10/03/2017
Cerca de 13 anos antes do aumento súbito dos casos de microcefalia no Brasil, uma família do município de Ituberá, no baixo sul da Bahia, desafiou o preconceito e adotou um bebê que nasceu com a malformação. Hoje, Victória Cabral Monteiro tem 15 anos de idade e acompanha as notícias do problema de saúde que tem assustado grávidas de todo o país. “Toda a reportagem que sai na televisão fala sobre o assunto e trata como doença. Ela [Victória] fica triste e me pergunta: ‘Eu sou doente?’ Para mim, não. Ela pode ter algumas limitações, mas ela pode ser o quiser”, defende a mãe Fátima Cabral Moraes Monteiro, 56.
Diante da preocupação da filha, que com tristeza assiste pela TV a aflição de pais que têm crianças com microcefalia, a família da jovem Victória decidiu procurar o G1 para deixar uma mensagem de esperança.
"Ame muito. O amor transforma. O que transformou a vida da minha filha foi o amor. As outras coisas a gente vai aprendendo", fala sobre o sentimento que possibilitou superações que pareciam inimagináveis.
Victória Cabral nasceu no dia 2 de fevereiro de 2002. Ela foi abandonada em um hospital do município de Ituberá, em circunstâncias até hoje desconhecidas. À época, uma juíza considerou importante que nos primeiros momentos de vida ela tivesse um lar. Foi, então, que a dona de casa Fátima Cabral foi procurada.
“Ela estava com baixo peso. A juíza e um advogado, que são meus amigos, me pediram para ficar com ela até que ganhasse um pesinho. Fiquei com ela e a ideia inicial era de que quando tivesse bem encaminhadinha, com um bom estado de saúde, pudesse ser adotada”, conta.
Naquela época, Fátima Cabral ainda não tinha do hospital o diagnóstico de que o bebê tinha microcefalia. Entretanto, ciente de que o perímetro encefálico da menina era menor do que o das demais crianças, decidiu levá-la para a pediatra que cuidou dos seus outros dois filhos. “Perguntei à juíza se podia levar para a pediatra dos meus filhos. Levei de imediato e ela me contou que era microcefalia. Nunca tinha ouvido falar da doença. Fui para diversos médicos em Salvador e fui tomando conhecimento do que se tratava”, lembra.
O que era para ser uma relação rápida de carinho, até que o bebê estivesse pronto para a adoção, se estendeu rapidamente para um sentimento genuíno de maternidade. “Ela tinha uma firmeza no olhar que me dizia: ‘Vai dar tudo certo’. Tínhamos uma relação muito forte. Foi uma coisa que aconteceu nas nossas vidas. Sentamos os quatro [mãe, esposo e dois filhos] e decidimos juntos o que deveria ser feito. Resolvemos aceitar o chamado de Deus”, conta Fátima Cabral sobre a decisão de adoção.
Em casa, além da mãe, Victória foi recebida com carinho pelo pai e dois irmãos, que na época tinham 14 e 16 anos. “Ela desenvolveu uma relação imensa de amor com eles. Não existe diferença”, celebra a mãe. A criação ainda contou com a ajuda de uma babá, até os cinco anos de idade, e de uma secretária do lar que está com a família há 20 anos. “Sempre contei com a ajuda de profissionais, que também fizeram a diferença”, acrescenta.
Superações
A família se orgulha da força de vontade que tomou conta da pequena Victória Cabral Monteiro. Submetida a diversos estímulos motores e cognitivos, conquistou façanhas inesperadas. “Começou a andar no tempo certo, com um ano e três meses. Além disso, deixou a fralda com um ano e cinco meses”, conta orgulhosa a mãe.
Para além dos desafios físicos, Victória também teve que lidar com o preconceito e a ausência no município de unidades de ensino especializadas em lidar com alunos que demandam estruturas inclusivas. Acabou estudando em escolas privadas tradicionais e enfrentou algumas resistências. “Existe caso de preconceito na escola, de criança que não aceita nem passar a mão”, diz Fátima Cabral.
Um dos grandes desafios de Victória era a leitura e articulação da fala. Ao ver as colegas avançarem neste sentido, sentia-se triste. “Tive que mudar de escola, porque ela não aceitava mais”, explica a mãe. Com todas as dificuldades, a pequena conseguiu completar o quinto ano do ensino fundamental e hoje tem um processo educacional mais privativo, fora das salas de aula e com reforços direcionados.
Com a fala: Victória
Ao G1, Victória Cabral falou com orgulho da família. Sobre a mãe, que nestes 15 anos de vida esteve em casa como parceira, agradece a entrega. “Amo muito ela”, confessou. Sobre a microcefalia, revelou: “Para mim, não é doença”.
A afirmação tem a ver com a sua dinâmica diária, comum a todo o adolescente. Ela estuda inglês, é fã do cantor Luan Santana e adora dançar. Em 2016, chegou a subir no palco da cantora Tays Reis, da banda Vingadora. “Foi muito bom”. Victória ainda revela outro hobby: “Gosto de fotos”. No final do ano passado, chegou a posar para fotógrafos com roupas de uma loja do município, no lançamento de uma nova coleção.
Orgulhosa das conquistas da filha, Fátima Cabral lembra emocionada do dia em que revelou para ela o processo de adoção. “Ela tinha 10 anos quando contei que era a mãe de coração. Ela, então, me perguntou se eu a amava. Eu disse que sim. Eu, então, fiz a mesma pergunta e ela respondeu que sim. Depois disso, nunca mais se tocou no assunto. O amor importa mais do que qualquer outra coisa. O amor transforma”, atestou.
