O sonho de quase toda criança adotiva é encontrar uma família amorosa, em um lar aconchegante com muito amor. No entanto, esse sonho acaba se realizando para uma minoria absoluta. O perfil que os pais traçam na hora de optar por uma criança adotiva é muito distante da realidade brasileira. A maioria quer uma menina, branca, sem problemas de saúde e com poucos meses de vida. As chances de um menino negro e um pouco mais velho ser adotado são bem menores. Um adolescente, então, nem se fala.
Essa “preferência” altamente excludente e até um pouco racista da maioria dos pessoas que decidem adotar gera um efeito colateral grave, prejudicando ainda mais a vida das crianças que esperam por um lar.
Não é só a burocracia
Muitos de nós já ouvimos a frase “no Brasil, as coisas são muito burocráticas. É por isso que há tantas crianças nos lares adotivos”. Quanto à parte da burocracia, infelizmente é uma verdade. Porém, ela não é a única culpada pelo excesso de crianças adotivas esperando um lar. Como dito anteriormente, há uma incompatibilidade entre a criança adotiva idealizada pelos pais e a realidade de um orfanato ou abrigo no Brasil. A maior delas é em relação à idade.
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O desafio das crianças mais velhas
No Brasil exista o mito da democracia racial e ausência de racismo e, talvez por isso, o maior desafio para as crianças adotivas é em relação à idade. A raça, claro, ainda constitui um obstáculo, mas, segundo pesquisa realizada pelo Cadastro Nacional de Adoção, a grande maioria das famílias não viam problemas em que a criança adotiva fosse negra ou parda.
A dificuldade começa na hora de selecionar a faixa etária. Apenas 25% dos cadastrados na fila para uma adotar uma criança consideravam um filho de 4 anos ou mais. Mesmo quando apenas 4% das crianças que estão à espera de uma família têm menos de 4 anos. Os dados ficam ainda mais graves quando falamos de adolescentes acima de 11 anos. Apenas 1% dos pais adotivos os consideram uma opção.
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Irmãos em abrigos
As chances desses também são muito pequenas. Afinal, apenas 17,65% dos pais pretendentes à adoção consideram adotar mais de uma criança ao mesmo tempo. No caso de irmão, a porcentagem sobre um pouquinho, mas nada muito considerável. 18,98% dos pais adotivos consideram levar dois irmãos para casa.
Impactos desses desafios na vida das crianças adotivas
Bem, eles começam quando a grande maioria das crianças adotivas nunca chega a ser adotada por ninguém. Falamos aqui de raça, idade e laços consanguíneos, mas há ainda as dificuldades em relação às deficiências físicas e mentais e histórico de abusos e maus tratos.
Um orfanato brasileiro está bem longe do que foi mostrado naquela novela dos anos 90, Chiquititas. Há abandono, falta de recursos e, por vezes, agressões físicas e sexuais.
É normal a fuga de crianças de 12 e 13 anos. Elas pulam o muro do abrigo e começam a viver nas ruas, recorrendo ao roubo e à prostituição. Afinal, quem vai querer adotá-las?
Renda e avaliação psicológica
A renda dos pais que pretendem ter uma criança adotiva é um dos critérios cuidadosamente avaliados pelos órgão competentes. É ainda feito um acompanhamento sobre a vida das famílias e algumas visitas à casa, para ter a certeza de que a criança adotiva será muito bem recebida. Esses cuidados devem servir para tornar o processo de adoção mais seguro, tanto para os pais como para as crianças. No entanto, segundo muitas pessoas que estão ou estiveram na fila esperando por uma criança, as condições para a adoção acabam sendo muito rígidas e excludentes.
Adotar é um ato de amor. Porém, nem todos os farão. A grande questão que deve ser repensada, especialmente pelos pais que esperam por uma criança adotiva, é esse perfil tão incompatível. Como disse a Rosiere, uma pessoas maravilhosa que tivemos o prazer de entrevistar aqui no Clube da Maternidade, “criança de abrigo não é bebê da Johnson”. Elas precisam apenas de mais amor e menos perfis conde não cabem.
Leia aqui sobre a história completa da Rosiere e sua linda família mosaico.
Material de apoio: Senado Brasileiro.
Original disponível em: https://clubedamaternidade.com/crianca-adotiva-espera-lar/
Reproduzido por: Lucas H.
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