segunda-feira, 29 de maio de 2017

No Dia da Adoção, famílias compartilham histórias dos 'filhos do coração' (Reprodução)

25/05/2017

Como um encontro de almas. É assim que as famílias que decidiram adotar descrevem o momento quando encontraram seus filhos pela primeira vez. Independente se esse encontro aconteceu quando o filho ainda era bebê, ou se já tinha 5, 10, 15 anos de idade.

No Dia da Adoção, celebrado nesta quinta-feira (25), o G1 conheceu a história da Raquel, da Vanuzia, da Lucimara, da Maria da Penha e da Sarah, que sentiram o chamado para uma “gravidez do coração”.

Conheça as histórias de espera e amor dessas cinco famílias:

Raquel Baltazar: adotou quatro irmãos, duas meninas e dois meninos.


A professora Raquel Baltazar sempre quis ter filhos e ser mãe. Ela adotou um grupo de quatro irmãos há três anos, uma menina de 10 anos, dois meninos de 7 e 4 anos e uma bebê de um ano e meio.
“Eu e meu esposo estávamos casados há 20 anos. Queria ser mãe, ter filho. Não tinha questão biológica, eu queria ter filhos. Não é condição financeira que vai te impedir de adotar. Nós tínhamos nos planejado pra isso”, contou.
Raquel encontrou as crianças que seriam seus filhos ao pesquisar sobre crianças disponíveis para adoção em Minas Gerais.
“Tínhamos entregado toda a documentação, feito a entrevista, o curso, a visita à casa. Mas eu não ia ficar de braços cruzados e fui estudar onde eu podia encontrar meus filhos. Em uma dessas pesquisas eu encontrei. Não tinha foto, só o nome e a idade, mas quando eu olhei, pensei: ‘acabei de encontrar meus filhos’”.
“Filho é um ser que Deus te empresta pra você enxergar um amor além do que você tinha por você”
Embora tenha feito a escolha, Raquel contou que o processo foi longo e complicado, porque tratava-se de uma adoção tardia e de grupo de irmãos, o que é bastante incomum.

“O pessoal do fórum ficou desconfiado. Mas para nós não era estranhamento, somos de uma família numerosa. Tentamos nos organizar e como nós planejamos, aconteceu. O processo foi intenso, cansativo. Quando entramos com advogado, as coisas começaram a andar mais rápido e conseguimos a guarda provisória”, contou.

Segundo Raquel, depois que as crianças já estavam na casa dela, aconteceu um acompanhamento de um ano até que ela conseguisse a guarda definitiva.

“A Justiça prioriza o bem estar da criança e por isso se reunia com eles todo mês para eles poderem falar como estava, sem a nossa presença”, lembrou.

Ela contou que a adaptação aconteceu com naturalidade. “Eles ocuparam o espaço, chegaram nos quartos que fizemos pra eles e entenderam aquilo como a casa deles. É impressionante como eles se parecem conosco. Não existe tanta semelhança em outras famílias, parece que sempre foi assim”.
Sobre a adoção de crianças mais velhas, Raquel disse que a intenção sempre foi essa. “Eu sabia que tinha tudo para dar certo desde sempre. Meu perfil sempre foi esse. Ninguém merece ter o pai como o estado e a mãe como a prefeitura”, disse.

Raquel garante que a adoção a transformou para melhor. “Eu falo que filho é um ser que Deus te empresta para você enxergar um amor além do que você tinha por você. Primeiro eles. Em um momento eles vão crescer e isso pode mudar. Mas depois que a gente se torna mãe, tudo muda”, concluiu.

Vanuzia Miguel da Silva Scarpate: adotou um menino de dois meses.



Miguel Ângelo chegou na casa da professora e pedagoga Vanuzia e do marido, Marcelo Scarpate, quando tinha dois meses e meio. Hoje, ele tem 11 anos, mas Vanuzia ainda lembra com muito carinho a chegada do “filho do coração”.

“Para mim e para meu esposo foi mágico. Quando a gente olhou para ele, estava deitadinho. A gente olhou e pensou como se dá esse amor de pais com crianças adotadas. Peguei ele no colo, quando eu senti o cheiro, foi como se eu sentisse um vulto entrando em mim. Eu senti aquele amor de mãe para filho. Quando a gente vai buscar a criança, não sabe como vai ser, mas eu senti. Foi mágico. Saímos de lá com o nosso filho”, recordou.

No começo, Miguel exigiu mais atenção do casal, porque ele estava com problemas de saúde. “A gente adotou e no dia seguinte já estava no hospital. Ele estava doente, com um quadro de bronquiolite, com a barriga inchada, porque precisava de uma alimentação mais adequada. Para nós, foi um amor maior para ele vencer. Não foi por um acaso que ele veio dessa forma. Esse processo de luta foi como uma gestação. Eu senti que aquele era nosso pré-natal”, contou.

Alguns anos mais tarde, os médicos descobriram que Miguel tinha autismo. “Miguel tem um bom relacionamento interpessoal dentro das limitações próprias dele, é carinhoso, estuda normalmente do início ao fim das aulas, sabe ler e escrever. Acima de tudo, é uma criança feliz”, afirmou.

