quarta-feira, 24 de maio de 2017

Ferramenta do MP aproxima adoção `real´ da `ideal´ e forma famílias inesperadas (Reprodução)

22/05/2017

Fonte: G1

Brasil, existem mais de 39 mil pessoas prontas para adotar. Número mais de cinco vezes maior do que as 7,6 mil mil crianças e adolescentes à espera de adoção. No Rio, são cerca de 3,5 mil pretendentes para 570 crianças. Mas essa conta não fecha por causa da diferença entre o perfil real das crianças com o perfil idealizado pelos futuros pais.

Por exemplo, 91% dos candidatos procuram crianças de até 6 anos. Mas 72% têm entre 7 e 17 anos. E 20% dos candidatos só aceitam crianças brancas. No entanto, quase 70% delas não são.

No domingo, a Justiça e o Ministério Público (MP) se juntaram para promover o projeto "Quero uma familia", do MP do Rio, em uma caminhada pela adoção na orla de Copacabana. A ferramenta aproxima o real do ideal e tem formado famílias até então inesperadas (acesse o site para mais informações).

"A pessoa está cadastrada no Cadastro Nacional de Adoção para um determinado perfil e, no sistema do MP, ela tem a chance num ambiente seguro e monitorado de ver quem são essas crianças adolescentes disponiveis. Ela tem chance de mudar esse perfil, ver um grupo de irmãos, se encantar e querer adotar. Ver uma criança com deficiência que ela nunca imaginava...”, diz o promotor Rodrigo Medina.

“Nós tivemos já, por exemplo, casal habilitado pra bebê e que foi entrando numa visita num abrigo e viu uma bola de futebol rolando e ele começou a bater bola com um menino de 12 anos, que foi adotado. Um casal habilitado para um bebê que conheceu três irmãos, sendo dois adolescentes e adotou”, conta o juiz.

Família adota bebê com microcefalia

Alice tem 1 ano e 6 meses de vida. E 8 meses de amor em família – louca por ela. “É uma sapeca... e dorminhoca”, diverte-se a mãe, a enfermeira Luciana Viella Ouverney.

“Ela tem um olhar que toca no nosso coração. Um olhar assim muito expressivo, ela diz muita coisa no olhar”, completa o pai, o biólogoThiago de Paiva Nunes.

O Thiago já era pai do Yago, que tem 13 anos. A Luciana ainda não era mãe até que ela teve um despertar quando ouviu falar da Alice pela primeira vez.

“Eu estava na fila da adoção (...) Numa conversa com assistente social ela me falou da Alice (...) Quando ela falou da Alice, eu já me vi mãe dela. Quando ela disse que ela tinha microcefalia, que estava difícil inserir a Alice numa família, aí eu parei e pensei e falei: ‘olha, eu preciso dar um telefonema, vou ligar pro meu marido, o Thiago, e te dou essa resposta ainda hoje.

A reação foi imeditada: “Ah, o pai, o pai já se desmancha com tudo. A nossa história, o fato de ter perdido quatro, quatro nenéns e tal, inclusive gêmeos, remete a uma coisa. Gente, será que a hora não chegou, será que não é isso? (...) E agora, a Alice lá, à espera de uma família, eu acho que a hora é agora”, contou Thiago.

Não precisa "ter" o mesmo sangue. "Ser" um irmão mais velho está no sangue do Yago mesmo assim.

“Cuidar dela, fazer ela feliz, sempre estar juntinho dela lá, abraçando, dando beijinho, todo dia eu faço isso”, diz o adolescente, perguntado sobre o seu papel de irmão.

Chorar também faz parte. Quem nunca chorou por amor?
“É muito bom ter a Alice em casa. Desde então, a gente é muito mais feliz. Desde então, é maravilhoso, é simplesmente maravilhoso”, declara a tia, a entrevistadora social Raissa Nunes.

O final feliz é fruto de um encontro marcado. De pessoas que queriam ser pais com crianças que queriam ser filhos. Mas um não percebia o outro porque estava olhando na direção contrária.

“Porque a maioria está na fila do mesmo perfil, que é bebê de 0 a 3 anos sem problema de saúde e sem grupo de irmãos. Existe um grupo das chamadas adoções necessárias, são crianças mais velhas, adolescentes, grupos de irmãos e crianças e adolescentes com problemas de saúde”, explica o juiz.
A Clessekelly, as irmãs Raquel e Jessica, a Camila e tantas outras crianças e adolescentes estão só esperando por isso.

“Amor carinho paz e alegria.” O pedido de Clessekelly revela tudo que elas querem receber. E quem não quer o que elas têm para dar: “Amor”.

A família da Alice já disse sim: “E assim, o mais interessante de tudo, o casal quando se encontra nessa situação decide, os dois decidem né? Mas na verdade eu queria até agradecer à nossa família inteira por ter adotado a Alice também. Eu até me emociono quando falo porque o impacto que a Alice causou, a chegada da Alice causou na nossa família, a minha mãe, as tias, os primos, assim foi uma onda de amor”, diz Thiago.


Reproduzido por: Lucas H.

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