27.08.2016
Por Cristina Pioner - Repórter
Presidente da Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD), Suzana Schettini analisa, nesta entrevista ao Diário do Nordeste, aspectos ligados ao tema. Entre eles, a situação de quem precisa deixar os abrigos após os 18 anos: "são imprescindíveis projetos que amparem, acolham e orientem esses jovens após o seu egresso das instituições para que possam organizar-se na árdua tarefa de encarar a sua vida sozinhos"
QUANTOS GRUPOS DE APOIO À ADOÇÃO EXISTEM NO BRASIL? E QUAL A IMPORTÂNCIA DELES NO PROCESSO PARA ADOTAR?
São cerca de 130 grupos espalhados nas cinco regiões. Os Grupos de Apoio à Adoção (GAAs) são formados, na maioria das vezes, por iniciativas de pais adotivos que trabalham, voluntariamente, para a divulgação da nova cultura de adoção: prevenir o abandono, preparar adotantes e acompanhar pais adotivos no pós-adoção, auxiliar na reintegração familiar, conscientizar a sociedade sobre a legitimidade da família adotiva e, principalmente, auxiliar na busca ativa de famílias para a adoção de crianças fora do perfil comumente desejado (de mais idade, com necessidades especiais ou inter-raciais).
QUAIS RESULTADOS PODEM SER PERCEBIDOS COM A ATUAÇÃO DESTES GRUPOS DE APOIO?
O tema "Adoção" está deixando de ser tabu na sociedade pois os grupos trabalham os mitos e preconceitos sociais por meio de seus eventos e projetos na sociedade. Também verifica-se uma importante flexibilização nos perfis das crianças desejadas para adoção pelos pretendentes. Há algum tempo, o perfil comumente desejado pela maioria dos adotantes era "menina, branca, saudável, até 6 meses de idade". Atualmente, já verifica-se grande aceitação de crianças de outras etnias, pois entende-se que o amor não tem cor. A grande preferência por meninas também não é mais verificada. Já temos uma grande abertura para maiores de três anos de idade e irmãos.
QUANTAS CRIANÇAS E FAMÍLIAS ESTÃO HOJE NO CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO (CNA)?
Segundo dados de 18/8 (data desta entrevista), 6.892 crianças estão no CNA aguardando por família e cerca de 37.155 pretendentes estão inscritos para adoção em todo o Brasil.
SE EXISTEM MAIS FAMÍLIAS INTERESSADAS EM ADOTAR DO QUE CRIANÇAS PARA SEREM ADOTADAS, POR QUE AINDA HÁ TANTOS ABRIGOS?
O Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA) registra na data de hoje (18/8) cerca de 46.129 crianças acolhidas. Como exceção das 6.892 crianças/adolescentes que já estão no CNA disponíveis para adoção, o restante ainda está com os seus processos em andamento, ou seja, ainda não estão disponíveis para adoção. São crianças e adolescentes que, na sua grande maioria, foram retirados do convívio familiar original por estarem em situação de risco (risco social, negligência, abuso, maus-tratos). Num primeiro momento, segundo o que orienta a legislação, o judiciário precisa trabalhar as possibilidades de reintegração na família de origem, se isto for possível; caso não o for, tentar uma inserção na família extensa. A adoção é a última opção, após todas as outras tentativas terem se esgotado.
MAS EM RELAÇÃO ÀS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DISPONÍVEIS PARA ADOÇÃO (6.892)?
Elas pertencem a perfis não comumente desejados pelos adotantes (crianças maiores, grupos de irmãos e crianças com necessidades especiais) e precisam permanecer nas instituições de acolhimento até que possam ser encaminhadas para adoção.
POR QUE OS BEBÊS AINDA SÃO OS MAIS PROCURADOS? EXISTEM DIFERENÇAS EM ADOTAR UM RECÉM-NASCIDO OU UMA CRIANÇA COM MAIS DE SETE ANOS? QUAIS?
