13/09/2017
De acordo com o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), do Conselho Nacional de Justiça, há cerca de 7,2 mil crianças aptas para adoção no Brasil. Muitas delas permanecem em abrigos por anos até que sejam recebidas por uma nova família. Outras chegam à maioridade na instituição e precisam procurar outro lugar para morar.
Em um abrigo de Jacareí, em São Paulo, com 16 crianças e adolescentes, está um menino de 11 anos. Ele tinha um ano de idade quando foi vendido pela mãe, que queria dinheiro para comprar drogas. O garoto vive em abrigos desde os três anos, chegou a morar com oito famílias diferentes, mas foi devolvido todas as vezes durante o período de convivência, que é o estágio anterior à adoção.
“A agitação dele e a falta de limite não deixa de ser fruto de tanto rompimento de vínculo ao longo da trajetória de vida. A última devolução aconteceu porque não houve uma adaptação dentro da família. A família não teve informação clara das questões, dessa agitação, não conseguiu lidar com essa demanda, não tinha vínculo fortalecido com ele”, explica o psicólogo Adriano Fonseca.
No mesmo abrigo vive um menino que fugiu de casa porque o padrasto batia nele e ameaçava abusar sexualmente da irmã mais nova. Ele e a irmã foram para o abrigo em 2013. Em 2015, a operária Leila Silva e o marido pediram a guarda provisória dos irmãos: “Como a psicóloga falou pra gente que o que ele precisava era de carinho, amor e atenção, a gente pensou que isso a gente tinha de sobra. Só que a gente não tinha experiência de lidar com traumas. O menino tinha muita dificuldade de ouvir não. Ele gritava, gritava de urrar. Uma vez, uma pessoa na frente de casa viu ele gritando e achou que a gente estava batendo nele, mas não estava. Era uma crise e a polícia chegou, conversou com ele, conversou com a gente. Levei ele em psicólogos, tinha paciência com ele”.
Durante uma das crises, o marido de Leila chegou a passar mal. Depois de seis meses morando com as crianças, o casal decidiu devolvê-los para o abrigo. “Quando a gente viu que a gente não ia conseguir ser o que eles precisavam, a gente teve que tomar essa atitude, mas dói muito”, desabafa Leila.
“Quando uma família pretendente à adoção recebe uma criança ou adolescente em guarda, tem que receber junto a história inteira dele, o histórico escolar, pedagógico, de saúde, de saúde mental, para o bem e para o mal. Inclusive as notícias mais desagradáveis e preocupantes têm que ser de conhecimento de quem está recebendo a criança para que nunca se alegue que foi enganado”, afirma a promotora de Justiça Renata Rivitti.
Os irmãos acabaram se separando. Hoje, a menina mora com parentes, na Bahia. O menino continua no abrigo e passa os finais de semana com a mãe biológica, que se separou do padrasto agressor.
Maioridade
Abraão mora em abrigos desde os cinco anos de idade. Agora, que completou 18 anos, se prepara para deixar o acolhimento. Ele trabalha como jovem aprendiz em uma empresa que prepara e entrega refeições.
A educadora Simone Ripari foi diretora do abrigo por 11 anos e fala um pouco do jovem: “No começo foi difícil. Ele não queria acordar para trabalhar, então eram brigas, ele xingava, ele achava ruim. Nosso trabalho dentro do abrigo é insistir no adolescente para que com 18 anos, quando não tem mais jeito, quando não tem mais apadrinhamento, adoção, quando não tem mais nada, ele tenha autonomia”.
A mãe biológica de Abraão mora no bairro de Cangaíba, um dos mais violentos de São Paulo. Ela toma remédios para depressão e epilepsia e tem 11 filhos. Os três mais novos moram no abrigo com Abraão e apenas um mora com ela, Ezequiel, de 20 anos, que também morou no abrigo até os 18. Ao sair do abrigo, Abraão vai se juntar ao irmão. O pai de Abraão mora na rua, às margens do rio Tietê.
