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"A adoção tem por finalidade encontrar família para uma criança, e não criança para uma família".
Confesso que isso me confundia. Eu encontrava muita dificuldade em interiorizar esse conceito, pois eu pensava:
Mas é tudo a mesma coisa. Esse é um caminho de mão dupla. Na adoção, todo mundo tem que ficar feliz. Claro que se tem que encontrar a família adequada à criança, mas também a criança deve ser adequada à família adotante.
Ninguém pode ser obrigado a adotar uma criança que não deseja, pois isso seria caridade, e adoção não é caridade. Tem que existir uma criança que eu queira, e me queira; que seja como eu sonho e eu serei como ele sonha.
Foi só depois que eu conheci o meu filho que eu realmente consegui entender o que significa isso.
Como já disse a vocês diversas vezes, eu não ouvi sininhos ao encontrar meu filho pela primeira vez. Nenhum sinal ou sentimento especial me avisou que era ELE! Minha alma nada disse. Pelo contrário, emudeceu diante da criança que estava diante de mim. Ele era totalmente diferente do que eu havia sonhado. Meu filho era uma criança feia.
Tão magro que as muitas vacinas que precisou tomar tinham que ser dadas nas pernas, porque ele não tinha musculatura suficiente nos braços. Seu olhar não tinha brilho; sua pele não tinha viço, ele tinha orelhas de abano e uma delas apresentava deformidade.Todos os seu dentes eram escuros e estavam quebrados. Ele não falava corretamente. Apresentava características que não constavam na ficha que eu preenchi ao definir o perfil, e deficiências com as quais eu não sabia e nem havia pedido para lidar.
E como não houve uma arrebatadora paixão à primeira vista, eu me perguntei se ele era, de fato, o filho destinado a mim.
Nenhum guru me respondeu. O céu não se abriu. Não tive nenhum sonho premonitório. À falta do sinal místico a me dar a certeza que eu pedia, me coube escolher se eu iria ou não aceitá-lo como era, em caráter definitivo, porque filho não se abandona.
Eu decidi que sim, que iria aceitá-lo. Não estava mais disposta a esperar indefinidamente por uma criança que talvez existisse somente na minha fantasia, ou na reduzida capacidade que eu acreditava ter, de lidar com o que era tão diferente e desafiador.
E então eu entendi o que significa "dar uma família a uma criança". Era disso que aquele menininho frágil precisava: de uma família que o acolhesse, com carinho e com vontade de ajudá-lo; uma família que estivesse disposta a amá-lo com todas as suas aparentes limitações,e imperfeições.
Ele estava ali, bem diante de mim, sorrindo timidamente, me aceitando simplesmente, sem nada perguntar.
Eu não tinha nenhum plano elaborado. Não tinha me preparado para os desafios que se apresentaram, mas estava disposta a aprender e fazer o que fosse preciso. Fiz disso a minha prioridade. ELE era o mais importante. Depois, eu veria o resto.
E quando o depois chegou, percebi que eu já tinha tudo o que queria, e muito mais do que eu havia sonhado ! Meu filho era MUITO mais especial e carinhoso, inteligente, amoroso e sensível do que eu podia imaginar.
Hoje eu sei que não importa o que aconteça em nossas vidas, ele será sempre a minha prioridade. Hoje eu sei que faria qualquer coisa por ele e que nenhum problema, circunstância, dificuldade, doença ou defeito pode me afastar do meu filho.
Ele sabe disso! E por saber, encontrou dentro de si a força necessária para mudar tudo, transformar tudo, superar tudo e se tornar quem ele é hoje.
Aos meus olhos, é o menino mais legal do mundo :-) .
Eu tenho tanto orgulho de suas conquistas e vitórias, tenho tanto amor que sinto até algo se revirar dentro de mim quando penso no que teria acontecido se eu tivesse dito NÃO.
E agora eu estou aqui, todo santo dia fazendo coro às vozes que recitam na sua cabeça a ladainha incompreensível, mas absolutamente verdadeira:
Adotar é encontrar família para uma criança, e não criança para uma família !.
Diga SIM, do fundo do seu coração.
Shirley Machado
Original disponível em: https://www.facebook.com/groups/diariodaadocao/permalink/1309036282490729/
Reproduzido por: Lucas H.
