quinta-feira, 13 de outubro de 2016

'Somos pais, ele só ainda não está com a gente', diz futura mãe adotiva (Reprodução)

12/10/2016

Ansiedade, angústia, espera. Esses são os sentimentos de muitas mães durante a gravidez. Na gestação, esse tempo é determinado. São nove meses contados por semanas que demoram a passar. Para as chamadas mães do coração, o relógio funciona um pouco diferente. A espera para o encontro do filho passa a ser maior, indeterminada. Tanto para os pais, quanto para as crianças que vivem nos abrigos.

A preferência é por recém-nascidos, o que gera um aumento na fila de adoção. "Não chamamos mais de adoção tardia, e sim, adoção necessária. São muitas crianças de 7, 8 e 12 anos. Percebo que as pessoas têm aberto o coração para acolher. Porque elas completam 18 anos e precisam ir embora. Então precisamos de pessoas que queiram adotar crianças e adolescentes", relata a coordenadora do Grupo de Apoio à Adoção de Barra Mansa (GAABM), Marcília Leite Arantes.


O grupo de Barra Mansa é responsável por ajudar os pais que estão na fila de espera, para os que já adotaram, para as gestantes que não estão preparadas para ser mães, e para os que apoiam a ideia. As reuniões são mensais, todo quarto sábado do mês, às 16h, na Paróquia Santo Antônio, no bairro Saudade.

Mesmo com a faixa etária diferente do quase sempre esperado, Marcília acredita que é importante se permitir a conhecer o abrigo e a história de cada criança. "O que a gente espera, torce e trabalha: para que os lares estejam cheios e os abrigos vazios", finalizou.

Espera

"Somos pais, ele só ainda não está com a gente. Tenho filho, mas ele ainda não sabe que é meu. Ele já existe", assim a comerciante de Barra Mansa, Cintia Marcela de Souza Pereira, de 30 anos, lida com a espera pelo encontro com o primeiro filho. Há um ano ela entrou com a papelada para fazer parte da fila de adoção. Independente, da idade ou sexo, esse sempre foi o seu sonho. O quarto da criança já está pronto e a expectativa é de que o filho possa "nascer" a qualquer momento.

A adoção sempre foi a primeira opção na vida dela. Apesar do preconceito que alguns amigos apresentaram, ela continuou otimista quanto a sua decisão. "Mesmo quando você tem filho biológico, cada um vem de um jeito. Nenhum filho é igual. O filho do coração é para sempre, que nem o filho biológico. Se eu estou disposta a amar, eu tenho que estar disposta a dar minha vida se for preciso", afirmou Cintia.

Encontro
Três famílias de Barra Mansa e Volta Redonda vão adotar três irmãos na segunda-feira (17). Uma menina, de 7 anos, e dois meninos, de 10 e 12, que são de Frutal, em Minas Gerais. A expectativa é grande, pois os irmãos vão manter contato, fazer visitas e até estudar no mesmo colégio.
"Eu sofri muito na cidade que morei e trabalhei, agora chegou a hora de ser feliz. Eu preciso ter uma família. Eu quero ser amado, quero um lugar pra voltar pra casa". Esse é o relato da criança de 12 anos às vésperas de encontrar os pais adotivos.

A Edna Aparecida, Liliane Bittencurt e Sheila Carvalho se conheceram no grupo e ficaram mais unidas depois de saber das três crianças que esperavam a adoção. Todos conversam diariamente por telefone e por vídeos. Segundo elas, foi amor foi à primeira vista.

Todas tinham o sonho da adoção, e já esperavam há um tempo. O grupo agiliza o processo por facilitar a comunicação entre os pais e o abrigo. Para as três mães, este é um assunto bem resolvido e decidido. Todas têm o apoio da família e não traçaram um perfil específico para os filhos.

Depois de alguns tratamentos para engravidar e um aborto espontâneo, a Liliane resolveu adotar. Quando começou a participar do grupo e a conviver com outros pais e teve a certeza do que queria e que a idade não importava. Ela driblou o preconceito de pessoas que não tem conhecimento sobre a adoção. "Falaram que eu ia pegar pra criar. Não vou pegar pra criar, vai ser meu", afirmou.

E garante que os preparativos são iguais a espera da gravidez: quer fazer o melhor para a chegada da filha. "Eu acho que a adoção é amor e entrega. Gestação é natural, nunca sabe o que vai vir. E na gestação do coração também. Nós deveríamos deixar aberta essa possibilidade", acredita.

Com a adoção da menina, Sheila vê o lado positivo da adoção tardia. "Eu tenho minhas atividades. A criança de 7 anos já é um pouco mais independente. Não vou precisar contar que ela foi adotada, ela que vai contar pra mim. O que eles mais querem é ser adotados, não querem decepcionar. Ela faz cartinha, faz coraçãozinho, me chama de mãe", ressaltou.

A Edna, de 42 anos, vai para a segunda adoção. Sempre sonhou em ter um casal de filhos. Para ela, o grupo ajudou a conhecer a realidade dos abrigos. "Muitas pessoas aguardam na fila porque se fecham para o novo. Até mesmo criança com idade pequena tem fase difícil", analisou.

Para os pais que ainda estão indecisos quanto as idades, ela reforça a importância da troca de experiências. "O bem maior quem vai fazer são eles por vocês, pode ter certeza disso", finalizou.

Original disponível em: http://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2016/10/somos-pais-ele-so-ainda-nao-esta-com-gente-diz-futura-mae-adotiva.html

Reproduzido por: Lucas H.

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