Cerca de 13 anos antes do aumento súbito dos casos de microcefalia no Brasil, uma família do município de Ituberá, no baixo sul da Bahia, desafiou o preconceito e adotou um bebê que nasceu com a malformação. Hoje, Victória Cabral Monteiro tem 15 anos de idade e acompanha as notícias do problema de saúde que tem assustado grávidas de todo o país. “Toda a reportagem que sai na televisão fala sobre o assunto e trata como doença. Ela [Victória] fica triste e me pergunta: ‘Eu sou doente?’ Para mim, não. Ela pode ter algumas limitações, mas ela pode ser o quiser”, defende a mãe Fátima Cabral Moraes Monteiro, 56.
Diante da preocupação da filha, que com tristeza assiste pela TV a aflição de pais que têm crianças com microcefalia, a família da jovem Victória decidiu procurar o G1 para deixar uma mensagem de esperança.
"Ame muito. O amor transforma. O que transformou a vida da minha filha foi o amor. As outras coisas a gente vai aprendendo", fala sobre o sentimento que possibilitou superações que pareciam inimagináveis.
Victória Cabral nasceu no dia 2 de fevereiro de 2002. Ela foi abandonada em um hospital do município de Ituberá, em circunstâncias até hoje desconhecidas. À época, uma juíza considerou importante que nos primeiros momentos de vida ela tivesse um lar. Foi, então, que a dona de casa Fátima Cabral foi procurada.
“Ela estava com baixo peso. A juíza e um advogado, que são meus amigos, me pediram para ficar com ela até que ganhasse um pesinho. Fiquei com ela e a ideia inicial era de que quando tivesse bem encaminhadinha, com um bom estado de saúde, pudesse ser adotada”, conta.
Naquela época, Fátima Cabral ainda não tinha do hospital o diagnóstico de que o bebê tinha microcefalia. Entretanto, ciente de que o perímetro encefálico da menina era menor do que o das demais crianças, decidiu levá-la para a pediatra que cuidou dos seus outros dois filhos. “Perguntei à juíza se podia levar para a pediatra dos meus filhos. Levei de imediato e ela me contou que era microcefalia. Nunca tinha ouvido falar da doença. Fui para diversos médicos em Salvador e fui tomando conhecimento do que se tratava”, lembra.
O que era para ser uma relação rápida de carinho, até que o bebê estivesse pronto para a adoção, se estendeu rapidamente para um sentimento genuíno de maternidade. “Ela tinha uma firmeza no olhar que me dizia: ‘Vai dar tudo certo’. Tínhamos uma relação muito forte. Foi uma coisa que aconteceu nas nossas vidas. Sentamos os quatro [mãe, esposo e dois filhos] e decidimos juntos o que deveria ser feito. Resolvemos aceitar o chamado de Deus”, conta Fátima Cabral sobre a decisão de adoção.
Em casa, além da mãe, Victória foi recebida com carinho pelo pai e dois irmãos, que na época tinham 14 e 16 anos. “Ela desenvolveu uma relação imensa de amor com eles. Não existe diferença”, celebra a mãe. A criação ainda contou com a ajuda de uma babá, até os cinco anos de idade, e de uma secretária do lar que está com a família há 20 anos. “Sempre contei com a ajuda de profissionais, que também fizeram a diferença”, acrescenta.
Superações
A família se orgulha da força de vontade que tomou conta da pequena Victória Cabral Monteiro. Submetida a diversos estímulos motores e cognitivos, conquistou façanhas inesperadas. “Começou a andar no tempo certo, com um ano e três meses. Além disso, deixou a fralda com um ano e cinco meses”, conta orgulhosa a mãe.
Para além dos desafios físicos, Victória também teve que lidar com o preconceito e a ausência no município de unidades de ensino especializadas em lidar com alunos que demandam estruturas inclusivas. Acabou estudando em escolas privadas tradicionais e enfrentou algumas resistências. “Existe caso de preconceito na escola, de criança que não aceita nem passar a mão”, diz Fátima Cabral.
Um dos grandes desafios de Victória era a leitura e articulação da fala. Ao ver as colegas avançarem neste sentido, sentia-se triste. “Tive que mudar de escola, porque ela não aceitava mais”, explica a mãe. Com todas as dificuldades, a pequena conseguiu completar o quinto ano do ensino fundamental e hoje tem um processo educacional mais privativo, fora das salas de aula e com reforços direcionados.
Com a fala: Victória
Ao G1, Victória Cabral falou com orgulho da família. Sobre a mãe, que nestes 15 anos de vida esteve em casa como parceira, agradece a entrega. “Amo muito ela”, confessou. Sobre a microcefalia, revelou: “Para mim, não é doença”.
A afirmação tem a ver com a sua dinâmica diária, comum a todo o adolescente. Ela estuda inglês, é fã do cantor Luan Santana e adora dançar. Em 2016, chegou a subir no palco da cantora Tays Reis, da banda Vingadora. “Foi muito bom”. Victória ainda revela outro hobby: “Gosto de fotos”. No final do ano passado, chegou a posar para fotógrafos com roupas de uma loja do município, no lançamento de uma nova coleção.
Orgulhosa das conquistas da filha, Fátima Cabral lembra emocionada do dia em que revelou para ela o processo de adoção. “Ela tinha 10 anos quando contei que era a mãe de coração. Ela, então, me perguntou se eu a amava. Eu disse que sim. Eu, então, fiz a mesma pergunta e ela respondeu que sim. Depois disso, nunca mais se tocou no assunto. O amor importa mais do que qualquer outra coisa. O amor transforma”, atestou.
Original disponível em: http://g1.globo.com/bahia/noticia/2017/03/com-amor-jovem-supera-desafios-da-microcefalia-pode-ser-o-que-quiser.html
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