Quando me habilitei e comecei a frequentar Grupos de Apoio na Internet, essa foi a primeira orientação que recebi:
"A adoção tem por finalidade encontrar família para uma criança, e não criança para uma família".
Confesso que isso me confundia. Eu encontrava muita dificuldade em interiorizar esse conceito, pois eu pensava:
Ninguém pode ser obrigado a adotar uma criança que não deseja, pois isso seria caridade, e adoção não é caridade. Tem que existir uma criança que eu queira, e me queira; que seja como eu sonho e eu serei como ele sonha.
Foi só depois que eu conheci o meu filho que eu realmente consegui entender o que significa isso.
Como já disse a vocês diversas vezes, eu não ouvi sininhos ao encontrar meu filho pela primeira vez. Nenhum sinal ou sentimento especial me avisou que era ELE! Minha alma nada disse. Pelo contrário, emudeceu diante da criança que estava diante de mim. Ele era totalmente diferente do que eu havia sonhado. Meu filho era uma criança feia.
Tão magro que as muitas vacinas que precisou tomar tinham que ser dadas nas pernas, porque ele não tinha musculatura suficiente nos braços. Seu olhar não tinha brilho; sua pele não tinha viço, ele tinha orelhas de abano e uma delas apresentava deformidade.Todos os seu dentes eram escuros e estavam quebrados. Ele não falava corretamente. Apresentava características que não constavam na ficha que eu preenchi ao definir o perfil, e deficiências com as quais eu não sabia e nem havia pedido para lidar.
E como não houve uma arrebatadora paixão à primeira vista, eu me perguntei se ele era, de fato, o filho destinado a mim.
Nenhum guru me respondeu. O céu não se abriu. Não tive nenhum sonho premonitório. À falta do sinal místico a me dar a certeza que eu pedia, me coube escolher se eu iria ou não aceitá-lo como era, em caráter definitivo, porque filho não se abandona.
Eu decidi que sim, que iria aceitá-lo. Não estava mais disposta a esperar indefinidamente por uma criança que talvez existisse somente na minha fantasia, ou na reduzida capacidade que eu acreditava ter, de lidar com o que era tão diferente e desafiador.
E então eu entendi o que significa "dar uma família a uma criança". Era disso que aquele menininho frágil precisava: de uma família que o acolhesse, com carinho e com vontade de ajudá-lo; uma família que estivesse disposta a amá-lo com todas as suas aparentes limitações,e imperfeições.
Ele estava ali, bem diante de mim, sorrindo timidamente, me aceitando simplesmente, sem nada perguntar.
Eu não tinha nenhum plano elaborado. Não tinha me preparado para os desafios que se apresentaram, mas estava disposta a aprender e fazer o que fosse preciso. Fiz disso a minha prioridade. ELE era o mais importante. Depois, eu veria o resto.
E quando o depois chegou, percebi que eu já tinha tudo o que queria, e muito mais do que eu havia sonhado ! Meu filho era MUITO mais especial e carinhoso, inteligente, amoroso e sensível do que eu podia imaginar.
Hoje eu sei que não importa o que aconteça em nossas vidas, ele será sempre a minha prioridade. Hoje eu sei que faria qualquer coisa por ele e que nenhum problema, circunstância, dificuldade, doença ou defeito pode me afastar do meu filho.
Ele sabe disso! E por saber, encontrou dentro de si a força necessária para mudar tudo, transformar tudo, superar tudo e se tornar quem ele é hoje.
Aos meus olhos, é o menino mais legal do mundo :-) .
Eu tenho tanto orgulho de suas conquistas e vitórias, tenho tanto amor que sinto até algo se revirar dentro de mim quando penso no que teria acontecido se eu tivesse dito NÃO.
E agora eu estou aqui, todo santo dia fazendo coro às vozes que recitam na sua cabeça a ladainha incompreensível, mas absolutamente verdadeira:
Adotar é encontrar família para uma criança, e não criança para uma família !.
Diga SIM, do fundo do seu coração.
Shirley Machado
Original disponível em: https://www.facebook.com/groups/diariodaadocao/permalink/1309036282490729/
Reproduzido por: Lucas H.
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