quarta-feira, 8 de março de 2017

Após 40 anos, mãe e filha se reencontram (Reprodução)

07/03/17

O amor é um sentimento que pode ser demonstrado de maneiras bem distintas. Uma delas é estando presente na vida da pessoa amada, auxiliando e protegendo-a. Outra, mais incomum e até paradoxal, é justamente abrindo mão desse alguém, quando se acredita que é para o melhor. A assessora parlamentar Karina Drummond, de 41 anos, experimentou as duas. Criada por uma família adotiva que lhe deu saúde, educação e, acima de tudo, carinho, ela reencontrou, no último sábado, sua mãe biológica, que a entregou, ainda na maternidade, por não ter condições de dar-lhe uma vida digna.

Mesmo vivendo em uma sociedade preconceituosa, Karina nunca sentiu vergonha de ser adotada. “Desde muito pequena, eu achava o máximo. Eu dizia ‘mãe, eu estou viva porque você me adotou’. Eu tinha muito orgulho”, conta.

Ainda assim, seus pais preferiam manter essa informação em segredo. Uma tentativa de blindá-la do sofrimento. Só aos 22 anos ela se sentiu pronta para revelar a verdade sobre sua origem - e sentiu na pele essa discriminação, que resolveu combater.

“Porque eu não tinha uma cor diferente dos meus pais adotivos eu não poderia ser adotada? Um filho adotivo muitas vezes vive isso calado, não comenta com seus pais para não machucar. Eu resolvi trazer minha história a público para quebrar esse tipo de preconceito”, conta.

À medida que foi amadurecendo e convivendo melhor com sua condição, nasceu em Karina um desejo: conhecer sua mãe biológica. Algo que aumentou os receios de sua outra mãe. “Ela tinha muito medo desse reencontro. Ela sentia que eu tinha uma admiração pela forma como minha mãe biológica tinha me dado, por não ter condições e ter encontrado uma boa família”.

Quando perdeu a mãe adotiva, Karina deu início a uma busca que começou nas redes sociais e terminou no último sábado, quando ela conheceu dona Maria de Fátima e, enfim, ligou todos os pontos de sua história. “Foi como se eu tivesse tirado um peso das costas. A gente se abraçou e só fez chorar”, relembra.

No primeiro contato com a mãe biológica, tudo que Karina queria era demonstrar gratidão e retribuir o gesto de amor que lhe garantiu uma boa vida. “Ela teve o cuidado de me entregar a uma família que me criou com muito amor. Por três vezes, ela me pediu perdão. Na quarta vez, eu disse 'não me peça perdão mais. Eu não tenho que lhe perdoar, tenho que agradecer por estar viva. Todo aquele sentimento que eu tinha, tudo aquilo que eu imaginei, Deus me mostrou que eu não estava errada'. Agora, eu tenho a extensão de uma família que me acolheu de uma forma maravilhosa”, conclui.

Mãe foi abandonada por pais e maridoQuando deu à luz Karina, dona Maria de Fátima relutou em aceitar a ideia de simplesmente dar sua bebê a outra família. Tudo porque ela já tinha conhecimento de que provavelmente nunca mais a veria de novo. “Aí foi quando uma amiga minha disse que eu tinha que dar porque não tinha condições”, lembra. Filha de pais desconhecidos, ela foi entregue a um orfanato e, como era comum, foi adotada por uma família para ser empregada doméstica.

O temor que ela sentia na época era o de ter que morar na rua junto com sua recém-nascida. Ainda mais porque o pai se recusou a assumir a responsabilidade. “Ele alegou que não podia fazer nada porque tinha que estudar para passar em um concurso da Marinha. Ele passou e até hoje está lá. Eu tive que partir para outra”, recorda Maria de Fátima.

Por tudo isso, o reencontro com a filha foi uma emoção indescritível para ela. “Eu nunca senti uma coisa estranha como no sábado. Foi como se eu estivesse eletrificada, querendo falar sem conseguir. O coração ficou quietinho porque eu tomo remédio, mas ficou alegre demais“, relata. Sua impressão de Karina foi a melhor possível. “Achei uma pessoa bem cuidadosa, porque o amor dela com os pais dela não tem igual. Uma pessoa muito determinada do que quer”, avalia.

“A gente já sentiu que ela é minha filha, não tem nem como negar. Se ela quiser fazer o DNA, ela faça, mas vai perder o dinheiro, porque coração de mãe não se engana. Eu realmente dei porque não tinha condição nessa época”, se lamenta.


Reproduzido por: Lucas H.


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