POR LORENNA SILVA, PAULLA MONTEIRO E THAIS MARINHO
O sorriso é a característica que mais chama atenção nos meninos e meninas que hoje residem na Casa da Criança, na cidade de Imperatriz. A alegria transparece em seus rostos ao verem um novo visitante, que representa a realização de um sonho para muitas, ter uma família e um lar novamente. Apesar de guardar em suas mentes as marcas de seu passado, com experiências nem sempre positivas, elas continuam à espera de uma nova possibilidade, um recomeço. A adoção representa não somente uma família ou um lar diferente, mas a esperança de ter uma vida nova.
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem 7.168 crianças disponíveis para adoção em todo Brasil, sendo a maioria crianças pardas (48,55%). A Região Nordeste tem 1036 crianças aptas a ganharem novo lar, o que representa 14,48% do total do país. Mais da metade dessas crianças são pardas (63,32%), a outra metade são brancas (19,02%) ou negras (17,28%).
O Estado do Maranhão conta com 223 pretendentes e 52 crianças a espera de uma família. No que se trata dos pretendentes a adoção, atualmente, no país existem mais de 30 mil pessoas dispostas a adotar uma criança. Na Região Nordeste existe 4488 pretendentes, com preferências similares a maioria dos brasileiros: em primeiro lugar estão aqueles que desejam ter um filho da raça branca, depois os de cor parda, amarela, negras e indígenas. Os números são grandes e a diversidade entre as crianças também. Algumas famílias dizem ter desejo de adotar e entram na fila de espera, mas há pessoas que tentam escolher o “filho perfeito” como se fossem um objeto sendo avaliado, fazendo com que o índice de menores em adoção não diminua.
Através dos dados, é notável que exista uma discrepância entre a quantidade de crianças em adoção e a de possíveis adotantes, sendo esta última consideravelmente maior. Sendo contraditório a seguinte questão: há listas de pais esperando à procura de um filho e inúmeros filhos esperando por novos pais; mas a quantidade de crianças cresce gradativamente. Isso acontece pelo fato de que o perfil das crianças disponíveis não coincide com o dos pretendentes. Após a observação dos dados apresentados, verifica-se que tanto no Brasil como na região Nordeste, a maioria dos casais desejam adotar crianças brancas com idade inferior a um ano, mas a quantidade de crianças pardas é mais da metade das disponíveis para adoção. Além disso, o número de menores com idade de 0 a 1 ano não supera 1% do total. Fazendo com que a espera para adotar seja longa em todo lugar, não por conta de burocracia, mas por uma escolha que não coincide com a realidade atual nos abrigos.
“Já vimos casos de pessoas que adotaram e depois de poucos dias ou meses, devolveram. Acho um desrespeito, uma criança não é um objeto. A pessoa tem que ter certeza que quer adotar, que vai dar amor, atenção e que vai proporcionar tudo que estiver em seu alcance”, analisa Adriana Guidolin, empresária de 47 anos que passou por duas experiências de adoção.
Segundo o conselheiro tutelar de Imperatriz, José dos Reis, essas crianças e adolescentes em sua maioria, procedem de famílias humildes e desestruturadas, onde os pais os negligenciaram e, às vezes, os submeteram a maus-tratos, abandono, entre outras violências. Em casos muito graves, o Conselho Tutelar é acionado e quando encontra a criança em situação desumana, é encaminhada ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) para que receba tratamento psicológico e todos os cuidados oferecidos pelo Estado. Após esses procedimentos, a criança é levada à casa de passagem para aguardar a decisão do juiz, e no abrigo será cuidada junto com as outras crianças.
Um dos maiores motivos de desistência por parte dos pretendentes é o tempo de espera, que pode variar de criança para criança. De acordo com a vice coordenadora da Casa da Criança, Maria Gorete Batista, já ocorreram casos em que alguns casais esperaram apenas três meses, enquanto outros passaram três anos na lista de espera e desistiram. A explicação para essa demora, segundo pedagoga da Casa da Criança de Imperatriz, Geiziane Santos Barreto, é que a justiça tenta o acolhimento da criança na família de origem. “A intenção da justiça não é tomar a criança da família, mas deixar com eles. Isso requer tempo, porque é feito um processo de acompanhamento com a família – pela assistente social, psicóloga, justiça, etc. É para saber se existe alguém com condições de cuidar da criança. Não é toda criança que está apta para ser adotada. Não existe nada melhor para a criança do que a própria família”.
