É impossível para o médico André Luíz Dos Santos Cabral, 47 anos, esquecer cada detalhe do dia em que recebeu a notícia de que seria pai. Ele saía de uma rotineira sessão de análise e se deparou com um recado no celular. Do outro lado da linha, na caixa postal, uma assistente social pedia um retorno quando possível. Mas ele já sentia que, na verdade, a mulher queria contar que havia uma criança esperando por ele em algum abrigo de Belo Horizonte. “Eu estava na fila de adoção há nove meses. Foi como se fosse uma gestação”, conta bem humorado.
Mesmo nas comemorações do dia das mães, André conta que Victor queria presentear o pai. “Uma vez a professora não deixou, disse que tinha que ser mulher. Meu filho explicou a ela que o pai dele era mãe também”, lembra. Nesse tipo de comemoração, seja em homenagem às mães ou aos pais, o menino sempre aproveita para escrever ao médico palavras de carinho. André guarda todos os rabiscos. Em um deles, Victor disse ao pai “ quando eu te olho, eu não vejo mais ninguém. Isso é importante pra mim. Eu te amo”. Neste ano, a surpresa será outra.
*Colaborou para esta reportagem Laura de Las Casas
A ansiedade tomou conta do pai de primeira viagem. Ele começou a ligar insistentemente com esperança de escutar a boa notícia. Sem sucesso no retorno, ele conta que telefonou para a analista e falava sem parar. “Ela, rindo do meu nervosismo, brincou que eu tinha entrado em trabalho de parto, que era para eu me acalmar. Era tarde e eu só conseguiria falar com eles no dia seguinte”. E foi assim. Quando acordou, André ligou novamente e confirmou a novidade: um menino de quatro anos estava disponível para adoção. Quem esperava por ele, sem saber, era o pequeno Victor.
No abrigo, André foi orientado a interagir com Victor junto com outras crianças, afinal, o menino havia acabado de passar por um processo adotivo que não tinha dado certo, já que a família desistiu de ficar com ele. Os dois deveriam se conhecer aos poucos para que o médico tomasse uma decisão definitiva. “Eu vi aquele menino de blusinha vermelha, e peguei no colo, levei para lavar as mãos, peguei no colo de novo. Era o meu filho”, conta.
O sonho de ser pai chegou depois dos 40 para o angiologista. Solteiro, ele diz nunca ter pensado na paternidade como algo que precisasse ser dividido com alguém. “Eu queria criar um filho sozinho mesmo”, enfatiza. Ao entrar na fila de adoção, especificou que queria uma criança de 0 a 5 anos, de qualquer cor. Quando comunicou à família sua decisão, muitos temeram pela dificuldade de se cuidar de uma criança sem a ajuda de uma mãe. Mas quando perceberam que André não daria o braço a torcer, apoiaram e receberam o novo membro da família com todo carinho.
Depois da primeira visita, Victor foi autorizado a passar os finais de semana com André, que ia diariamente ao abrigo para visitar o menino nos dias em que não podia levá-lo. O médico começou a adaptar a casa e a pensar em um novo quarto para o menino. Muito tímido, o garoto mal falava. “Ele mexia a boquinha e fingia dizer algo, mas não conversava”, lembra.
Depois da primeira visita, Victor foi autorizado a passar os finais de semana com André, que ia diariamente ao abrigo para visitar o menino nos dias em que não podia levá-lo. O médico começou a adaptar a casa e a pensar em um novo quarto para o menino. Muito tímido, o garoto mal falava. “Ele mexia a boquinha e fingia dizer algo, mas não conversava”, lembra.
O medo de animais era um dos mais fortes. “Ele tinha pavor de qualquer tipo, até de joaninha”. Para que o garoto vencesse o temor de bichos, André conta que encheu a casa de peixes e pássaros. Com o tempo, o pequeno Victor foi tomando gosto. Hoje em dia, aos oito anos, só sente medo de galinhas.
Apaixonado pelo Atlético-MG e por esportes, o pequeno sonha em ser jogador de futebol. Cheio de energia e bastante inteligente, ele conversa e conta sua história para quem quiser ouvir. Mal parece o menino tímido e cheio de medo de alguns anos atrás. “Quando eu cheguei aqui em casa pela primeira vez, eu parei na porta com medo de entrar”, conta, lembrando-se ainda das primeiras vezes na casa nova.
Como Victor já havia passado por outros processos de adoção, no começo ele se dirigia ao médico como “pai André”. “Ele já tinha tido outros pais, imagina como era entender que eu seria o único a partir daquele momento? O dia em que ele me chamou apenas de pai, para mim, foi muito significativo, eu fiquei emocionado”, relembra.
André recorreu várias vezes à ajuda da psicóloga da Vara da Infância e da Juventude em momentos de aflição. Mesmo sendo tão pequeno, Victor já carregava uma história de vida bastante sofrida, com diversos traumas e muita tristeza.
O médico conta que já viveu preconceito por ser pai solteiro, mas que o que mais o tranquiliza é a forma com que Victor lida com a situação. Quando questionado sobre onde está a mãe, o menino responde sem nenhum problema. “Eu não tenho mãe”. A inteligência de Victor para entender e superar os problemas sempre impressionou o pai. Mesmo com pouca idade, ele não se importa em contar que foi levado para o abrigo porque quem morava com ele antes não tinha mais condições de cuidar de uma criança. “Ele sabe de tudo sobre a história dele”, diz o pai.
Vencer esses medos junto ao filho foi um dos tantos desafios que a paternidade trouxe à vida do médico, que admite ter se sentido inseguro em vários momentos. “ Foi difícil, porque eu queria ensinar o que era certo e errado, mas, ao mesmo tempo, eu não queria vê-lo se sentindo rejeitado novamente em nenhum momento”. Aos poucos, André foi aprendendo a ser pai. Victor começou a sentir aquela casa e a aquela família como dele e aprendeu que, a partir daquele momento, os medos de um e de outro seriam superados lado a lado.
Vencer esses medos junto ao filho foi um dos tantos desafios que a paternidade trouxe à vida do médico, que admite ter se sentido inseguro em vários momentos. “ Foi difícil, porque eu queria ensinar o que era certo e errado, mas, ao mesmo tempo, eu não queria vê-lo se sentindo rejeitado novamente em nenhum momento”. Aos poucos, André foi aprendendo a ser pai. Victor começou a sentir aquela casa e a aquela família como dele e aprendeu que, a partir daquele momento, os medos de um e de outro seriam superados lado a lado.
Dia dos Pais
Mesmo nas comemorações do dia das mães, André conta que Victor queria presentear o pai. “Uma vez a professora não deixou, disse que tinha que ser mulher. Meu filho explicou a ela que o pai dele era mãe também”, lembra. Nesse tipo de comemoração, seja em homenagem às mães ou aos pais, o menino sempre aproveita para escrever ao médico palavras de carinho. André guarda todos os rabiscos. Em um deles, Victor disse ao pai “ quando eu te olho, eu não vejo mais ninguém. Isso é importante pra mim. Eu te amo”. Neste ano, a surpresa será outra.
*Colaborou para esta reportagem Laura de Las Casas
Original disponível em: http://www.viveramornafamilia.com.br/index.php/blogs/item/336-foi-como-uma-gestacao-diz-pai-solteiro-sobre-processo-de-adocao
Reproduzido por: Lucas H.
Nenhum comentário:
Postar um comentário