A grande maioria dos pretendentes inscritos no CNA são casais sem filhos que acalantam o sonho de terem filhos pequenos para poderem vivenciar com eles todas as fases de seu desenvolvimento infantil. Podemos dizer que isto seria uma demanda perfeitamente compreensível do ponto de vista psicológico. Por outro lado, o desejo de adotar um recém-nascido, na maioria das vezes, insere a expectativa de que, assim, o filho se apegará mais facilmente, pois não terá uma história prévia de eventuais sofrimentos, como frequentemente ocorre nas adoções tardias (crianças maiores de três anos de idade). As adoções tardias são, ainda, evidentes demais, sendo muitas vezes preteridas por candidatos a pais com problemas de esterilidade/infertilidade, pois denunciam mais explicitamente a sua impossibilidade biológica.
SERIA, ENTÃO, MAIS DIFÍCIL OCORRER A ADOÇÃO TARDIA?
Dentre as várias modalidades possíveis de adoção, há um consenso geral de que as tardias são as mais difíceis, demandando uma real conscientização dos pais adotivos a respeito de possíveis frustrações e problemas que poderão enfrentar. Quanto maior for a idade da criança, maiores serão as lembranças e os sofrimentos a serem elaborados por ela; além disso, uma espera demasiado longa pela adoção pode encher suas fantasias e seus pensamentos de ansiedades, dúvidas e expectativas. As crenças sociais e os preconceitos em relação à adoção de crianças maiores também contribuem para a pouca disponibilidade de candidatos para estas adoções, pois a adoção continua sendo mais aceita quando atende a uma necessidade "natural" de um casal com impedimentos para gerar filhos, desde que estes sejam bebês e "passíveis de serem educados".
A PARTIR DE QUE IDADE É CONSIDERADA ADOÇÃO TARDIA?
Há controvérsias na literatura a respeito desta idade, entretanto, a maioria dos autores refere a de 3 anos. Particularmente, não gosto do termo "tardia", pois parece aquela adoção que já passou da validade, que acontece tarde demais. Prefiro a denominação adoção de crianças maiores. A experiência nos mostra hoje ser possível adotar crianças e adolescentes em qualquer faixa etária, desde que os pais pretendentes estejam consistentemente preparados para esta trajetória.
QUANTO MAIS TEMPO NO ABRIGO, MENORES SÃO AS CHANCES DE ADOÇÃO?
Infelizmente, este fato é verdadeiro. Quanto mais tempo na instituição de acolhimento, mais idade a criança terá e menos pessoas estarão disponíveis para adotá-la, pois o percentual de pretendentes que aceitam crianças maiores ainda não é alto. Já tivemos progressos muito grandes em relação ao fator idade, se considerarmos que até pouco tempo atrás a demanda principal dos pretendentes era para crianças até 6 meses de idade. Hoje, nós já temos um número considerável de pessoas que aceitam crianças até 5 anos de idade.
E QUANTO A ADOÇÕES A PARTIR DE 12 ANOS ? QUAL É O PERCENTUAL?
As adoções de adolescentes são as mais complexas, mas não são impossíveis e têm acontecido cada vez com mais frequência, principalmente nas localidades que contam com um grupo de apoio. Para que adoções de adolescentes tenham sucesso, tornam-se imprescindível dois fatores: preparo prévio para adoção com bastante consistência e o acompanhamento no pós-adoção no período de adaptação à família. É fundamental que a família adotiva tenha a quem recorrer nos momentos de dúvidas e angústias.
QUANDO A ADOÇÃO NÃO ACORRE E A MAIORIDADE CHEGA, QUAL O DESTINO DESTE JOVEM ACOLHIDO?
Ele deve ser desligado da instituição de acolhimento, devendo, portanto, iniciar uma vida independente com apenas 18 anos, tendo um histórico de abandono familiar, baixa escolaridade e, muitas vezes, sem recursos para o próprio sustento. Em algumas localidades, há a possibilidade de esses adolescentes serem transferidos para as ditas repúblicas, ou seja, casas que abrigam 4 a 5 jovens, muitas recebendo a orientação de um monitor. Entretanto, nem todos os adolescentes poderão ir para uma república. Alguns não conseguem superar o impacto das tragédias que ocorreram em suas vidas e também há casos de jovens abandonados com deficiência mental.