O processo para adotar no Brasil já foi mais longo, burocrático e cansativo. Com a ajuda da legislação e do Juizados da Infância e Juventude, o processo para adotar se tornou mais rápido, o que facilitou todo o trâmite. Após a criação do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), tudo ficou mais prático. O tempo de espera foi reduzido consideravelmente. Um casal solicitou a adoção de uma criança que estava no abrigo aqui em Imperatriz, e com tudo dentro da lei, conseguiu adotar seu filho em apenas três dias. Além disso, o CNA confere a qualquer casal do Brasil o direito de adotar um filho de estado diferente. Há dois anos, um casal de estrangeiros que morava em Brasília, veio a Imperatriz e adotou uma menina, conforme a vice coordenadora da Casa da Criança, Maria Gorete Batista.
No entanto, nem todos os casos de adoção terminam da mesma forma. Por diversos motivos, os pais adotivos não conseguem ficar com as crianças e as devolvem à adoção. De acordo com a vice-coordenadora, já ocorreram casos em que certos casais que estavam dispostos a realizar uma adoção levaram as crianças, mas ao não estarem preparados psicologicamente para adotar essas crianças, que já levam consigo uma carga de insegurança e maus-tratos, as devolveram. Quando acontecem coisas assim, as crianças precisam de acompanhamento para tentar superar esse trauma.
DOIS FILHOS DO CORAÇÃO
Pai de cinco filhos, Humberto Cândido, representante comercial de 53 anos, viveu a experiência de adotar duas crianças. Ele conta que a adoção levou muitas alegrias e transformou sua vida. São três filhos biológicos e dois filhos por adoção, mas Humberto faz questão de deixar claro que não há diferença entre eles e que o amor, educação e respeito são iguais com todos. Ele relembra que o primeiro foi um processo de adoção inesperado. O primeiro filho do coração foi deixado na porta de sua casa e assim entraram com a papelada para adotá-lo. Quatro anos depois, chegou a caçula, que conheceram na Casa da Criança em Imperatriz, fazendo a família crescer com mais uma linda menina. As duas crianças adotadas sabem da história que carregam e falam sobre isso abertamente.
“Nosso caso foi diferente, nós já tínhamos filhos, não tínhamos mais esse sonho de ter filhos. Foram eles que escolheram a gente. Isso não partiu de nós, nunca pensamos em adotar. O principal legado é o que eles ensinam para a gente, ensinam a termos vontade de ajudar”, conta Humberto. Sua esposa foi a maior incentivadora para que a família crescesse. “Filho biológico a gente ama porque é filho, filho adotivo é filho porque a gente ama”, afirma Adriana Guidolin, esposa do representante comercial.
Por conhecer a adoção, especialmente o processo na cidade, aconselha diariamente casais dispostos a constituírem uma família e relata que ser pai é a melhor experiência da vida. Conforme Humberto, adotar é um ato de extrema responsabilidade, pois uma criança é um ser com sentimentos, que precisa de atenção, apoio, amor e carinho. Além disso, um casal disposto a adotar deve ter a consciência de que, ocorrem diversas mudanças dentro do lar, por exemplo, financeiras. “As pessoas falam que onde come um, comem dois, sim, é verdade, mas você tem que botar mais comida”, afirma Humberto.
“Hoje, a grande família espalha essa rica história que carrega. Brigas, problemas e dificuldades obviamente existem em todos os lares, mas desfrutam da paciência e do amor todos os dias. É assim que todo ser humano deve viver, com humanidade, respeito e amor ao próximo. Se todos buscarem ajudar, seremos pessoas melhores em um mundo melhor”, afirma Adriana.
Original disponível em: http://www.imperatriznoticias.com.br/noticias-2/os-caminhos-e-desafios-do-processo-de-adocao-em-imperatriz/#disqus_thread
Reproduzido por: Lucas H.
