18/09/2017
Para a diretora do abrigo e assistente social Soraia Guimarães, a história de Juca é considerada inédita, já que a maior parte dos pretendentes à adoção não busca pessoas com necessidades especiais e maiores de idade. “Eles se tornam invisíveis, não têm amparo, legislação específica e instituição para encaminhá-los. Ficam por aqui”, observa. Juca não tem sobrenome, sua idade foi avaliada através da estrutura óssea e não é alfabetizado.
A técnica deixou o emprego e a faculdade de pedagogia para cuidar exclusivamente do garoto, que tem um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, afetando a aprendizagem. “Já tinha uma pessoa interessada em ficar com ele. Me angustiei”, lembra, durante o processo de adoção. Hoje, ela tem a guarda de Flávio, e espera que até o próximo mês os trâmites da adoção sejam concluídos. “Ele terá meu nome e todos os direitos de filho.”
Original disponível em: http://m.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-451438-adocao-e-um-processo-dificil-imagina-adotar-pessoas-com-deficiencias.html
Mãe de três filhos, sendo o mais velho de 34, a auxiliar financeira, Silvia Figueiras, aos 58 anos, tomou a decisão de ser mãe novamente. Ela escolheu cuidar de Joaquim, o Juca, que requer todos os cuidados de uma criança, mesmo tendo 38 anos. O relacionamento deles já tem quase uma década. No entanto, foi em julho que ela pediu à Justiça a curatela de Juca, que tem síndrome de down. Por ser maior de idade, a Justiça não permite que ele seja adotado. Mas, como ele precisa de acompanhamento, Silvia pediu a total responsabilidade sobre ele.
O amor à primeira vista aconteceu no Abrigo Especial Calabriano, em Belém, onde Silva trabalha desde a fundação, há 11 anos. Foi quando Juca chegou ao local vindo de outra instituição de acolhimento. “Por ser carinhoso, ficamos próximos. Nos fins de semana e feriados, eu o levava pra minha casa. Já era parte da minha família”, recorda. Percebendo que seria quase impossível Juca sair do abrigo e ter um lar de fato, ela entrou com o processo de curatela, que é feito pela Defensoria Pública e o tempo é menor que na adoção, cerca de 8 meses.
Com a permissão da Justiça, atualmente Juca está morando na casa de Silvia. Ele dorme ao lado dela, tem dois cachorros, avó, irmãos e chama seu cunhado de pai. Juca pronuncia com dificuldade algumas palavras, mas, com o rosto e as mãos ele articula: “Ela mora no meu coração. A minha mãe”, diz.
SEM AMPARO
Para a diretora do abrigo e assistente social Soraia Guimarães, a história de Juca é considerada inédita, já que a maior parte dos pretendentes à adoção não busca pessoas com necessidades especiais e maiores de idade. “Eles se tornam invisíveis, não têm amparo, legislação específica e instituição para encaminhá-los. Ficam por aqui”, observa. Juca não tem sobrenome, sua idade foi avaliada através da estrutura óssea e não é alfabetizado.
Aberto há 11 anos, o abrigo que acolhe pessoas com deficiências físicas e neurológicas já tramitou 18 adoções. O número é comemorado pela instituição, porém é uma realidade preocupante. “Tem locais que pessoas com deficiência não são adotadas no Brasil”, avalia Soraia. Entretanto, por ali, nem todos estiveram a mesma sorte de Juca. Dos 43 acolhidos no Calabriano, 23 se tornaram adultos invisíveis nos dados cadastrais e não têm para onde ir.
Qualquer pessoa pode pretender a adoção
Para o juiz João Augusto de Oliveira Junior, titular da 1° Vara da Infância e Juventude de Belém, a adoção significa a garantia de um direito fundamental da criança/adolescente, que é ter a convivência familiar, “seja natural ou formada por terceiros”, explica. A Justiça entende que o primeiro passo para uma criança que foi separada dos pais é fazer a aproximação com a família destes, como as avós. Caso não haja esta possibilidade, ela será encaminhada aos abrigos de acolhimento.
Em Belém, há 7 desses abrigos. “Nosso objetivo é dar um lar: um sentimento de pertencimento à criança”, esclarece o magistrado. Para o entendimento jurídico, não há um modelo exclusivo de família. Atualmente, é permitido que viúvos, solteiros e pessoas com orientação homoafetiva entrem na fila. Uma equipe técnica faz um estudo psicossocial e avalia se o pretendente tem condições para ter a guarda do menor de idade.
“Eu não sei mais viver sem ele”
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Não estava nos planos de Aline Medeiros, 32 anos, ser mãe antes de casar e sair da casa dos pais. Envolvida pelo afeto por Flávio, 5, ela rendeu-se aos encantos da maternidade e, hoje, considera estar vivendo um dos momentos mais lindos de sua vida. A técnica de enfermagem conheceu o menino em 2015, no abrigo Especial Calabriano. “Eu não sei mais viver sem ele”, reitera emocionada.
A técnica deixou o emprego e a faculdade de pedagogia para cuidar exclusivamente do garoto, que tem um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, afetando a aprendizagem. “Já tinha uma pessoa interessada em ficar com ele. Me angustiei”, lembra, durante o processo de adoção. Hoje, ela tem a guarda de Flávio, e espera que até o próximo mês os trâmites da adoção sejam concluídos. “Ele terá meu nome e todos os direitos de filho.”
PREPARO
Entre as alterações da Lei de Adoção feitas em 2016, todas as pessoas com mais de 18 anos podem adotar uma criança ou adolescente, inclusive as solteiras. E este, foi um dos incentivos que Aline teve na hora de tomar a decisão de pedir a guarda de Flávio sozinha. Hoje ela está noiva e conta com o apoio do companheiro nessa jornada. E a vida lhe reservou outro presente: está grávida de 3 meses.
A psicóloga jurídica Brenda Costa diz que a adoção, primeiramente, é um ato de amor. “O processo com deficientes é mais trabalhoso. Mas, quando se cria o afeto, os problemas se tornam secundários diante ao amor”. A especialista acredita que o pretendente precisa estar preparado psicologicamente antes de tomar a decisão. “A adoção tem de ser feita com cuidado. Sem ansiedade, expectativas”, recomenda.
ABRIGO
Atualmente, o Abrigo Especial Calabriano/ URE-REI, tem 23 adultos acolhidos e 20 crianças e adolescentes com algum tipo de deficiência. Agende uma visita ao local pelo telefone: 3244-5714. Todos os sábados, das 9h às 11h, o local está aberto para visitantes. Endereço: Av. Senador Lemos, nº 1431. Entre Djalma Dutra e Magno de Araújo – ao lado de uma agência do Banco do Brasil.
(Roberta Paraense/Diário do Pará)
Reproduzido por: Lucas H.
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