09/03/2017
Jéssica Antunes
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
A casa é colorida. Bonecos de pano, livros e desenhos colados nas paredes estão espalhados por toda parte. As gargalhadas podem ser ouvidas de longe, assim como os passos, nem sempre silenciosos, dos trigêmeos que tornaram a vida de Silvana Kronemberger e Jeferson Seidler mais completa. Não era assim que planejavam – queriam um de cada vez -, mas foi exatamente o que os realizou como família, três anos após a habilitação para adotarem. As crianças, aos dois anos, tinham passado por tentativas de adoção e a suspeita de doença de um deles preocupava. “Eles fazem parte do que somos”, diz a mãe.
“Sempre tivemos vontade de ter de três a quatro filhos biológicos e não-biológicos. Estávamos na fila quando descobri que tinha endometriose e obstrução no uréter, o que comprometeu um rim.
Queríamos uma criança, sem preferência de sexo, até três anos”, lembra Silvana, 41 anos, pedagoga.
Ao longo do processo, o casal viu preconceitos sendo quebrados. “A essa altura sentíamos que seria difícil termos filhos biológicos e mudamos o perfil para dois irmãos de até três anos”, conta o servidor público Jeferson, 42. Na época, a fila já não era grande, mas não havia crianças dentro do que gostariam.
“Havia trigêmeos. Eram nossos filhos já nos esperando”, enaltece a mãe. As crianças chegaram a conviver com uma família por oito meses, mas foram devolvidas. Eram duas meninas e um menino, tido como “nervoso” e diagnosticado com epilepsia. A preocupação foi menor que o desejo de conhecê- los. A doença, porém, nunca se manifestou e jamais foi confirmada.
“A Vara da Infância tem um cuidado grande para entender se o casal de fato quer adotar. Dão um choque de realidade para ter certeza de que não será ruim para as crianças. As pessoas, às vezes, têm ideias fantasiosas em relação a filhos biológicos ou não. São crianças como quaisquer outras”, diz o pai.
‘Gravidez de uma semana’
“Era uma tensão como uma sala de parto de uma gravidez que durou uma semana. Ficamos em um corredor aguardando com o coração na boca. Tínhamos muito receio se daríamos conta. Foi lindo ver aqueles passinhos pequenos se aproximando”, recorda Jeferson.
Naquele dia, o menino Caio chorava, ardia em febre e pulou no colo de Silvana. Carla, por sua vez, mantinha expressão séria e engatinhou para longe no sofá de concreto. Camila abriu o sorriso para o casal. A essa altura, ainda havia dúvidas.
Na segunda de oito visitas, já eles tinham certeza de que formariam uma família. “As pessoas da casa de adoção estranharam que visitássemos em dois turnos, mas queríamos aproveitar o máximo de tempo e agilizar o processo”, conta a mãe. Teve até plantão na porta do juizado. “Não éramos adolescentes. Sabíamos o que queríamos. Falamos com a assistente social e com o juiz, que precisou ser convencido de que estávamos certos de nossa decisão”.
Nos encontros, não tinha troca de presente. “Achávamos que as crianças deveriam desejar nos ver e não pelo que poderíamos oferecer”, explica a mãe. No processo de adaptação e descoberta, os trigêmeos foram se abrindo. O menino “difícil” se mostrou esperto e carinhoso e, para a família, se realmente tivesse qualquer problema de saúde, estariam juntos pelo apoio e tratamento.
Em um dos últimos encontros, o desejo de morarem juntos foi revelado pelos pais, que mostraram fotos dos quartos, da casa, do bichinho de estimação e receberam a sensação de aceitação. No fim do dia, uma das crianças olhou para Jeferson e perguntou: “Papai?”.
Neste ano eles completam quatro anos juntos e a certidão que os torna pais e filhos aniversaria pela primeira vez. “A gente conta que eram três sementinhas que Deus fez, foram parar na barriga de uma outra mulher, ficaram na casa e depois os papais foram buscar. Perguntam: ‘Você quis trigêmeos? Planejou?’. Eu quero saber quem planeja engravidar naturalmente de trigêmeos”, recorda a mãe.
“Eles nos realizaram mais do que esperávamos. Superou muito nossa expectativa, principalmente na adaptação. Não quer dizer que acontecerá da mesma forma com todos. São crianças bem-humoradas, cantoras, dançarinas, gostam de brincar com a gente. Fomos abençoados”, resume o pai. O trio até chamou a reportagem para jogar bola.
