segunda-feira, 29 de maio de 2017

“Eu olhei pro João e vi meu filho”, conta mãe em relato emocionante de amor e entrega (Reprodução)

29/05/2017

A família Pavan vai aumentar. João Victor, de 9 anos, vai ganhar uma irmãzinha a qualquer momento. A gravidez, no entanto, é diferente. Não tem cordão umbilical e nem um bebê crescendo no ventre na mãe. O casal, Claudia e Claudir, gesta a nova integrante da família, pelo coração. Não sabem a idade, nome e nem mesmo a cor de sua pele, mas sabem, sim, que já a amam antes mesmo de chegar. Foi assim com João Victor que chegou à família aos três anos de idade. Pai e mãe não podiam gerar filhos biológicos e a adoção surgiu como a realização do sonho de serem pais.

João viveu em condições precárias junto da família biológica em Leblon Régis, e por conta disso foi encaminhado a um abrigo para adoção. Desnutrido e assustado, o pequeno João pesava apenas 11 kg e aparentava ser menor do que era. Claudia e o marido haviam dado a luz. “A afinidade aparece quando você chega lá e olha pra criança. Eu olhei pro João e vi meu filho. Levei o meu filho pra casa. Nunca deixei que dissessem que ‘peguei ele pra criar’. Ele é o meu filho, não biológico, mas de coração”, recorda Claudia.

Desde que chegou à família, João trouxe luz à vida dos pais. Tanto, que Claudia e Claudir encaminharam a documentação e foram aprovados para integrar novamente a fila de adoção em busca de uma irmãzinha para o filho. Claudia conta que dessa vez esperam uma menina, de até 7 anos de idade. E se tiver irmãos, eles também serão bem-vindos. “As pessoas vão para a fila de adoção pensando que vão a um supermercado. Quando você esta grávida, você não sabe como será o seu filho. Ele pode vir com problemas ou não. A criança vai estar lá te esperando, não tem como escolher. Filho é filho, seja lá branco, pardo, negro”, declara. 

Para dar um suporte emocional e técnico à famílias como a Pavan é que em 2014 surgiu o Grupo de Apoio à Adoção São Miguel do Oeste - “Unidos pelo Coração”. A presidente, Talita Lorenski, enfatiza que é preciso falar sobre adoção para que o tema deixe de ser um tabu. “A sociedade não esta preparada aqui e em nenhum lugar, a adoção ainda é um tabu. As pessoas veem a adoção como uma segunda opção de ter filhos e não precisa ser assim. Se chegar a ser uma segunda opção do casal por infertilidade, por exemplo, o casal precisa trabalhar esse luto da infertilidade para daí sim partir para a adoção. O filho que vem por filiação adotiva é normal como qualquer outro”, explica.  

Claudia é uma das mães que frequenta o grupo em suas reuniões bimestrais. Ela conta que participam futuros pais que desejam adotar ou que simpatizam com o tema. Durante as reuniões tudo é compartilhado, desde a agonia da espera na fila de adoção, até o final feliz para aqueles que já conquistaram a adoção. “O primeiro passo é ter certeza que quer partir para a fila de adoção, saber que não é uma compra. Depois disso, você vai até o Fórum falar com a assistente social, reúne a documentação. Tem ainda a parte psicológica e depois o juiz”, explica Claudia. 

O apoio do Grupo é essencial, já que prepara as famílias para o recebimento do filho. Entre as etapas importantes para a adaptação do filho de coração. Talita cita a rebeldia da criança ou adolescente e define que essa é uma das fases normais de todo o processo. “Os pais precisam entender que essa gravidez é diferente, que eles precisam se preparar e entender que vai haver um período de adaptação e é justamente nesse período que ocorrem as devoluções. O período de adaptação tem fases. Começa com a fase de namoro, porque a criança quer te conquistar, não quer ser devolvida. Depois tem a fase de rebeldia, elas jogam na cara dos pais que eles não são seus filhos de verdade. Mas isso é normal. Depois vem a fase de regressão e tudo fica normal. Os pais que não entendem isso é que, durante esse período difícil, devolvem as crianças. Porque não estavam preparados”, alerta Talita. 

A adoção é uma forma diferente de filiação. O que é igual, no entanto, é o amor e dedicação das famílias que tem em comum o dom de gerar os filhos do coração. “É uma gravidez diferente, mas é uma gravidez. Percebemos que as pessoas tem medo de falar sobre a adoção e isso é natural. Existem duas formas de ser pai ou mãe, através da filiação biológica e da filiação adotiva e nenhuma se sobrepõe à outra”, finaliza. 


Reproduzido por: Lucas H.

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