depois. Não havia rancor: Rosângela conta que a mãe adotiva havia contado todos os detalhes - depois, confirmados.
A mãe biológica, Lorena, sofreu nas mãos de dois homens quando engravidou: primeiro pelo próprio companheiro, que fazia faculdade em Curitiba (PR) e "mandou ela se virar". Depois, do pai, que bateu na filha ao descobrir a gravidez e a fez fugir de casa. Foi para Pato Branco, a 17 quilômetros de Mariópolis, para trabalhar como enfermeira. "Ela precisava me dar para alguém senão o pai não a aceitaria de volta", contou Rosângela. Doou a
criança no mesmo hospital onde a teve.
Rede
Rosângela decidiu retribuir a ajuda que teve e criou uma página no Facebook para ajudar outras pessoas. Trata-se de uma trajetória comum nos grupos: a dona da página em que ela publicou sua história, a assistente de administração Maria de Fátima Florentina, de 58 anos, moradora de Praia Grande (SP), também já tinha sido ajudada.
"Fiz de tudo para procurar minha mãe biológica", disse Fátima. Até que um dia recebeu uma dica na rede social de um policial militar do Mato Grosso, dizendo que a mulher tinha endereço na cidade de Nova Era, no interior de Minas. "Percorri os grupos de Facebook dessa cidade até que um socorrista me falou dela", conta.
A progenitora não se interessou pelo contato e logo se esquivou. "Você é minha filha? Mas qual das que eu dei pra adoção?", disse ao telefone.
São minoria os casos que resultam em sucesso. A dona de casa Ana Santos, de 40 anos, de Jundiaí (SP), diz que já recorreu a diversos grupos e até hoje não conseguiu localizar o pai biológico. Apesar de ter todos os documentos do homem e seu nome, só obteve um endereço antigo. "Até procurei na rua, perguntei, mas ninguém sabia."
Cuidados
Apesar da facilidade de ação com as redes sociais, a busca por informações de familiares requer cuidados. Para a psicóloga comportamental Denise Diniz, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é preciso evitar a exposição de outras pessoas envolvidas e também se perguntar qual é o objetivo da busca, sabendo das consequências. "Estamos falando de uma busca de identidade e pela própria história. Pode dar muito certo e haver uma aproximação. Mas pode não dar e a pessoa, que já tem uma vida seguindo, ter uma surpresa", diz.
Ela ressalta que é preciso se perguntar sempre antes do porquê se está fazendo essa busca e o que se espera. "Muitas vezes a pessoa vai encontrar alguém completamente diferente da fantasia ou expectativa e pode se frustrar. Por isso a pergunta: o que eu estou esperando disto?"
Ela lembra também que a exposição de informações de outras pessoas - a mãe, por exemplo - nas redes sociais pode gerar constrangimentos, e que a ação deve ser feita com cuidado. "Será que o outro quer ser exposto?"
A artesã Rosângela Batista Tatin, de 39 anos, sempre se virou bem com o fato de ser filha adotiva. Mas, aos 35 anos, quando a mãe adotiva morreu, sentiu um vazio que não sabia explicar: precisava saber mais das origens e de sua família biológica. Em abril do ano passado, contou sua história em um grupo fechado de Facebook, onde deixou todos os dados de sua certidão de nascimento. O resultado veio poucos dias depois: um telefone e um endereço.
Como Rosângela, centenas de filhos adotivos têm recorrido a grupos fechados e páginas na rede social para pedir informações do paradeiro de seus pais biológicos. A reportagem conseguiu identificar ao menos dez grupos do gênero, com entre mil e 3 mil membros, mas seus criadores dizem que há mais de cem na rede.
As páginas têm em comum depoimentos emocionados e desesperados daqueles que tentam entender mais de seu passado. Quem as controla são usuários da rede, voluntários de todo o país, de advogada a bancária aposentada. Sem cobrar nada, os grupos fazem uso de ferramentas virtuais que usam cadastros comerciais.
Ilegalidade
A ação é vista com ressalvas pelo Ministério Público Estadual. Mas Rosângela não esperou nem um dia: ligou em seguida para o número que recebeu. "Aqui é a filha da senhora", disse, sem nem saber direito quem estava do outro lado. E assim começou uma conversa que duraria horas e levaria mãe e filha a se conhecerem "Hoje eu a chamo de mãe e nossa relação é de amizade. Vamos nos ver de novo na Páscoa."
Apesar da distância de quase 800 quilômetros - a filha mora em Mariópolis, no sudoeste do Paraná, e a mãe, em Itajaí, Santa Catarina - marcaram um encontro que aconteceria meses depois. Não havia rancor: Rosângela conta que a mãe adotiva havia contado todos os detalhes - depois, confirmados.
A mãe biológica, Lorena, sofreu nas mãos de dois homens quando engravidou: primeiro pelo próprio companheiro, que fazia faculdade em Curitiba (PR) e "mandou ela se virar". Depois, do pai, que bateu na filha ao descobrir a gravidez e a fez fugir de casa. Foi para Pato Branco, a 17 quilômetros de Mariópolis, para trabalhar como enfermeira. "Ela precisava me dar para alguém senão o pai não a aceitaria de volta", contou Rosângela. Doou a
criança no mesmo hospital onde a teve.
Rede
Rosângela decidiu retribuir a ajuda que teve e criou uma página no Facebook para ajudar outras pessoas. Trata-se de uma trajetória comum nos grupos: a dona da página em que ela publicou sua história, a assistente de administração Maria de Fátima Florentina, de 58 anos, moradora de Praia Grande (SP), também já tinha sido ajudada.
"Fiz de tudo para procurar minha mãe biológica", disse Fátima. Até que um dia recebeu uma dica na rede social de um policial militar do Mato Grosso, dizendo que a mulher tinha endereço na cidade de Nova Era, no interior de Minas. "Percorri os grupos de Facebook dessa cidade até que um socorrista me falou dela", conta.
A progenitora não se interessou pelo contato e logo se esquivou. "Você é minha filha? Mas qual das que eu dei pra adoção?", disse ao telefone.
São minoria os casos que resultam em sucesso. A dona de casa Ana Santos, de 40 anos, de Jundiaí (SP), diz que já recorreu a diversos grupos e até hoje não conseguiu localizar o pai biológico. Apesar de ter todos os documentos do homem e seu nome, só obteve um endereço antigo. "Até procurei na rua, perguntei, mas ninguém sabia."
Cuidados
Apesar da facilidade de ação com as redes sociais, a busca por informações de familiares requer cuidados. Para a psicóloga comportamental Denise Diniz, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), é preciso evitar a exposição de outras pessoas envolvidas e também se perguntar qual é o objetivo da busca, sabendo das consequências. "Estamos falando de uma busca de identidade e pela própria história. Pode dar muito certo e haver uma aproximação. Mas pode não dar e a pessoa, que já tem uma vida seguindo, ter uma surpresa", diz.
Ela ressalta que é preciso se perguntar sempre antes do porquê se está fazendo essa busca e o que se espera. "Muitas vezes a pessoa vai encontrar alguém completamente diferente da fantasia ou expectativa e pode se frustrar. Por isso a pergunta: o que eu estou esperando disto?"
Ela lembra também que a exposição de informações de outras pessoas - a mãe, por exemplo - nas redes sociais pode gerar constrangimentos, e que a ação deve ser feita com cuidado. "Será que o outro quer ser exposto?"
Original disponível em: http://hojeemdia.com.br/primeiro-plano/filhos-adotados-conseguem-encontrar-os-pais-biol%C3%B3gicos-usando-redes-sociais-1.431874
Reproduzido por: Lucas H.
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