QUAIS AÇÕES EFETIVAS PODEM AJUDAR OS ADOLESCENTES ABRIGADOS S NESTE MOMENTO?
É necessário reorganizar os meios protetivos dos interesses desses jovens que se encontram em um limbo jurídico, pois embora eles sejam juridicamente considerados adultos, não são efetivamente adultos em todas as suas capacidades, especialmente naquelas que poderiam habilitá-los ao efetivo exercício de autonomia e cidadania. Portanto, são imprescindíveis projetos que amparem, acolham e orientem esses jovens após o seu egresso das instituições de acolhimento para que eles possam organizar-se na árdua tarefa de encarar a sua vida sozinhos.
O QUE PRECISA SER FEITO PARA DISSEMINAR A ADOÇÃO, INDEPENDENTEMENTE DA IDADE, RAÇA, DO SEXO E/OU DE PROBLEMAS DE SAÚDE?
É preciso continuar o que já se tem feito, ou seja, cada vez mais trabalhar na sensibilização dos pretendentes à adoção. A rede de grupos de apoio à adoção (GAAs) brasileira, capitaneada pela ANGAAD (Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção) é ator social essencial para garantir esses avanços. Verifica-se que os pretendentes que frequentam os GAAs costumam flexibilizar os perfis preferidos para adoção após alguns meses de participação nas reuniões e atividades das entidades. Observa-se que a convivência com outras famílias que já adotaram e no aprendizado advindo das experiências relatadas no grupo acerca do processo educativo de filhos adotados com mais idade, promovem uma maior segurança emocional para encorajar a aceitação de crianças com perfis dantes preteridos. Por outro lado, os GAAs também promovem o necessário acompanhamento no pós adoção, fundamental para adoções bem-sucedidas.
POR QUE CASAIS NÃO ADOTAM CRIANÇAS MAIORES
O medo de que as crianças mais velhas, pelo fato de terem passado muito tempo nas instituições de acolhimento, não consigam adaptar-se à nova família, em virtude de já terem formado a sua personalidade e já incorporado comportamentos que não poderão ser modificados;
A CRENÇA DE QUE CRIANÇAS MAIORES NÃO CONSEGUIRÃO ESTABELECER NOVOS VÍNCULOS AFETIVOS EM FUNÇÃO DE SEU HISTÓRICO DE VIDA E ABANDONO;
O pensamento de que, pelo fato de conhecerem a família biológica, haja uma intensificação no seu desejo de voltar a ela;
A demora demasiada no andamento dos processos judiciais em várias comarcas, pois, muitas vezes, as crianças são encaminhadas às famílias adotivas sob guarda-provisória por longos períodos de tempo, gerando ansiedade e angústia nos pais adotivos, em vista do temor de que poderia haver reversão no processo e teriam que devolver as crianças para as famílias biológicas depois de já terem desenvolvido vínculos afetivos.
O PREPARO prévio dos candidatos a pais nos casos de adoção tardia é imprescindível para que possam entender todas as especificidades desse tipo de adoção;
Embora a adoção tardia apresente desafios e fases críticas importantes, as crianças adotadas em uma fase mais adiantada encontram condições para uma vida emocional e material satisfatória se contarem com o empenho dos pais adotivos e com educação adequada. Poderão retomar o desenvolvimento de suas potencialidades, ou até iniciá-lo, caso tenham vivido anteriormente em um estado de abandono e carência afetiva.
Fonte: Suzana Schettini, Mestre em Psicologia Clínica E ESPECIALISTA EM adoção
Disponível em: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/e-necessario-reorganizar-os-meios-protetivos-1.1606923
Reproduzido por: Lucas H.
