29 de abril de 2016
Luiz de Carvalho
Autista, totalmente dependente e sem condições de aprender algo, garoto foi adotado pela professora de Sarandi, quando tinha cinco anos
Desde que tornou-se membro da família de Bete, Wellington passou a ser o centro das atenções de todos na casa Foto: João Cláudio Fragoso
Desde que tornou-se membro da família de Bete, Wellington passou a ser o centro das atenções de todos na casa Foto: João Cláudio Fragoso
“Se ficarmos olhando só para nosso próprio umbigo, podemos perder a oportunidade de sermos úteis a alguém e a nós mesmos”, foi o pensamento pensado em voz alta pela professora Elizabete Aparecida Gotardo diante das duas filhas e de um garotinho de cinco anos, que não falava, andava com dificuldades e não se importava com o que acontecia à volta dele. Como em uma votação silenciosa, Bete, Daniele e Daiane optaram por levar o garotinho para casa e fazer dele um membro da família.
Foi assim que Bete se tornou mãe de Wellington, um garoto que jamais vai evoluir, aprender e deixar de ser totalmente dependente dos outros. Ele é autista e a mãe sabia de tudo isso quando decidiu adotá-lo. Toda a família sabia e todos concordaram.
“Aquela decisão mudou a minha vida e a vida do meu marido e meus filhos em 100%. Temos em casa uma pessoa que só pode receber, jamais terá o que dar, mesmo amor. Mas, foi graças ao Wellington que Deus nos ensinou a amar incondicionalmente, e somos felizes por isso”, diz, categoricamente.
O garoto, agora com 14 anos, passa parte do dia na Associação Maringaense dos Autistas (AMA) e o resto do tempo em casa. Mas, nunca ficou um minuto sequer sozinho. A mãe, professora que mora em Sarandi, decidiu reduzir a carga horária de trabalho para ter mais tempo para o filho. As irmãs Daniele e Daiane, também, assim como o irmão Henrique, que é casado e mora em outra casa, mas se dedica ao autista. O pai, o pintor Milton Veloso, também é todo dedicação ao filho especial.
Wellington, o xodó da casa, poderia ter um destino totalmente diferente se Bete e as filhas tivessem olhado só para os próprios umbigos. Sem pai e deixado pela mãe, ele tinha cinco anos e vivia na Casa Lar da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), em Laranjeiras do Sul. Um irmão, que também tinha sido deixado lá, havia sido adotado, mas ninguém queria adotar uma criança autista.
ENCONTRO MARCADO
Foi na Casa Lar que Daniele, fonoaudióloga que foi prestar serviço na Apae, conheceu o garoto, encantou-se com ele, mas não tinha como assumi-lo por ser solteira e morar longe da casa dos pais. Um dia, quando Bete e Daiane foram a Laranjeiras do Sul levar Daniele, que tinha passado uns dias em casa, também elas se apaixonaram pelo pequeno, mesmo com ele vivendo em outro mundo, um mundo em que outras pessoas não existem.
COMPANHEIRINHO PARA TODAS AS HORAS
“Eu e minhas filhas choramos muito quando vimos que aquela criança não conseguia sequer segurar um copo de refrigerante. Sabíamos que se o trouxéssemos para casa teríamos que nos dedicar a ele todo o tempo, mas se olhássemos mais para nossos umbigos e o deixássemos lá, ele não teria futuro algum”, ressalta a professora.
Agora, 10 anos depois de ele entrar para a família, todos na casa o consideram um verdadeiro membro da família, é como se ele tivesse nascido lá.
Garoto que tinha sido deixado pela mãe biológica em entidade agora tem uma família completa
Garoto que tinha sido deixado pela mãe biológica em entidade agora tem uma família completa
A mãe diz ter certeza de que o encontro dela com Wellington foi traçado por Deus como uma forma de abençoar a família, de ensinar as pessoas da casa a dar amor sem esperar qualquer recompensa. “Foi Deus quem mandou minha filha para a Apae de Laranjeiras do Sul e cuidou para que também eu fosse lá e conhecesse o Wellington”, afirma.