Uma vez por semana, Abraão e outros jovens que também estão saindo ou já saíram do abrigo se reúnem no o Instituto Fazendo História, que tenta ajudá-los a ter uma vida independente. Alice da Silva, de 18 anos, diz que não se sente preparada para sair do abrigo: “Se você tiver um lugar pra ir, você deu sorte. E se você não tiver lugar pra ir, não tiver república, você vai pra onde? Essa é a pergunta que fica. Você pode voltar pra casa da sua mãe, você pode virar mendigo, você pode fazer um monte de coisa”.
Mais chances de ser adotado
Para aumentar as chances de adoção, o Tribunal de Justiça de Vitória decidiu mostrar o rosto de crianças e jovens que sonham com uma nova família, produzindo vídeos para a internet. “A gente quer mostrar que essas crianças que são mais velhas ou que possuem alguma limitação também merecem a chance de ter uma família”, conta Taís Valle, assessora de imprensa do TJ.
Até agora, os vídeos já tiveram mais de 50 mil visualizações. Vinte e duas crianças e adolescentes toparam participar do projeto e 15 despertaram interesse de pretendentes para adoção. Os vídeos ficam no www.esperandoporvoce.com.br. Confira acima alguns dos jovens que participam desse projeto.
O Tribunal de Justiça criou um banco de dados para organizar as informações das crianças e adolescentes que podem ser adotados. Hoje, no Espírito Santo, 110 crianças e adolescentes aguardam adoção, 95 tem mais de 10 anos, 14 tem entre dois e nove e apenas uma tem menos de dois.
Quase todos os interessados em adotar aceita uma criança que acabou de nascer, já os adolescentes praticamente não têm pretendentes. Em 2016, o Cadastro Nacional registrou 1.226 adoções de crianças e adolescentes no Brasil, apenas 13 tinham entre 15 e 17 anos.
Original disponível em: http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2017/09/criancas-e-adolescentes-passam-anos-espera-de-adocao.html
Reproduzido por: Lucas H.
De acordo com o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), do Conselho Nacional de Justiça, há cerca de 7,2 mil crianças aptas para adoção no Brasil. Muitas delas permanecem em abrigos por anos até que sejam recebidas por uma nova família. Outras chegam à maioridade na instituição e precisam procurar outro lugar para morar.
Em um abrigo de Jacareí, em São Paulo, com 16 crianças e adolescentes, está um menino de 11 anos. Ele tinha um ano de idade quando foi vendido pela mãe, que queria dinheiro para comprar drogas. O garoto vive em abrigos desde os três anos, chegou a morar com oito famílias diferentes, mas foi devolvido todas as vezes durante o período de convivência, que é o estágio anterior à adoção.
“A agitação dele e a falta de limite não deixa de ser fruto de tanto rompimento de vínculo ao longo da trajetória de vida. A última devolução aconteceu porque não houve uma adaptação dentro da família. A família não teve informação clara das questões, dessa agitação, não conseguiu lidar com essa demanda, não tinha vínculo fortalecido com ele”, explica o psicólogo Adriano Fonseca.
No mesmo abrigo vive um menino que fugiu de casa porque o padrasto batia nele e ameaçava abusar sexualmente da irmã mais nova. Ele e a irmã foram para o abrigo em 2013. Em 2015, a operária Leila Silva e o marido pediram a guarda provisória dos irmãos: “Como a psicóloga falou pra gente que o que ele precisava era de carinho, amor e atenção, a gente pensou que isso a gente tinha de sobra. Só que a gente não tinha experiência de lidar com traumas. O menino tinha muita dificuldade de ouvir não. Ele gritava, gritava de urrar. Uma vez, uma pessoa na frente de casa viu ele gritando e achou que a gente estava batendo nele, mas não estava. Era uma crise e a polícia chegou, conversou com ele, conversou com a gente. Levei ele em psicólogos, tinha paciência com ele”.
