Mais de 40 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos espalhados pelo Brasil. Por outro lado, milhares de pessoas querem adotar um filho. O caminho até a formação de novas famílias é o tema da série especial que o Jornal Nacional começa a exibir esta semana. Nesta segunda-feira (10), a repórter Graziela Azevedo mostra como começa o processo de adoção.
A delícia de ter o seu lugarzinho no mundo. “Tenho minhas roupas, minha toalha, minha mochila de ir pra escola”, diz a menina que foi adotada pela estudante de pedagogia Jéssica Mundim Aguiar. As alegrias simples de uma manhã de criança.
Repórter: O que você fez hoje na escola?
Menina: Hoje brinquei de bolha de sabão, tomei vitamina, comi biscoito.
E o melhor de tudo: poder falar de amor. “Eu amo meu pai, minha mãe, a Julia, a tia Romilda. Todo mundo da minha família. Você agora é a repórter da minha família”, diz.
Uma família que começou como manda a tradição e, mesmo podendo ter filhos naturais, escolheu a adoção.
“Meu desejo de ser mãe era independente de uma gestação ou de uma criança adotiva. Acho que são só formas diferentes da criança chegar na família. Então, para mim sempre foi um desejo”, afirma Jéssica.
A pequena entrevistada agora tem companhia. Jéssica engravidou pouco depois da adoção. Ela e o marido ainda não querem mostrar o rostinho da filha mais velha porque estão sem o documento definitivo. A adoção aconteceu há quase dois anos, mas o processo legal pode ser lento.
“Agora é só esperar. A ansiedade que a gente vive é essa, até o dia que a gente vai ter certeza de que vai está tudo certo, que vai sair a certidão de nascimento dela nova e pronto. Aí acabou”, diz o engenheiro de telecomunicações Vinícios Rezende Aguiar.
Mas antes do final feliz, os candidatos a pais e a filhos do coração têm um longo caminho a percorrer. Pela estrada da adoção, talvez enfrentem inseguranças, medos, dificuldades. O primeiro passo precisa ser dado na Vara da Infância. O roteiro oficial é o mesmo para todos, mas cada encontro entre pais e filhos terá um enredo diferente.
Os interessados em adotar têm que juntar documentos, fazer curso, passar por avaliação com psicólogos e assistentes sociais. E quando aprovados, entram para o Cadastro Nacional de Adoção. Ele foi criado em 2008 para unificar as listas de candidatos e de crianças e adolescentes. Hoje, reúne cerca de 38 mil interessados em adotar e pouco mais de 7 mil menores disponíveis para adoção.
Mas o número nos abrigos é bem maior: são mais de 40 mil crianças e adolescentes em todo o Brasil que foram retirados temporariamente das famílias.
Muitas dessas crianças e adolescentes vão crescendo sem saber o básico.
“Um dia ela resolveu perguntar para nós, da equipe técnica: O que é parente? O que significa parente? ‘Eu não sei o que é parente! Esse negócio de tia, tio, irmão, vó e vô pra minha é mesma coisa’”, conta a psicóloga Lucia Barbosa.
Explicar o que é família é apenas um dos desafios de quem cuida das crianças acolhidas nos abrigos. Muitos lembram uma casa comum.
“Hoje nós temos sete adolescentes na casa e elas que fazem a própria organização do seu espaço”, diz a gerente do abrigo Sandra dos Santos Gama.
Mas as regras não são as mesmas de um lar qualquer. “O controle remoto normalmente fica na mão dos funcionários, porque é um controle para 20 crianças. Se for passar na mão de todo mundo, no fim do dia o controle já não existe mais. Se todo mundo for abrir a geladeira, também gasta energia, os alimentos estragam. Respeitar a individualização é um desafio do serviço de acolhimento”, explica Sandra.
Dos 20 menores do abrigo, apenas três estão prontos para adoção: um bebê com problemas de saúde, uma adolescente de 13 anos e uma lindeza de 3 aninhos. Com os outros 17 menores o trabalho, primeiro, é tentar o retorno aos pais ou parentes. Como manda a Lei de Adoção, de 2009, a prioridade é garantir o convívio da criança com a família biológica, resolvendo as situações de pobreza extrema, violência e uso de álcool e drogas.
