quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Sonhos e amor se entrelaçam em histórias de adoção (Reprodução)

25/12/2017

Para Iva Viebrantz, acima de tudo, adoção é amor. A analista de sistemas e o marido, o cirurgião-dentista Rudnei Luís Nardes, viram a vida mudar em 19 de fevereiro de 2010, quando foram até a cidade mineira de Itajubá para conhecer as filhas Vitória e a Waleska, na época, com 4 e 2 anos, respectivamente. 'Mudou tudo. Não porque adotamos as meninas, mas sim porque decidimos ter filhos. Ter filhos é isso: desacomodação', define a mãe.

A história da família Viebrantz-Nardes é uma das que estão por trás das 56 adoções realizadas em Venâncio Aires nos últimos dez anos. Para além do número, estão trajetórias de crianças e adolescentes abandonados pelas famílias biológicas, ou afastados delas por situações de abandono, negligência severa e maus tratos, que encontraram em famílias do coração a chance de uma nova vida.

Fazer com que o tempo de espera para esse encontro seja reduzido está entre os objetivos de alterações na lei e campanhas do Poder Judiciário, nos últimos anos. No mês passado, o presidente Michel Temer sancionou lei que estabelece que crianças e adolescentes com deficiência e doença crônica tenham prioridade na adoção, assim como grupos de irmãos.

Ainda, de acordo com o texto, a Justiça terá até quatro meses, prorrogáveis por mais quatro, para concluir a habilitação da adoção. Já o período de convivência, que antecede a adoção, não poderá passar de três meses.

De acordo com a juíza Maria Beatriz Londero Madeira, da 2ª Vara Judicial da Comarca de Venâncio Aires, o objetivo das alterações é dar agilidade ao processo. Ao mesmo tempo, ela comenta que, nos últimos anos, busca-se conscientizar os candidatos à adoção sobre a importância de flexibilizar o perfil da criança a ser adotada.

A preferência nacional por crianças recém-nascidas não condiz com a demanda de crianças aptas para adoção - que inclui grupos de irmãos, crianças mais velhas e com deficiência. Ao mesmo tempo que pessoas permanecem anos na fila de adoção, há quem passe toda a infância e a adolescência em abrigos. 'A criança permanece anos no abrigo e sai do perfil que é o desejado. Ao mesmo tempo, quem quer uma criança recém-nascida pode ficar até 15 anos esperando', observa a magistrada.

'Dar o filho para adoção não é crime', destaca juíza

Para a juíza Maria Beatriz Londero Madeira, um aspecto que deve ser destacado quando se fala em adoção é que dar o filho para adoção não é crime. 'Existe toda uma rede de atendimento a quem quer doar seu filho. Isso não é crime. Crime é abandonar uma criança na lata de lixo ou na porta do hospital, enquanto há famílias esperando por um filho', frisa.

A magistrada garante que, além de toda assistência, é garantido sigilo a mães que manifestarem o desejo de doar a criança, já durante a gestação. Para isso, é preciso ir até o Fórum ou mesmo avisar que não quer o bebê, no posto de saúde, durante o pré-natal; no hospital ou no Conselho Tutelar.
De acordo com a juíza, nesses casos, o processo de adoção é muito rápido, porque há a vontade da mãe de doar o filho, um casal apto para adotar e um tempo reduzido de adaptação com a nova família é pequeno, pois se trata de um bebê. 'Em um mês, pode estar concluído.'

'Filho é filho, biológico ou não'

Iva Viebrantz e Rudnei Luís Nardes ingressaram no Cadastro Nacional de Adoção em 2005. No entanto, foi no fim de 2009, por meio de contatos, que souberam de duas irmãs em uma casa de passagem de Itajubá, em Minas Gerais. As meninas aguardavam há quase dois anos pela adoção, sendo que a mais nova, Waleska, estava no local desde os seis meses. 

A exigência da Justiça, de que as duas garotas fossem adotadas pela mesma família, se cruzou com o sonho de Iva e Rudnei. 'Tínhamos o desejo de ter pelo menos, duas crianças. Nos inscrevemos aceitando essa condição', afirma a mãe. 