O sorriso é a característica que mais chama atenção nos meninos e meninas que hoje residem na Casa da Criança, na cidade de Imperatriz. A alegria transparece em seus rostos ao verem um novo visitante, que representa a realização de um sonho para muitas, ter uma família e um lar novamente. Apesar de guardar em suas mentes as marcas de seu passado, com experiências nem sempre positivas, elas continuam à espera de uma nova possibilidade, um recomeço. A adoção representa não somente uma família ou um lar diferente, mas a esperança de ter uma vida nova.
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), existem 7.168 crianças disponíveis para adoção em todo Brasil, sendo a maioria crianças pardas (48,55%). A Região Nordeste tem 1036 crianças aptas a ganharem novo lar, o que representa 14,48% do total do país. Mais da metade dessas crianças são pardas (63,32%), a outra metade são brancas (19,02%) ou negras (17,28%).
O Estado do Maranhão conta com 223 pretendentes e 52 crianças a espera de uma família. No que se trata dos pretendentes a adoção, atualmente, no país existem mais de 30 mil pessoas dispostas a adotar uma criança. Na Região Nordeste existe 4488 pretendentes, com preferências similares a maioria dos brasileiros: em primeiro lugar estão aqueles que desejam ter um filho da raça branca, depois os de cor parda, amarela, negras e indígenas. Os números são grandes e a diversidade entre as crianças também. Algumas famílias dizem ter desejo de adotar e entram na fila de espera, mas há pessoas que tentam escolher o “filho perfeito” como se fossem um objeto sendo avaliado, fazendo com que o índice de menores em adoção não diminua.
Através dos dados, é notável que exista uma discrepância entre a quantidade de crianças em adoção e a de possíveis adotantes, sendo esta última consideravelmente maior. Sendo contraditório a seguinte questão: há listas de pais esperando à procura de um filho e inúmeros filhos esperando por novos pais; mas a quantidade de crianças cresce gradativamente. Isso acontece pelo fato de que o perfil das crianças disponíveis não coincide com o dos pretendentes. Após a observação dos dados apresentados, verifica-se que tanto no Brasil como na região Nordeste, a maioria dos casais desejam adotar crianças brancas com idade inferior a um ano, mas a quantidade de crianças pardas é mais da metade das disponíveis para adoção. Além disso, o número de menores com idade de 0 a 1 ano não supera 1% do total. Fazendo com que a espera para adotar seja longa em todo lugar, não por conta de burocracia, mas por uma escolha que não coincide com a realidade atual nos abrigos.
“Já vimos casos de pessoas que adotaram e depois de poucos dias ou meses, devolveram. Acho um desrespeito, uma criança não é um objeto. A pessoa tem que ter certeza que quer adotar, que vai dar amor, atenção e que vai proporcionar tudo que estiver em seu alcance”, analisa Adriana Guidolin, empresária de 47 anos que passou por duas experiências de adoção.
PROCESSO DE ADOÇÃO
Na cidade de Imperatriz existem aproximadamente 45 crianças aptas para serem adotadas. Elas se encontram divididas entre as três casas de acolhimento, uma destinada a crianças de 0 a 8 anos e outras duas para adolescentes entre 8 a 18 anos, uma casa para meninas e outra para meninos. Nesses espaços, mantidos pela Prefeitura Municipal e órgãos parceiros, as crianças e adolescentes têm acompanhamento multidisciplinar, realizado por pedagoga, nutricionista, psicóloga e equipe de apoio para que se sintam amparadas e respeitadas e possam começar ou recomeçar suas histórias de vida.
Um dos maiores motivos de desistência por parte dos pretendentes é o tempo de espera, que pode variar de criança para criança. De acordo com a vice coordenadora da Casa da Criança, Maria Gorete Batista, já ocorreram casos em que alguns casais esperaram apenas três meses, enquanto outros passaram três anos na lista de espera e desistiram. A explicação para essa demora, segundo pedagoga da Casa da Criança de Imperatriz, Geiziane Santos Barreto, é que a justiça tenta o acolhimento da criança na família de origem. “A intenção da justiça não é tomar a criança da família, mas deixar com eles. Isso requer tempo, porque é feito um processo de acompanhamento com a família – pela assistente social, psicóloga, justiça, etc. É para saber se existe alguém com condições de cuidar da criança. Não é toda criança que está apta para ser adotada. Não existe nada melhor para a criança do que a própria família”.