Lucimara Wolkers: adotou uma menina de seis meses e uma adolescente de 14 anos.



Lucimara já era mãe do Pedro Henrique, de sete anos, quando as duas filhas foram adotadas. “O processo de adoção não foi complicado, foi demorado. Mas apesar da ansiedade que isso gera também acho que é necessário para cumprir os prazos que têm no processo, todos os trâmites, para fazer uma adoção segura”, contou.

Quando viu as meninas pela primeira vez, Lucimara disse que sentiu o amor de mãe de novo. “Eu não tenho palavras para descrever o que eu senti. Foi um calor interior, uma vontade de chorar. Eu tinha certeza que ali estava a minha filha. Na verdade, foi um encontro de almas. A Larissa quando me abraçou pela primeira vez parecia que a gente já se conhecia há anos”, lembrou.
"Eu não tenho nem palavras para descrever o que senti. Foi um calor interior, uma vontade de chorar, eu tinha certeza que ali estava a minha filha. Na verdade, foi um encontro de almas".
Depois que chegaram a adaptação na família aconteceu com naturalidade, segundo Lucimara. “Ocorreu tudo bem, com o tempo tudo se ajeita, tudo se coloca no lugar. Não foi nada muito complicado. A adolescente demora mais tempo, mas nada que com amor a gente não resolva”, contou.

Para quem pensa em adotar crianças mais velhas, Lucimara dá a dica: seguir o coração. “A única coisa que precisa é querer ser mãe. Adoção não é caridade, é desejo de ser mãe. O amor é o mesmo. Eu tenho um filho biológico e eu falo para eles que a única diferença é a barriga que Deus escolheu para eles nascerem. São três barrigas diferentes, mas os três estão no mesmo lugar no meu coração. Não existe diferença”, completou.

Maria da Penha Lirio: adotou um bebê de oito dias e está na fila da adoção novamente.



A professora Maria da Penha Lirio já tinha três filhos biológicos, quando ela e o marido, Luiz Eduardo Domingues, decidiram entrar na fila de adoção e adotaram o Luiz Miguel.

“Quando eu casei com o Luiz Eduardo, eu já era mãe de três filhos do primeiro casamento. Eu não imaginei que seria mãe de novo, dessa forma. Surgiu aquela vontade de novo e meu esposo tinha demonstrado que tinha vontade de ser pai. Quando eu falei com ele, resolvemos e com um mês demos a entrada nos documentos e entramos com o processo”, contou.

Para Maria da Penha, a expectativa a deixou ansiosa. “Essa expectativa é que faz você ficar emocionalmente frágil, isso me fez muito mais ansiosa. Foi muita lágrima, muito choro. Mas é uma coisa indescritível”, disse.

Como ela já tinha sido mãe três vezes, sabia como cuidar de um bebê. “É uma experiência diferente de um parto realizado, as emoções, a sensação e a forma que você se envolve com a coisa. Embora não fique parecendo natural, para mim foi como se eu tivesse mesmo tido o parto”,
"A adoção é a questão de você realmente entender que não é você pegar para criar, é um filho gerado, no coração, na alma. O nosso foi na alma. Ele era para ser nosso, a família sente isso com uma naturalidade".
Luiz Miguel hoje tem seis anos e, por isso, Maria da Penha e o esposo decidiram que era hora de adotar outra criança. “A gente viu que estava na hora, que o Luiz Miguel estava pronto, que era hora dele ter um irmãozinho em casa. Dessa vez, nós mudamos o perfil e queremos uma criança de até cinco anos. Até para não ficar muito diferente dele e para serem companheiros”, contou.

Sarah Andressa: está na fila para adoção.


Sarah tem dois filhos biológicos, uma menina de 12 anos e um menino de oito. Agora, ela e o esposo decidiram que era a hora de realizar o sonho de adotar uma criança. “Sempre foi um sonho, um desejo meu. O meu marido é filho adotivo e era algo que a gente sempre falava. Eu achava o máximo, meu marido sempre me falava sobre isso, a gente sempre conversava”, disse.
Para ela, o momento da espera traz angústia e ansiedade. “É muito angustiante, porque você não sabe qual é o momento. Porque em uma gravidez você sabe que em nove meses um bebezinho vai sair. Você sabe que tem um momento certo para aquilo. Na adoção, é uma gravidez que você não sabe qual vai ser o momento que aquilo vai acontecer. Isso gera muita ansiedade, fica na expectativa”.
E os filhos da Sarah também estão ansiosos com a chegada dos irmãos. “Meus filhos não vão ter problema, são crianças muito sociáveis. O quarto está pronto, então, a expectativa deles é muito grande. Alguns momentos do processo eu evito de falar com eles para não transmitir a ansiedade para eles”, contou.
Sarah disse que está aberta a adotar crianças de até 10 anos e um grupo de até quatro irmãos. “A gente quer aumentar a família. A gente está à espera do processo. E se for a vontade de Deus, que eles possam chegar logo”, completou Sarah.

