quarta-feira, 26 de julho de 2017

ADOÇÃO: Após matéria da Gazeta de Alagoas candidatos a pais procuram juizado (Reprodução)

24.07.2017

Fabrício*, que é deficiente físico e possui deficit mental, foi abandonado quando era um bebê. Pedro* é soropositivo e tornou-se andarilho após fugir de casa por ser espancado diariamente pelo pai. Maria* é autista e vivia nas ruas porque a mãe é alcoólatra e usuária de drogas. Luciano* tem distúrbio na fala e, durante dois anos, foi explorado nas ruas de Maceió.

As crianças e os adolescentes citados foram resgatados e fazem parte da estatística apresentada pela 28ª Vara Cível da Capital da Infância e Juventude que revela: atualmente, em Alagoas, existem 86 crianças abrigadas em casas de adoção, sendo 31 disponíveis para adoção e 55 em processo de destituição ou reintegração com a família. Do total, 10 possuem alguma doença física, mental ou crônica. Em sua maioria, possuem mais de 7 anos.

“É pouco provável encontrar uma família para essas crianças e adolescentes que tenham mais de 2 anos ou que têm alguma doença porque são raros os candidatos que possuem interesse nesse perfil. Claro que o cuidado com os meninos que possuem uma doença é bem delicado, mas todos estudam e possuem uma vida como qualquer outra criança ou adolescente”, disse a juíza Maria Lúcia de Fátima Pirauá.

Os dados apresentados também revelam que 166 pessoas estão habilitadas para formalizar uma adoção. Ou seja, o dado mostra que é mais difícil encontrar uma família adotiva porque quase não há pretendentes para crianças acima de 7 anos ou com algum problema de saúde. Para se ter uma ideia do quanto é grave a realidade, o número das possíveis pessoas que desejam adotar é 5,35 vezes maior do que o número de crianças e adolescentes disponíveis nos abrigos.

“Ter a intenção de adotar já é um ato de amor porque quem quer, de fato, fazer uma adoção, já demonstra que tem o coração aberto. Então, mediante a atual situação, é necessário abrir mais o coração. Mas, às vezes, as pessoas demonstram que só querem ‘ter um troféu’ e ser pai, mãe, não é isso. Não é troféu. Por isso, estamos tentando abrir o coração das pessoas que desejam adotar para ver se elas adotam uma criança de uma outra cor, raça, que possua uma doença ou que já esteja com uma idade acima de 7 anos”, complementou Pirauá.

O preconceito, conforme a juíza da 28ª Vara, é a principal barreira em um processo de adoção. “Normalmente, os candidatos querem adotar crianças que tenham a cor de pele semelhante para que ninguém saiba que o ‘filho’ é adotado. É o primeiro preconceito encontrado, infelizmente. Esses preconceitos existem e o nosso público ainda tem uma resistência em fazer adoção tardia ou que, aos olhos do preconceito, seja diferente. Nossa principal dificuldade encontrada na hora de fazer uma adoção é essa”, acrescentou.

* Nomes fictícios


Embora eles sejam bem tratados e, muitas vezes se apeguem aos cuidadores, segundo a juíza Fátima Pirauá, os abrigos não representam “uma família”.

“Claro que nos abrigos, na questão de saúde e educação, eles estão em uma situação melhor do que quando estavam com a família ou em situação de rua, onde viviam sendo explorados na rua para esmolar ou para se prostituir. Então, agora, estão em uma situação mais digna, mas não estão em um ambiente familiar, como é o direito de toda criança e de todo adolescente”, disse a juíza da 28ª Vara.

Dos sete abrigos, três não pertencem ao município de Maceió e vivem de filantropia [profundo amor à humanidade]. Questionada sobre as condições estruturais, Pirauá disse que para atender as pessoas, com alguma doença, é regular.

“Existe uma estrutura mais ou menos. Não podemos dizer que é o ideal e nem que é ruim. Quando existe uma emergência de saúde, o coordenador do abrigo solicita tratamento, remédios e o que for necessário para o tratamento da criança ou do adolescente”, acrescentou.

Original disponível em: http://gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas/noticia.php?c=309606

Reproduzido por: Lucas H.


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