O processo para adotar no Brasil já foi mais longo, burocrático e cansativo. Com a ajuda da legislação e do Juizados da Infância e Juventude, o processo para adotar se tornou mais rápido, o que facilitou todo o trâmite. Após a criação do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), tudo ficou mais prático. O tempo de espera foi reduzido consideravelmente. Um casal solicitou a adoção de uma criança que estava no abrigo aqui em Imperatriz, e com tudo dentro da lei, conseguiu adotar seu filho em apenas três dias. Além disso, o CNA confere a qualquer casal do Brasil o direito de adotar um filho de estado diferente. Há dois anos, um casal de estrangeiros que morava em Brasília, veio a Imperatriz e adotou uma menina, conforme a vice coordenadora da Casa da Criança, Maria Gorete Batista.
No entanto, nem todos os casos de adoção terminam da mesma forma. Por diversos motivos, os pais adotivos não conseguem ficar com as crianças e as devolvem à adoção. De acordo com a vice-coordenadora, já ocorreram casos em que certos casais que estavam dispostos a realizar uma adoção levaram as crianças, mas ao não estarem preparados psicologicamente para adotar essas crianças, que já levam consigo uma carga de insegurança e maus-tratos, as devolveram. Quando acontecem coisas assim, as crianças precisam de acompanhamento para tentar superar esse trauma.
DOIS FILHOS DO CORAÇÃO
Pai de cinco filhos, Humberto Cândido, representante comercial de 53 anos, viveu a experiência de adotar duas crianças. Ele conta que a adoção levou muitas alegrias e transformou sua vida. São três filhos biológicos e dois filhos por adoção, mas Humberto faz questão de deixar claro que não há diferença entre eles e que o amor, educação e respeito são iguais com todos. Ele relembra que o primeiro foi um processo de adoção inesperado. O primeiro filho do coração foi deixado na porta de sua casa e assim entraram com a papelada para adotá-lo. Quatro anos depois, chegou a caçula, que conheceram na Casa da Criança em Imperatriz, fazendo a família crescer com mais uma linda menina. As duas crianças adotadas sabem da história que carregam e falam sobre isso abertamente.
“Nosso caso foi diferente, nós já tínhamos filhos, não tínhamos mais esse sonho de ter filhos. Foram eles que escolheram a gente. Isso não partiu de nós, nunca pensamos em adotar. O principal legado é o que eles ensinam para a gente, ensinam a termos vontade de ajudar”, conta Humberto. Sua esposa foi a maior incentivadora para que a família crescesse. “Filho biológico a gente ama porque é filho, filho adotivo é filho porque a gente ama”, afirma Adriana Guidolin, esposa do representante comercial.
Por conhecer a adoção, especialmente o processo na cidade, aconselha diariamente casais dispostos a constituírem uma família e relata que ser pai é a melhor experiência da vida. Conforme Humberto, adotar é um ato de extrema responsabilidade, pois uma criança é um ser com sentimentos, que precisa de atenção, apoio, amor e carinho. Além disso, um casal disposto a adotar deve ter a consciência de que, ocorrem diversas mudanças dentro do lar, por exemplo, financeiras. “As pessoas falam que onde come um, comem dois, sim, é verdade, mas você tem que botar mais comida”, afirma Humberto.
“Hoje, a grande família espalha essa rica história que carrega. Brigas, problemas e dificuldades obviamente existem em todos os lares, mas desfrutam da paciência e do amor todos os dias. É assim que todo ser humano deve viver, com humanidade, respeito e amor ao próximo. Se todos buscarem ajudar, seremos pessoas melhores em um mundo melhor”, afirma Adriana.
Original disponível em: http://www.imperatriznoticias.com.br/noticias-2/os-caminhos-e-desafios-do-processo-de-adocao-em-imperatriz/#disqus_thread
Reproduzido por: Lucas H.
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