16.02.17
Só as crianças adotadas são felizes … para sorte delas, a maioria é adotada pelos pais biológicos”.
E a receita começa assim:
1º Engravide-se do coração incondicionalmente.
Gostávamos de ver este filme “Lion” na perspetiva da comunicação do amor, do amor de pais e filhos para sempre. Do amor que não resulta de um processo biológico de conceção em que amar é o natural desejo, mas sim, como um dia li que uma nordestina citou
“tu coube tão direitinho dentro do meu coração, que talvez tu não tenha formato de gente, mas de amor.”
Adotar implica também adotar um passado da criança, uma história e o seu sofrimento sem que dela tenhamos feito parte. Implica oferecer o velejar do que connosco se passou, quantas vezes, rumo a ilhas inexistentes. Implica o mistério do nunca abandono.
Os filhos adotados têm de se sentir inequivocamente solares para quem os ama.
Estes meninos supostamente de ninguém são o nosso tudo e devem dele ter consciência para que a entrega se faça sem medo de se perderem de novo.
Todos nós deveríamos ter noção do que significa escolher ser pai ou ser mãe de alguém que muito deseja ser filho. Também por esta razão, a adoção não tem lugar para preencher vazios. Veja-se que neste filme os pais que decidiram adotar podiam ter tido filhos biológicos sem restrições, e a eles renunciaram por um amor maior.
Curiosamente, não escapa a frase que menciona, o quanto se apaixonaram um pelo outro, este casal que decidiu não ter filhos biológicos, exatamente porque essa decisão entre eles gerou paixão, sonho aguardado, e fez crescer o amor que souberam transferir na adoção sem nunca se perderem da razão primeira.
A adoção não depende da gestação mas da vontade e da disponibilidade para se ser pai e filho e mãe eternamente. Quem ama não desiste. Quem ama, cuida. E filiar é desejar um filho, reconhecendo-o.
Uma família é, digo-o, se dentro dela a soubermos pensar, a soubermos fecundar. E nunca bastará a justificação de se tratar de uma família biológica, para assim ser ou não, ou esta não fosse muitas vezes a que tolera o que não deve, e também cria filhos, usando próteses de chantagens camufladas, nunca detetadas por se imputar à natureza dos pais ditos verdadeiros, e tanto basta.
E de ver-te meu filho amado entendo-te na minha semelhança. Assim o sinto. Que me seja permitido descobrir o que de mim saí para procurar. E que tu e teu outro que em ti habita persiga o lugar a que te destinas no teu sentido de viver, no teu saber de tão longo caminhar.
E encontraram-se as mães, a biológica e a outra. E no meio do abraço de ambas, disputava-lhes o filho a atenção.
E tudo sem perguntas fundamentais.
Todos os sítios e os indícios, enfim juntos.
Aquele contacto extremo era uma toalha liquida de lágrimas tal qual o amor que se estende na mesa e se partilha desvanecido ali no vértice mesmo do Ser. E casa são tijolos e lar são princípios.
Lion: cresceu no seio do amor maior e dele fez caminho até ao deslumbramento
Só as crianças adotadas são felizes … para sorte delas, a maioria é adotada pelos pais biológicos”.
Laborinho Lúcio
E a receita começa assim:
1º Engravide-se do coração incondicionalmente.
Gostávamos de ver este filme “Lion” na perspetiva da comunicação do amor, do amor de pais e filhos para sempre. Do amor que não resulta de um processo biológico de conceção em que amar é o natural desejo, mas sim, como um dia li que uma nordestina citou
“tu coube tão direitinho dentro do meu coração, que talvez tu não tenha formato de gente, mas de amor.”
Adotar implica também adotar um passado da criança, uma história e o seu sofrimento sem que dela tenhamos feito parte. Implica oferecer o velejar do que connosco se passou, quantas vezes, rumo a ilhas inexistentes. Implica o mistério do nunca abandono.
Os filhos adotados têm de se sentir inequivocamente solares para quem os ama.
Estes meninos supostamente de ninguém são o nosso tudo e devem dele ter consciência para que a entrega se faça sem medo de se perderem de novo.
Todos nós deveríamos ter noção do que significa escolher ser pai ou ser mãe de alguém que muito deseja ser filho. Também por esta razão, a adoção não tem lugar para preencher vazios. Veja-se que neste filme os pais que decidiram adotar podiam ter tido filhos biológicos sem restrições, e a eles renunciaram por um amor maior.
Curiosamente, não escapa a frase que menciona, o quanto se apaixonaram um pelo outro, este casal que decidiu não ter filhos biológicos, exatamente porque essa decisão entre eles gerou paixão, sonho aguardado, e fez crescer o amor que souberam transferir na adoção sem nunca se perderem da razão primeira.
A adoção não depende da gestação mas da vontade e da disponibilidade para se ser pai e filho e mãe eternamente. Quem ama não desiste. Quem ama, cuida. E filiar é desejar um filho, reconhecendo-o.
Uma família é, digo-o, se dentro dela a soubermos pensar, a soubermos fecundar. E nunca bastará a justificação de se tratar de uma família biológica, para assim ser ou não, ou esta não fosse muitas vezes a que tolera o que não deve, e também cria filhos, usando próteses de chantagens camufladas, nunca detetadas por se imputar à natureza dos pais ditos verdadeiros, e tanto basta.
E de ver-te meu filho amado entendo-te na minha semelhança. Assim o sinto. Que me seja permitido descobrir o que de mim saí para procurar. E que tu e teu outro que em ti habita persiga o lugar a que te destinas no teu sentido de viver, no teu saber de tão longo caminhar.
E encontraram-se as mães, a biológica e a outra. E no meio do abraço de ambas, disputava-lhes o filho a atenção.
E tudo sem perguntas fundamentais.
Todos os sítios e os indícios, enfim juntos.
Aquele contacto extremo era uma toalha liquida de lágrimas tal qual o amor que se estende na mesa e se partilha desvanecido ali no vértice mesmo do Ser. E casa são tijolos e lar são princípios.
Lion: cresceu no seio do amor maior e dele fez caminho até ao deslumbramento
Teresa Bracinha Vieira
Original disponível em: http://e-cultura.blogs.sapo.pt/cronica-da-cultura-540276
Reproduzido por: Lucas H.
Nenhum comentário:
Postar um comentário