Por Cristina Pioner - Repórter
Presidente da Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD), Suzana Schettini analisa, nesta entrevista ao Diário do Nordeste, aspectos ligados ao tema. Entre eles, a situação de quem precisa deixar os abrigos após os 18 anos: "são imprescindíveis projetos que amparem, acolham e orientem esses jovens após o seu egresso das instituições para que possam organizar-se na árdua tarefa de encarar a sua vida sozinhos"
QUANTOS GRUPOS DE APOIO À ADOÇÃO EXISTEM NO BRASIL? E QUAL A IMPORTÂNCIA DELES NO PROCESSO PARA ADOTAR?
São cerca de 130 grupos espalhados nas cinco regiões. Os Grupos de Apoio à Adoção (GAAs) são formados, na maioria das vezes, por iniciativas de pais adotivos que trabalham, voluntariamente, para a divulgação da nova cultura de adoção: prevenir o abandono, preparar adotantes e acompanhar pais adotivos no pós-adoção, auxiliar na reintegração familiar, conscientizar a sociedade sobre a legitimidade da família adotiva e, principalmente, auxiliar na busca ativa de famílias para a adoção de crianças fora do perfil comumente desejado (de mais idade, com necessidades especiais ou inter-raciais).
QUAIS RESULTADOS PODEM SER PERCEBIDOS COM A ATUAÇÃO DESTES GRUPOS DE APOIO?
O tema "Adoção" está deixando de ser tabu na sociedade pois os grupos trabalham os mitos e preconceitos sociais por meio de seus eventos e projetos na sociedade. Também verifica-se uma importante flexibilização nos perfis das crianças desejadas para adoção pelos pretendentes. Há algum tempo, o perfil comumente desejado pela maioria dos adotantes era "menina, branca, saudável, até 6 meses de idade". Atualmente, já verifica-se grande aceitação de crianças de outras etnias, pois entende-se que o amor não tem cor. A grande preferência por meninas também não é mais verificada. Já temos uma grande abertura para maiores de três anos de idade e irmãos.
QUANTAS CRIANÇAS E FAMÍLIAS ESTÃO HOJE NO CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO (CNA)?
Segundo dados de 18/8 (data desta entrevista), 6.892 crianças estão no CNA aguardando por família e cerca de 37.155 pretendentes estão inscritos para adoção em todo o Brasil.
SE EXISTEM MAIS FAMÍLIAS INTERESSADAS EM ADOTAR DO QUE CRIANÇAS PARA SEREM ADOTADAS, POR QUE AINDA HÁ TANTOS ABRIGOS?
O Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA) registra na data de hoje (18/8) cerca de 46.129 crianças acolhidas. Como exceção das 6.892 crianças/adolescentes que já estão no CNA disponíveis para adoção, o restante ainda está com os seus processos em andamento, ou seja, ainda não estão disponíveis para adoção. São crianças e adolescentes que, na sua grande maioria, foram retirados do convívio familiar original por estarem em situação de risco (risco social, negligência, abuso, maus-tratos). Num primeiro momento, segundo o que orienta a legislação, o judiciário precisa trabalhar as possibilidades de reintegração na família de origem, se isto for possível; caso não o for, tentar uma inserção na família extensa. A adoção é a última opção, após todas as outras tentativas terem se esgotado.
MAS EM RELAÇÃO ÀS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DISPONÍVEIS PARA ADOÇÃO (6.892)?
Elas pertencem a perfis não comumente desejados pelos adotantes (crianças maiores, grupos de irmãos e crianças com necessidades especiais) e precisam permanecer nas instituições de acolhimento até que possam ser encaminhadas para adoção.
POR QUE OS BEBÊS AINDA SÃO OS MAIS PROCURADOS? EXISTEM DIFERENÇAS EM ADOTAR UM RECÉM-NASCIDO OU UMA CRIANÇA COM MAIS DE SETE ANOS? QUAIS?