Números

Atualmente, no Espírito Santo, há 138 crianças e adolescentes disponíveis para a adoção, e 868 famílias habilitadas para adotar. Os dados são do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJ-ES) computados até o dia 15 de maio de 2017.
Veja o perfil das crianças e adolescentes disponíveis para a adoção:
Idade
  • 0 a 3 anos - 4 crianças
  • 3 a 6 anos - 6 crianças
  • 6 a 9 anos - 7 crianças
  • 9 a 12 anos - 18 crianças
  • 12 a 15 anos - 39 adolescentes
  • 15 a 18 anos - 64 adolescentes
Etnia
  • Branca - 14
  • Negra - 35
  • Mulata - 11
  • Parda - 78
No último levantamento, de 2016, 49% das crianças e adolescentes disponíveis para adoção faziam parte de grupo de irmãos. Outros 23,5% possuíam algum condição de saúde ou deficiência.
O que querem as famílias:
  • Querem adotar crianças de 0 a 6 anos - 87% dos pretendentes
  • Querem adotar crianças de 6 a 10 anos - 9% dos pretendentes
  • Querem adotar crianças de 10 a 14 anos - 2,9% dos pretendentes
  • Querem adotar crianças de 14 a 18 anos - 1,1% dos pretendentes
Do total de pretendentes (868), 9,7% aceitam crianças com alguma deficiência física e 4,5% aceitam crianças com alguma deficiência mental.

Adoção tardia


Uma campanha do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJ-ES) quer incentivar a adoção de crianças com mais de oito anos de idade, ou com algum problema de saúde, ou grupo de irmãos.
A campanha, segundo o TJ-ES, dá voz a esses meninos e meninas, órfãos ou destituídos de suas famílias de origem e que já estão prontos para a adoção. Em vídeos exibidos na internet, no site do TJES, as crianças falam de suas qualidades, habilidades, potencialidades e sonhos.

A adoção de crianças e adolescentes com esse perfil ainda ge ra muito preconceito, segundo a terapeuta familiar, Cecília Nara Lemos.

“Existe um preconceito ainda. As pessoas vêm com muita insegurança de levar crianças mais velhas, porque elas já viriam com uma história de sofrimento. Têm medo dessa história. Como se adotar um bebê fosse alguma garantia disso. Você não tem essa garantia nem com o filho biológico. Com amor
e com a relação essas questões podem ser compensadas”, afirmou. 

Grupos de Apoio


Na Grande Vitória, atualmente, existem três grupos de apoio à adoção. São eles: Ciranda (Vitória), Raízes e Asas (Cariacica) e Mãos Amigas (Serra).

Giselle Dutra, do Raízes e Asas, explicou que os grupos estão em contato constante para promover as ações promover ações em conjunto sobre adoção.

“Trata-se de trabalho voluntário que busca apoiar famílias que desejam adotar e fomentar ações que promovam a garantia do direito à convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes. Por isso promovemos reuniões mensais para orientação e atividades diversas”, explicou.

A psicóloga e terapeuta familiar, Cecília Nara Lemos, atua como voluntária do Ciranda. Ela disse que pelo grupo, que surgiu em 2008, já passaram cerca de 200 famílias que adotaram ou tinham interesse de adotar.

“É uma roda aberta. A gente está sempre ali para acolher. Nós conversamos sobre as questões da adoção. A espera é muito angustiante, a pessoa se sente muito sozinha, então nos reunimos para falar sobre isso. Normalmente, nós fazemos conversas sobre assuntos que interessam a todos e convidamos algum especialista voluntário para falar”, explicou Cecília.

Comemorações do Dia da Adoção



Para celebrar o Dia da Adoção, os grupos de apoio organizaram eventos em apoio à causa. Nesta quinta-feira (25), começa uma exposição fotográfica itinerante no Shopping Jardins, em Vitória.
Através das fotos, famílias que já passaram pelos grupos e que já dotaram compartilham suas experiências.

A ação tem o objetivo de difundir e estimular a adoção de crianças e adolescentes e propagar uma nova “cultura da adoção” no Brasil, de maneira a reduzir tabus e preconceitos, gerando uma maior conscientização em relação ao tema.

Serviço


  • Exposição Fotográfica Itinerante - Grupo Ciranda - Grupo de Apoio à Adoção de Vitória
  • Data: abertura dia 25 de maio de 2017, a partir das 18h
  • Período da exposição: até 31 de maio de 2017
  • Horário: 10h às 22h
  • Local: Shopping Jardins - Rua Carlos Eduardo Monteiro de Lemos, nº 262, Jardim da Penha, Vitória
  • Entrada franca
No sábado (27), em Cariacica, o grupo Raízes e Asas vai fazer uma ação na Pracinha de Campo Grande para conscientizar sobre a adoção. O evento começa às 9h e termina ao meio dia. Vai ter panfletagem, pintura de rosto e pipoca.


Reproduzido por: Lucas H.


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