Agora, o menino que sequer conseguia segurar um copo de suco, tem no registro de nascimento o nome Wellington Fernando Gotardo Veloso e consta como pais Elizabete e Milton Veloso. Assim sendo, passa a ser irmão de verdade de Henrique, Daniele e Daiane, tem sobrinhos e primos e é herdeiro de tudo o que pertence aos pais. Situação bem diferente de uma década atrás, quando tinha sido deixado pela mãe biológica, ninguém sabe quando e nem sequer tinha um sobrenome. E o que era pior: não tinha futuro.
UM GRUPO DE CRIANÇAS EM DESVANTAGEM NAS FILAS DE ADOÇÃO
Um estudo realizado recentemente, em São Paulo, mostrou que:
::: METADE DOS CASAIS QUE DESEJA ADOTAR deixa claro que não aceita crianças com problemas de saúde leves e considerados tratáveis.
::: 68% NÃO QUEREM grupos de irmãos.
::: 7,5% DOS PRETENDENTES DECLARAM que aceitariam crianças em condições especiais.
::: 10% DAS 80 MIL CRIANÇAS QUE ESTÃO NOS ABRIGOS À ESPERA DA ADOÇÃO, no Brasil, têm algum tipo de deficiência ou são portadores de doenças crônicas.
::: DOIS DAS 80 PESSOAS ATENDIDAS pela Associação Maringaense dos Autistas (AMA) são adotados. Em ambos os casos, os pais sabiam do problema enfrentado pela criança.
::: NAS ASSOCIAÇÕES DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS (Apaes) são muitos os adotados, mas a instituição não revela números, a não ser em casos onde os próprios adotantes concordem.
::: 2013 FOI O ANO EM QUE FOI APROVADA, pelo Congresso Nacional, a Lei que dá prioridade aos processos de adoção nos quais a criança ou adolescente tiver deficiência ou doença crônica.©
Original disponível em: http://blogs.odiario.com/luizdecarvalho/2016/04/29/wellington-um-especial-mais-que-especial-na-vida-de-bete/
Reproduzido por: Lucas H.
Luiz de Carvalho
Autista, totalmente dependente e sem condições de aprender algo, garoto foi adotado pela professora de Sarandi, quando tinha cinco anos
Desde que tornou-se membro da família de Bete, Wellington passou a ser o centro das atenções de todos na casa Foto: João Cláudio Fragoso
Desde que tornou-se membro da família de Bete, Wellington passou a ser o centro das atenções de todos na casa Foto: João Cláudio Fragoso
“Se ficarmos olhando só para nosso próprio umbigo, podemos perder a oportunidade de sermos úteis a alguém e a nós mesmos”, foi o pensamento pensado em voz alta pela professora Elizabete Aparecida Gotardo diante das duas filhas e de um garotinho de cinco anos, que não falava, andava com dificuldades e não se importava com o que acontecia à volta dele. Como em uma votação silenciosa, Bete, Daniele e Daiane optaram por levar o garotinho para casa e fazer dele um membro da família.
Foi assim que Bete se tornou mãe de Wellington, um garoto que jamais vai evoluir, aprender e deixar de ser totalmente dependente dos outros. Ele é autista e a mãe sabia de tudo isso quando decidiu adotá-lo. Toda a família sabia e todos concordaram.
“Aquela decisão mudou a minha vida e a vida do meu marido e meus filhos em 100%. Temos em casa uma pessoa que só pode receber, jamais terá o que dar, mesmo amor. Mas, foi graças ao Wellington que Deus nos ensinou a amar incondicionalmente, e somos felizes por isso”, diz, categoricamente.
O garoto, agora com 14 anos, passa parte do dia na Associação Maringaense dos Autistas (AMA) e o resto do tempo em casa. Mas, nunca ficou um minuto sequer sozinho. A mãe, professora que mora em Sarandi, decidiu reduzir a carga horária de trabalho para ter mais tempo para o filho. As irmãs Daniele e Daiane, também, assim como o irmão Henrique, que é casado e mora em outra casa, mas se dedica ao autista. O pai, o pintor Milton Veloso, também é todo dedicação ao filho especial.