A grande maioria dos pretendentes inscritos no CNA são casais sem filhos que acalantam o sonho de terem filhos pequenos para poderem vivenciar com eles todas as fases de seu desenvolvimento infantil. Podemos dizer que isto seria uma demanda perfeitamente compreensível do ponto de vista psicológico. Por outro lado, o desejo de adotar um recém-nascido, na maioria das vezes, insere a expectativa de que, assim, o filho se apegará mais facilmente, pois não terá uma história prévia de eventuais sofrimentos, como frequentemente ocorre nas adoções tardias (crianças maiores de três anos de idade). As adoções tardias são, ainda, evidentes demais, sendo muitas vezes preteridas por candidatos a pais com problemas de esterilidade/infertilidade, pois denunciam mais explicitamente a sua impossibilidade biológica.
SERIA, ENTÃO, MAIS DIFÍCIL OCORRER A ADOÇÃO TARDIA?
Dentre as várias modalidades possíveis de adoção, há um consenso geral de que as tardias são as mais difíceis, demandando uma real conscientização dos pais adotivos a respeito de possíveis frustrações e problemas que poderão enfrentar. Quanto maior for a idade da criança, maiores serão as lembranças e os sofrimentos a serem elaborados por ela; além disso, uma espera demasiado longa pela adoção pode encher suas fantasias e seus pensamentos de ansiedades, dúvidas e expectativas. As crenças sociais e os preconceitos em relação à adoção de crianças maiores também contribuem para a pouca disponibilidade de candidatos para estas adoções, pois a adoção continua sendo mais aceita quando atende a uma necessidade "natural" de um casal com impedimentos para gerar filhos, desde que estes sejam bebês e "passíveis de serem educados".
A PARTIR DE QUE IDADE É CONSIDERADA ADOÇÃO TARDIA?
Há controvérsias na literatura a respeito desta idade, entretanto, a maioria dos autores refere a de 3 anos. Particularmente, não gosto do termo "tardia", pois parece aquela adoção que já passou da validade, que acontece tarde demais. Prefiro a denominação adoção de crianças maiores. A experiência nos mostra hoje ser possível adotar crianças e adolescentes em qualquer faixa etária, desde que os pais pretendentes estejam consistentemente preparados para esta trajetória.
QUANTO MAIS TEMPO NO ABRIGO, MENORES SÃO AS CHANCES DE ADOÇÃO?
Infelizmente, este fato é verdadeiro. Quanto mais tempo na instituição de acolhimento, mais idade a criança terá e menos pessoas estarão disponíveis para adotá-la, pois o percentual de pretendentes que aceitam crianças maiores ainda não é alto. Já tivemos progressos muito grandes em relação ao fator idade, se considerarmos que até pouco tempo atrás a demanda principal dos pretendentes era para crianças até 6 meses de idade. Hoje, nós já temos um número considerável de pessoas que aceitam crianças até 5 anos de idade.
E QUANTO A ADOÇÕES A PARTIR DE 12 ANOS ? QUAL É O PERCENTUAL?
As adoções de adolescentes são as mais complexas, mas não são impossíveis e têm acontecido cada vez com mais frequência, principalmente nas localidades que contam com um grupo de apoio. Para que adoções de adolescentes tenham sucesso, tornam-se imprescindível dois fatores: preparo prévio para adoção com bastante consistência e o acompanhamento no pós-adoção no período de adaptação à família. É fundamental que a família adotiva tenha a quem recorrer nos momentos de dúvidas e angústias.
QUANDO A ADOÇÃO NÃO ACORRE E A MAIORIDADE CHEGA, QUAL O DESTINO DESTE JOVEM ACOLHIDO?
Ele deve ser desligado da instituição de acolhimento, devendo, portanto, iniciar uma vida independente com apenas 18 anos, tendo um histórico de abandono familiar, baixa escolaridade e, muitas vezes, sem recursos para o próprio sustento. Em algumas localidades, há a possibilidade de esses adolescentes serem transferidos para as ditas repúblicas, ou seja, casas que abrigam 4 a 5 jovens, muitas recebendo a orientação de um monitor. Entretanto, nem todos os adolescentes poderão ir para uma república. Alguns não conseguem superar o impacto das tragédias que ocorreram em suas vidas e também há casos de jovens abandonados com deficiência mental.
