“O outono tem essa implicação metafórica do declínio. O Outono da Infância, então, fala sobre um certo tipo de infância que está acabando, morrendo, se transformando em outra coisa que ainda não sabemos como vai ser”, explica o professor Ivan Siqueira, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Outono da Infância é o mais recente projeto musical do professor, que afirma não se tratar de um disco infantil, mas um disco sobre a infância.
Siqueira é professor do Departamento de Biblioteconomia e Informação (CBD) da ECA, mas diz que sempre foi ligado à música e à literatura, com mestrado sobre Paulinho da Viola e doutorado sobre a música em Guimarães Rosa, além de ter experiência como músico e ter gravado outros discos antes de Outono da Infância. “No meu último disco, um disco de samba que lancei em 2013, ia incluir uma música chamada Bailarina. Mas pensei que faria mais sentido fazer um outro disco com a temática da infância e incluir a canção nele, e foi assim que começou a ideia”, conta.
Durante um leitorado no Japão, Siqueira teve tempo para elaborar o projeto, compondo lá a maioria das canções do disco. O país asiático também serviu de inspiração para o título da obra. “Me inspirei no outono de lá, que é muito bonito e traz mudanças muito mais acentuadas na paisagem do que as que vemos nessa estação aqui no Brasil.” Os temas das 14 faixas do disco são muito diversos, desde brincadeiras, músicas, filmes e programas de TV do passado até reflexões sobre a morte.
Há um ano membro da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, além de ter trabalhado muitos anos na rede pública com alunos do ensino fundamental ao ensino médio, Siqueira pôde perceber problemas na interação entre pais e filhos que o preocuparam. “Quando dava aula para alunos do sexto ano, que têm por volta de 10 anos de idade, costumava perguntar a eles o que fizeram com seus pais no final de semana. A resposta geralmente era silêncio. Se os pais não passam tempo com seus filhos nessa idade, quando vão passar?”
Pensando nisso, mais que fazer um registro de uma infância que está desaparecendo, o professor procurou compor canções que estimulassem a interação familiar. “Uma criança que ouça o disco sozinha talvez não se interesse, porque faltam a ela referências. Mas, se os pais se lembrarem das brincadeiras, músicas, programas aos quais as canções remetem, podem querer mostrar aos filhos e conversar com eles sobre essas coisas.”
Original disponível em: http://jornal.usp.br/cultura/musicas-de-professor-da-usp-estimulam-conversa-entre-pais-e-filhos/
Reproduzido por: Lucas H.
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