28/06/2017
Os três balões que carregam os nomes de Aurora, Bento e Valentina foram gravados na pele de Priscila Horvath para representar o amor que sobrevive na ausência.
Os três balões que carregam os nomes de Aurora, Bento e Valentina foram gravados na pele de Priscila Horvath para representar o amor que sobrevive na ausência.
A engenheira agrônoma tem 34 anos e mora em Mato Grosso do Sul. Ela deu à luz três filhos, mas teve que enterrá-los dias depois dos partos, em 2013, 2015 e 2016, respectivamente.
Os recém-nascidos morreram por motivos diferentes. Da primeira vez, uma forte infecção, na segunda, complicações da Lúpus associada à mesma infecção e, na terceira, paradas cardíacas ainda na sala de parto tiraram a vida do terceiro filho de Priscila.
"Senti a necessidade de fazer uma homenagem ou estampar no meu corpo e mostrar o amor que tenho dentro de mim por eles. A presença na ausência deles, porque eles são presença constante na minha vida, em tudo que eu faço. O que eu sou hoje, sou em função deles", ressaltou Priscila.
A primeira filha foi Valentina, que ficou um dia internada na UTI e morreu no dia seguinte. Bento, o segundo filho, também teve só um dia de vida. Aurora, fruto da terceira gestação, desta vez sem tratamento para engravidar e quando o casal já não esperava mais conseguir, morreu ainda na sala de parto, em setembro de 2016.
Aprendizado
Em tom de desabafo, Priscila contou ao G1 que o sofrimento em cada uma das perdas fez ela se sentir uma mãe especial, mesmo sem os filhos nos braços.
"Demorei muito tempo para entender que sou mãe. Me sentia uma árvore oca que não é capaz de dar fruto. Hoje, sinto que sou uma mãe especial, que fui capaz de gerar três filhos e sentir amor por eles cada dia mais, mesmo sem eles estarem na minha vida. É tanto amor que chega a doer no peito", contou.
A vontade de ser mãe surgiu logo depois de se casar, há seis anos. Ela e o marido sonhavam em ter três filhos e adotar o quarto. Durante as tentativas de engravidar, Priscila descobriu que precisava fazer tratamento médico e assim foi, nas duas primeiras gestações.
A terceira foi espontânea, quando o casal já não planejava mais ter filhos. "A gente tinha desistido, depois de perder a Valentina e o Bento, porque tem que saber o limite. Corri risco de morrer também. Foi quando veio a Aurora", contou.
Perder três filhos em quatro anos não acabou com o sonho do casal. Agora, eles pensam na adoção. "A gente pensa muito sério nisso, já era vontade nossa antes. A ideia era ter três filhos nossos e adotar o quarto. Nós já tivemos três e temos plano pra adotar o quarto agora", ressaltou.
A escolha dos balões azuis para desenhar na pele faz referência ao significado do bebê natimorto ou morto logo após o parto. "Quando a gente solta o balão azul, rosa ou branco significa libertação. É como se você permitisse que aquele ser, mesmo sendo seu, seja libertado de você", explicou.
O sofrimento de gerar, registrar e enterrar três filhos recém-nacidos tornou Priscila mais forte. Ela conta que passou a ver a vida com outros olhos e fez descobertas importantes.
"Descobri três coisas: a importância da família, da presença do companheiro e do entendimento das pessoas. As pessoas não entendem que a mãe que perde um filho recém-nascido é mãe também. Ela sofre, sai leite do peito, ela tem todas as fases da mãe que ganhou o bebê, mas está sem o bebê nos braços. Muita gente não tem delicadeza para tratar com essa situação e tudo isso me fez ver as coisas de uma forma diferente. Meus valores hoje são diferentes. Hoje percebo que tenho direito de escolher por que ou quem eu vou sofrer", finalizou.
Original disponível em: http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/mae-grava-na-pele-amor-pelos-tres-filhos-mortos-apos-partos-em-ms.ghtml
Reproduzido por: Lucas H.
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