Wellington, o xodó da casa, poderia ter um destino totalmente diferente se Bete e as filhas tivessem olhado só para os próprios umbigos. Sem pai e deixado pela mãe, ele tinha cinco anos e vivia na Casa Lar da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), em Laranjeiras do Sul. Um irmão, que também tinha sido deixado lá, havia sido adotado, mas ninguém queria adotar uma criança autista.
ENCONTRO MARCADO
Foi na Casa Lar que Daniele, fonoaudióloga que foi prestar serviço na Apae, conheceu o garoto, encantou-se com ele, mas não tinha como assumi-lo por ser solteira e morar longe da casa dos pais. Um dia, quando Bete e Daiane foram a Laranjeiras do Sul levar Daniele, que tinha passado uns dias em casa, também elas se apaixonaram pelo pequeno, mesmo com ele vivendo em outro mundo, um mundo em que outras pessoas não existem.
COMPANHEIRINHO PARA TODAS AS HORAS
“Eu e minhas filhas choramos muito quando vimos que aquela criança não conseguia sequer segurar um copo de refrigerante. Sabíamos que se o trouxéssemos para casa teríamos que nos dedicar a ele todo o tempo, mas se olhássemos mais para nossos umbigos e o deixássemos lá, ele não teria futuro algum”, ressalta a professora.
Agora, 10 anos depois de ele entrar para a família, todos na casa o consideram um verdadeiro membro da família, é como se ele tivesse nascido lá.
Garoto que tinha sido deixado pela mãe biológica em entidade agora tem uma família completa
Garoto que tinha sido deixado pela mãe biológica em entidade agora tem uma família completa
A mãe diz ter certeza de que o encontro dela com Wellington foi traçado por Deus como uma forma de abençoar a família, de ensinar as pessoas da casa a dar amor sem esperar qualquer recompensa. “Foi Deus quem mandou minha filha para a Apae de Laranjeiras do Sul e cuidou para que também eu fosse lá e conhecesse o Wellington”, afirma.
Agora, o menino que sequer conseguia segurar um copo de suco, tem no registro de nascimento o nome Wellington Fernando Gotardo Veloso e consta como pais Elizabete e Milton Veloso. Assim sendo, passa a ser irmão de verdade de Henrique, Daniele e Daiane, tem sobrinhos e primos e é herdeiro de tudo o que pertence aos pais. Situação bem diferente de uma década atrás, quando tinha sido deixado pela mãe biológica, ninguém sabe quando e nem sequer tinha um sobrenome. E o que era pior: não tinha futuro.
UM GRUPO DE CRIANÇAS EM DESVANTAGEM NAS FILAS DE ADOÇÃO
Um estudo realizado recentemente, em São Paulo, mostrou que:
::: METADE DOS CASAIS QUE DESEJA ADOTAR deixa claro que não aceita crianças com problemas de saúde leves e considerados tratáveis.
::: 68% NÃO QUEREM grupos de irmãos.
::: 7,5% DOS PRETENDENTES DECLARAM que aceitariam crianças em condições especiais.
::: 10% DAS 80 MIL CRIANÇAS QUE ESTÃO NOS ABRIGOS À ESPERA DA ADOÇÃO, no Brasil, têm algum tipo de deficiência ou são portadores de doenças crônicas.
::: DOIS DAS 80 PESSOAS ATENDIDAS pela Associação Maringaense dos Autistas (AMA) são adotados. Em ambos os casos, os pais sabiam do problema enfrentado pela criança.
::: NAS ASSOCIAÇÕES DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS (Apaes) são muitos os adotados, mas a instituição não revela números, a não ser em casos onde os próprios adotantes concordem.
::: 2013 FOI O ANO EM QUE FOI APROVADA, pelo Congresso Nacional, a Lei que dá prioridade aos processos de adoção nos quais a criança ou adolescente tiver deficiência ou doença crônica.©
Original disponível em: http://blogs.odiario.com/luizdecarvalho/2016/04/29/wellington-um-especial-mais-que-especial-na-vida-de-bete/
Reproduzido por: Lucas H.
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