quarta-feira, 29 de março de 2017

“Não o reconhecia como filho” (Reprodução)

27 mar 2017

Estava há 3 anos na fila da adoção. Não havia colocado nenhum critério, só queria que a criança tivesse  entre 1 a 12 meses. Até o segundo ano, ligava todos os dias, empolgada com a possibilidade de se tornar mãe. Depois, o tempo passou, firmou-se no trabalho, dava aulas em 4 faculdades, esqueceu de seu nome na lista de espera quando em uma quinta-feira veio a notícia, na sexta foi ao Juizado de Menores e no sábado o filho de 6 meses chegou à sua casa apenas com a roupa do corpo. Não tinha nada, berço, mamadeira…  e logo no feriado de 1º de maio, as lojas fechadas. Teve que ir a um hipermercado. “Fiquei tão desesperada que comprei tudo rosa para o menino.”

Eram as dúvidas de como lidar com o filho recém-chegado, as visitas que o viam como engraçadinho, a pressa para conseguir licença, conversar nas faculdades, passar as aulas para outros professores. Não tinha como largar tudo de uma hora para outra. Conciliou filho, emprego. Tinha que lidar com a possibilidade de doença do bebê. “O médico disse que ele estava com um problema, mas não sabia qual.” Aconselhou procurar um neurologista. Ficou desesperada. “Passava noites em claro e ia trabalhar. Cinco dias depois percebi que não tinha forças, estava triste.” Ficou de cama e o diagnóstico de depressão pós-adoção, muito mais comum do que se possa imaginar. Pesquisa feita nos Estados Unidos com 86 mulheres mostra que 1 em cada 4 apresenta os sintomas nos primeiros 3 meses.

É muita mudança, mas ainda com a nossa personagem, mantida em anonimato. “Não conseguia ir ao banheiro, ver a criança, não a reconhecia como filho.” A família ajudou: a mãe cuidava do bebê, o marido a amparava. Resolveu ir ao Juizado de Menores para devolvê-lo.  Era uma quinta-feira. Conversou com a psicóloga. “Falei que não queria, seria uma péssima mãe. Ela me pediu que esperasse o final de semana. Voltei para a casa aliviada.” Diz ter ficado mais leve, passou a olhar diferente para o filho. “Aí me apaixonei.”

Um mês de agonia que se foi e veio a certeza de que a criança já era o mais importante na sua vida. Foi às lojas, comprou roupas azuis, arrumou o quarto. Sentia-se mãe. “É muito prazeroso, não queria ter vivenciado a depressão, não gosto nem de pensar, mas fiquei mais forte.” Hoje, o filho está com 7 anos. “Temos uma ligação absurda. Ele é maravilhoso, muito levado, dócil. Sou mãe.”

Original disponível em: http://lucianaavelino.com.br/dia-a-dia/nao-o-reconhecia-como-filho/

Reproduzido por: Lucas H.


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