“Se esgotou o trabalho e a gente vê que não tem possibilidade junto com a rede de garantia de direito, aí a gente sugere a destituição, que é quando a criança entra no Cadastro da Adoção”, explica a assistente social Carolina Fonseca.
Só aí começa um outro esforço: o cruzamento das informações de quem quer adotar com aqueles que precisam ser adotados. E o interesse das crianças, o lado mais frágil, hoje em dia é o que vale mais.
“Antigamente você falava: ‘Eu escolho a criança que eu quero’. Hoje, não. Eu escolho a família que melhor se adequa à criança. Se eu tenho vários pretendentes, eu, como juiz, a minha obrigação é escolher dentre aqueles que quererem adotar aquele que melhor se adequa às necessidades da criança”, explica o vice-coordenador da Infância e Juventude do TJ Reinaldo Torres de Carvalho.
Quem vê a alegria de um casal com os dois filhos que adotou nem imagina que antes houve um período de dor e frustração, quando a economiária Júnia Cristina de Araújo Gomes descobriu que não poderia engravidar.
“A terapeuta perguntou: ‘Júnia, você quer uma barriga ou você quer um filho?’ Mas foi tão claro quando ela falou. Parece que eu levei um soco e me iluminei! Falei assim: ‘Eu quero um filho’. Logico, eu quero filho”, conta.
Foram dois anos de espera pelo primeiro filho e depois mais três aguardando as novas certidões de nascimento. Os papéis que confirmam o que o coração aprende antes.
“Maternidade e paternidade é quando tá ali no seu colo e fala assim: ‘Eu tenho que dar conta. Esse serzinho depende de mim pra tudo! Pra escola, pra saúde, pra educação, pra afeto, pra alimentação’. É ali que você se torna mãe e pai, eu acho. Estamos muito felizes, são os nossos amores”, diz Júnia.
A delícia de ter o seu lugarzinho no mundo. “Tenho minhas roupas, minha toalha, minha mochila de ir pra escola”, diz a menina que foi adotada pela estudante de pedagogia Jéssica Mundim Aguiar. As alegrias simples de uma manhã de criança.
Repórter: O que você fez hoje na escola?
Menina: Hoje brinquei de bolha de sabão, tomei vitamina, comi biscoito.
E o melhor de tudo: poder falar de amor. “Eu amo meu pai, minha mãe, a Julia, a tia Romilda. Todo mundo da minha família. Você agora é a repórter da minha família”, diz.
Uma família que começou como manda a tradição e, mesmo podendo ter filhos naturais, escolheu a adoção.
“Meu desejo de ser mãe era independente de uma gestação ou de uma criança adotiva. Acho que são só formas diferentes da criança chegar na família. Então, para mim sempre foi um desejo”, afirma Jéssica.
A pequena entrevistada agora tem companhia. Jéssica engravidou pouco depois da adoção. Ela e o marido ainda não querem mostrar o rostinho da filha mais velha porque estão sem o documento definitivo. A adoção aconteceu há quase dois anos, mas o processo legal pode ser lento.
“Agora é só esperar. A ansiedade que a gente vive é essa, até o dia que a gente vai ter certeza de que vai está tudo certo, que vai sair a certidão de nascimento dela nova e pronto. Aí acabou”, diz o engenheiro de telecomunicações Vinícios Rezende Aguiar.
Mas antes do final feliz, os candidatos a pais e a filhos do coração têm um longo caminho a percorrer. Pela estrada da adoção, talvez enfrentem inseguranças, medos, dificuldades. O primeiro passo precisa ser dado na Vara da Infância. O roteiro oficial é o mesmo para todos, mas cada encontro entre pais e filhos terá um enredo diferente.