QUAIS AÇÕES EFETIVAS PODEM AJUDAR OS ADOLESCENTES ABRIGADOS S NESTE MOMENTO?
É necessário reorganizar os meios protetivos dos interesses desses jovens que se encontram em um limbo jurídico, pois embora eles sejam juridicamente considerados adultos, não são efetivamente adultos em todas as suas capacidades, especialmente naquelas que poderiam habilitá-los ao efetivo exercício de autonomia e cidadania. Portanto, são imprescindíveis projetos que amparem, acolham e orientem esses jovens após o seu egresso das instituições de acolhimento para que eles possam organizar-se na árdua tarefa de encarar a sua vida sozinhos.
O QUE PRECISA SER FEITO PARA DISSEMINAR A ADOÇÃO, INDEPENDENTEMENTE DA IDADE, RAÇA, DO SEXO E/OU DE PROBLEMAS DE SAÚDE?
É preciso continuar o que já se tem feito, ou seja, cada vez mais trabalhar na sensibilização dos pretendentes à adoção. A rede de grupos de apoio à adoção (GAAs) brasileira, capitaneada pela ANGAAD (Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção) é ator social essencial para garantir esses avanços. Verifica-se que os pretendentes que frequentam os GAAs costumam flexibilizar os perfis preferidos para adoção após alguns meses de participação nas reuniões e atividades das entidades. Observa-se que a convivência com outras famílias que já adotaram e no aprendizado advindo das experiências relatadas no grupo acerca do processo educativo de filhos adotados com mais idade, promovem uma maior segurança emocional para encorajar a aceitação de crianças com perfis dantes preteridos. Por outro lado, os GAAs também promovem o necessário acompanhamento no pós adoção, fundamental para adoções bem-sucedidas.
POR QUE CASAIS NÃO ADOTAM CRIANÇAS MAIORES
O medo de que as crianças mais velhas, pelo fato de terem passado muito tempo nas instituições de acolhimento, não consigam adaptar-se à nova família, em virtude de já terem formado a sua personalidade e já incorporado comportamentos que não poderão ser modificados;
A CRENÇA DE QUE CRIANÇAS MAIORES NÃO CONSEGUIRÃO ESTABELECER NOVOS VÍNCULOS AFETIVOS EM FUNÇÃO DE SEU HISTÓRICO DE VIDA E ABANDONO;
O pensamento de que, pelo fato de conhecerem a família biológica, haja uma intensificação no seu desejo de voltar a ela;
A demora demasiada no andamento dos processos judiciais em várias comarcas, pois, muitas vezes, as crianças são encaminhadas às famílias adotivas sob guarda-provisória por longos períodos de tempo, gerando ansiedade e angústia nos pais adotivos, em vista do temor de que poderia haver reversão no processo e teriam que devolver as crianças para as famílias biológicas depois de já terem desenvolvido vínculos afetivos.
O PREPARO prévio dos candidatos a pais nos casos de adoção tardia é imprescindível para que possam entender todas as especificidades desse tipo de adoção;
Embora a adoção tardia apresente desafios e fases críticas importantes, as crianças adotadas em uma fase mais adiantada encontram condições para uma vida emocional e material satisfatória se contarem com o empenho dos pais adotivos e com educação adequada. Poderão retomar o desenvolvimento de suas potencialidades, ou até iniciá-lo, caso tenham vivido anteriormente em um estado de abandono e carência afetiva.
Fonte: Suzana Schettini, Mestre em Psicologia Clínica E ESPECIALISTA EM adoção
Disponível em: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/e-necessario-reorganizar-os-meios-protetivos-1.1606923
Reproduzido por: Lucas H.
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