Iva lembra que, para o casal, o projeto de adoção sempre existiu e já era discutido na época de namoro - embora ela não saiba dizer, exatamente, o porquê. 'O plano era termos filhos biológicos e adotados. O desejo era ter uma casa cheia de crianças. Não foi possível ter os biológicos e então partimos para a adoção', conta. 'Em 19 de fevereiro de 2010, fomos conhecer - pois não as conhecíamos nem por fotos - e buscar nossas filhas', relembra.

Para a mãe de Vitória e Waleska, hoje com 12 e 10 anos, a maior adaptação, depois da adoção, é a conjugal, assim com ocorre com filhos biológicos. 'A questão não é a adoção; a questão é o desejo por ter filhos. Filho é filho, biológico ou não. Aliás, os filhos biológicos também precisam ser adotados. Todos precisam se conhecer, estabelecer regras, limites, criar laços afetivos', enfatiza.

Para Iva, se para os pais que são adultos, é complicada essa adaptação, para as crianças, principalmente, é muito mais difícil. 'Elas têm sentimentos que não sabem nomear, estão indo para uma casa que não conhecem, com pessoas que desconhecem e sequer têm certeza que irão para um lugar em que ficarão para sempre', analisa.

Na opinião da analista de sistemas, é importante conhecer a verdadeira natureza do desejo de adotar - perguntar-se sobre a real vontade de ter filhos - e desmistificar a ideia romântica sobre a adoção, assim como o preconceito. 'É muito desastroso, para todos, quando uma criança vai para um lar em que não foi desejada', considera.

Na visão da mãe de Vitória e Waleska, muitas vezes, a adoção é motivada para satisfazer o desejo de ter filhos, quando a natureza nega essa possibilidade. 'De forma alguma, é, ou deveria ser, um gesto de caridade. Adoção, para mim, acima de tudo, é amor.'

Espera pela adoção pode levar anos

Atualmente, Venâncio Aires conta com 41 casais na fila de adoção. O cadastro mais antigo é de dezembro de 2007. 'A nova lei procura reduzir prazos para acelerar o processo de adoção. Entretanto, isso não interfere tanto em Venâncio, pois não temos muitos casos de crianças para serem adotadas', comenta a juíza Maria Beatriz Londero Madeira. Atualmente, são entre cinco e dez crianças aptas para adoção no município - algumas, ainda em processo de destituição familiar.

Maria Beatriz explica que legislação prevê que a Justiça tente, inicialmente, que a criança permaneça com a família biológica. Por isso, muitas vezes, demora-se até ingressar com a ação de destituição familiar', argumenta.

Segundo a juíza, a destituição só ocorre após um trabalho psicológico e de assistência familiar, no qual se busca resolver as situações de negligência, por exemplo. Quando não há êxito, em seguida, busca-se a inserção da criança na família extensa. 'Muitas vezes acontecem adoções dentro da família extensa, por uma tia ou prima, por exemplo. Mas esses casos não entram no Cadastro de Adoções', esclarece.
 41
é o número de pessoas que esperam para adotar uma criança, em Venâncio Aires. O cadastro mais antigo já tem dez anos.

 Passo a passo

1 Para adotar é preciso ser maior de 18 anos e ter no mínimo de 16 anos de diferença entre adotante e adotado. Podem se candidatar casais, pessoas solteiras e casais homoafetivos.

2 Interessados em adotar devem ir até o Fórum e preencher um formulário com os dados pessoais e o perfil da criança desejada, além de apresentar comprovantes de renda, residência e atestado de sanidade física e mental, entre outros documentos.

3 No perfil da criança são indicados idade, raça e sexo da criança pretendida, além de indicar se aceita irmãos, se a criança pode ser de outro estado e se pode ter alguma doença, deficiência física ou mental ou ser portadora do vírus HIV.

4 Após a inscrição, é realizado o estudo social na residência da família e um estudo psicológico.

5 Depois disso, o Ministério Público autoriza a inclusão do candidato/casal no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

6 Quando uma criança está apta a adoção, ela é incluída no Cadastro Nacional de Adoção. A partir disso, há um cruzamento de dados do perfil da criança com o pretendido pelos adotantes. A busca ocorre, inicialmente, na cidade e depois no estado, sendo ampliada para outros estados, se essa possibilidade constar no cadastro do adotante.



Reproduzido por: Lucas H.

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