Durante uma das crises, o marido de Leila chegou a passar mal. Depois de seis meses morando com as crianças, o casal decidiu devolvê-los para o abrigo. “Quando a gente viu que a gente não ia conseguir ser o que eles precisavam, a gente teve que tomar essa atitude, mas dói muito”, desabafa Leila.
“Quando uma família pretendente à adoção recebe uma criança ou adolescente em guarda, tem que receber junto a história inteira dele, o histórico escolar, pedagógico, de saúde, de saúde mental, para o bem e para o mal. Inclusive as notícias mais desagradáveis e preocupantes têm que ser de conhecimento de quem está recebendo a criança para que nunca se alegue que foi enganado”, afirma a promotora de Justiça Renata Rivitti.
Os irmãos acabaram se separando. Hoje, a menina mora com parentes, na Bahia. O menino continua no abrigo e passa os finais de semana com a mãe biológica, que se separou do padrasto agressor.
Maioridade
Abraão mora em abrigos desde os cinco anos de idade. Agora, que completou 18 anos, se prepara para deixar o acolhimento. Ele trabalha como jovem aprendiz em uma empresa que prepara e entrega refeições.
A educadora Simone Ripari foi diretora do abrigo por 11 anos e fala um pouco do jovem: “No começo foi difícil. Ele não queria acordar para trabalhar, então eram brigas, ele xingava, ele achava ruim. Nosso trabalho dentro do abrigo é insistir no adolescente para que com 18 anos, quando não tem mais jeito, quando não tem mais apadrinhamento, adoção, quando não tem mais nada, ele tenha autonomia”.
A mãe biológica de Abraão mora no bairro de Cangaíba, um dos mais violentos de São Paulo. Ela toma remédios para depressão e epilepsia e tem 11 filhos. Os três mais novos moram no abrigo com Abraão e apenas um mora com ela, Ezequiel, de 20 anos, que também morou no abrigo até os 18. Ao sair do abrigo, Abraão vai se juntar ao irmão. O pai de Abraão mora na rua, às margens do rio Tietê.
Uma vez por semana, Abraão e outros jovens que também estão saindo ou já saíram do abrigo se reúnem no o Instituto Fazendo História, que tenta ajudá-los a ter uma vida independente. Alice da Silva, de 18 anos, diz que não se sente preparada para sair do abrigo: “Se você tiver um lugar pra ir, você deu sorte. E se você não tiver lugar pra ir, não tiver república, você vai pra onde? Essa é a pergunta que fica. Você pode voltar pra casa da sua mãe, você pode virar mendigo, você pode fazer um monte de coisa”.
Mais chances de ser adotado
Para aumentar as chances de adoção, o Tribunal de Justiça de Vitória decidiu mostrar o rosto de crianças e jovens que sonham com uma nova família, produzindo vídeos para a internet. “A gente quer mostrar que essas crianças que são mais velhas ou que possuem alguma limitação também merecem a chance de ter uma família”, conta Taís Valle, assessora de imprensa do TJ.
Até agora, os vídeos já tiveram mais de 50 mil visualizações. Vinte e duas crianças e adolescentes toparam participar do projeto e 15 despertaram interesse de pretendentes para adoção. Os vídeos ficam no www.esperandoporvoce.com.br. Confira acima alguns dos jovens que participam desse projeto.
O Tribunal de Justiça criou um banco de dados para organizar as informações das crianças e adolescentes que podem ser adotados. Hoje, no Espírito Santo, 110 crianças e adolescentes aguardam adoção, 95 tem mais de 10 anos, 14 tem entre dois e nove e apenas uma tem menos de dois.
Quase todos os interessados em adotar aceita uma criança que acabou de nascer, já os adolescentes praticamente não têm pretendentes. Em 2016, o Cadastro Nacional registrou 1.226 adoções de crianças e adolescentes no Brasil, apenas 13 tinham entre 15 e 17 anos.
Original disponível em: http://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2017/09/criancas-e-adolescentes-passam-anos-espera-de-adocao.html
Reproduzido por: Lucas H.
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