Os interessados em adotar têm que juntar documentos, fazer curso, passar por avaliação com psicólogos e assistentes sociais. E quando aprovados, entram para o Cadastro Nacional de Adoção. Ele foi criado em 2008 para unificar as listas de candidatos e de crianças e adolescentes. Hoje, reúne cerca de 38 mil interessados em adotar e pouco mais de 7 mil menores disponíveis para adoção.
Mas o número nos abrigos é bem maior: são mais de 40 mil crianças e adolescentes em todo o Brasil que foram retirados temporariamente das famílias.
Muitas dessas crianças e adolescentes vão crescendo sem saber o básico.
“Um dia ela resolveu perguntar para nós, da equipe técnica: O que é parente? O que significa parente? ‘Eu não sei o que é parente! Esse negócio de tia, tio, irmão, vó e vô pra minha é mesma coisa’”, conta a psicóloga Lucia Barbosa.
Explicar o que é família é apenas um dos desafios de quem cuida das crianças acolhidas nos abrigos. Muitos lembram uma casa comum.
“Hoje nós temos sete adolescentes na casa e elas que fazem a própria organização do seu espaço”, diz a gerente do abrigo Sandra dos Santos Gama.
Mas as regras não são as mesmas de um lar qualquer. “O controle remoto normalmente fica na mão dos funcionários, porque é um controle para 20 crianças. Se for passar na mão de todo mundo, no fim do dia o controle já não existe mais. Se todo mundo for abrir a geladeira, também gasta energia, os alimentos estragam. Respeitar a individualização é um desafio do serviço de acolhimento”, explica Sandra.
Dos 20 menores do abrigo, apenas três estão prontos para adoção: um bebê com problemas de saúde, uma adolescente de 13 anos e uma lindeza de 3 aninhos. Com os outros 17 menores o trabalho, primeiro, é tentar o retorno aos pais ou parentes. Como manda a Lei de Adoção, de 2009, a prioridade é garantir o convívio da criança com a família biológica, resolvendo as situações de pobreza extrema, violência e uso de álcool e drogas.
“Se esgotou o trabalho e a gente vê que não tem possibilidade junto com a rede de garantia de direito, aí a gente sugere a destituição, que é quando a criança entra no Cadastro da Adoção”, explica a assistente social Carolina Fonseca.
Só aí começa um outro esforço: o cruzamento das informações de quem quer adotar com aqueles que precisam ser adotados. E o interesse das crianças, o lado mais frágil, hoje em dia é o que vale mais.
“Antigamente você falava: ‘Eu escolho a criança que eu quero’. Hoje, não. Eu escolho a família que melhor se adequa à criança. Se eu tenho vários pretendentes, eu, como juiz, a minha obrigação é escolher dentre aqueles que quererem adotar aquele que melhor se adequa às necessidades da criança”, explica o vice-coordenador da Infância e Juventude do TJ Reinaldo Torres de Carvalho.
Quem vê a alegria de um casal com os dois filhos que adotou nem imagina que antes houve um período de dor e frustração, quando a economiária Júnia Cristina de Araújo Gomes descobriu que não poderia engravidar.
“A terapeuta perguntou: ‘Júnia, você quer uma barriga ou você quer um filho?’ Mas foi tão claro quando ela falou. Parece que eu levei um soco e me iluminei! Falei assim: ‘Eu quero um filho’. Logico, eu quero filho”, conta.
Foram dois anos de espera pelo primeiro filho e depois mais três aguardando as novas certidões de nascimento. Os papéis que confirmam o que o coração aprende antes.
“Maternidade e paternidade é quando tá ali no seu colo e fala assim: ‘Eu tenho que dar conta. Esse serzinho depende de mim pra tudo! Pra escola, pra saúde, pra educação, pra afeto, pra alimentação’. É ali que você se torna mãe e pai, eu acho. Estamos muito felizes, são os nossos amores”, diz Júnia.
Original disponível em: http://verdevalefm3.com.br/2017/07/17/mais-de-40-mil-criancas-vivem-em-abrigos-pelo-brasil/
Reproduzido por: Lucas H.
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