Apesar do tempo gasto em todo o processo, a mulher incentiva a adoção legal, que garante a segurança. “O processo é esse. Pode até ser mais fluido, mas precisa cuidar para que os direitos sejam garantidos”, opina.
Original disponível em: http://www.jornaldebrasilia.com.br/cidades/casal-muda-perfil-escolhido-pela-maioria-adota-trigemeos-e-contentamento-supera-expectativas/
Reproduzido por: Lucas H.
Jéssica Antunes
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
A casa é colorida. Bonecos de pano, livros e desenhos colados nas paredes estão espalhados por toda parte. As gargalhadas podem ser ouvidas de longe, assim como os passos, nem sempre silenciosos, dos trigêmeos que tornaram a vida de Silvana Kronemberger e Jeferson Seidler mais completa. Não era assim que planejavam – queriam um de cada vez -, mas foi exatamente o que os realizou como família, três anos após a habilitação para adotarem. As crianças, aos dois anos, tinham passado por tentativas de adoção e a suspeita de doença de um deles preocupava. “Eles fazem parte do que somos”, diz a mãe.
“Sempre tivemos vontade de ter de três a quatro filhos biológicos e não-biológicos. Estávamos na fila quando descobri que tinha endometriose e obstrução no uréter, o que comprometeu um rim.
Queríamos uma criança, sem preferência de sexo, até três anos”, lembra Silvana, 41 anos, pedagoga.
Ao longo do processo, o casal viu preconceitos sendo quebrados. “A essa altura sentíamos que seria difícil termos filhos biológicos e mudamos o perfil para dois irmãos de até três anos”, conta o servidor público Jeferson, 42. Na época, a fila já não era grande, mas não havia crianças dentro do que gostariam.
“Havia trigêmeos. Eram nossos filhos já nos esperando”, enaltece a mãe. As crianças chegaram a conviver com uma família por oito meses, mas foram devolvidas. Eram duas meninas e um menino, tido como “nervoso” e diagnosticado com epilepsia. A preocupação foi menor que o desejo de conhecê- los. A doença, porém, nunca se manifestou e jamais foi confirmada.
“A Vara da Infância tem um cuidado grande para entender se o casal de fato quer adotar. Dão um choque de realidade para ter certeza de que não será ruim para as crianças. As pessoas, às vezes, têm ideias fantasiosas em relação a filhos biológicos ou não. São crianças como quaisquer outras”, diz o pai.
‘Gravidez de uma semana’
“Era uma tensão como uma sala de parto de uma gravidez que durou uma semana. Ficamos em um corredor aguardando com o coração na boca. Tínhamos muito receio se daríamos conta. Foi lindo ver aqueles passinhos pequenos se aproximando”, recorda Jeferson.
Naquele dia, o menino Caio chorava, ardia em febre e pulou no colo de Silvana. Carla, por sua vez, mantinha expressão séria e engatinhou para longe no sofá de concreto. Camila abriu o sorriso para o casal. A essa altura, ainda havia dúvidas.
Na segunda de oito visitas, já eles tinham certeza de que formariam uma família. “As pessoas da casa de adoção estranharam que visitássemos em dois turnos, mas queríamos aproveitar o máximo de tempo e agilizar o processo”, conta a mãe. Teve até plantão na porta do juizado. “Não éramos adolescentes. Sabíamos o que queríamos. Falamos com a assistente social e com o juiz, que precisou ser convencido de que estávamos certos de nossa decisão”.
Nos encontros, não tinha troca de presente. “Achávamos que as crianças deveriam desejar nos ver e não pelo que poderíamos oferecer”, explica a mãe. No processo de adaptação e descoberta, os trigêmeos foram se abrindo. O menino “difícil” se mostrou esperto e carinhoso e, para a família, se realmente tivesse qualquer problema de saúde, estariam juntos pelo apoio e tratamento.
Em um dos últimos encontros, o desejo de morarem juntos foi revelado pelos pais, que mostraram fotos dos quartos, da casa, do bichinho de estimação e receberam a sensação de aceitação. No fim do dia, uma das crianças olhou para Jeferson e perguntou: “Papai?”.
Neste ano eles completam quatro anos juntos e a certidão que os torna pais e filhos aniversaria pela primeira vez. “A gente conta que eram três sementinhas que Deus fez, foram parar na barriga de uma outra mulher, ficaram na casa e depois os papais foram buscar. Perguntam: ‘Você quis trigêmeos? Planejou?’. Eu quero saber quem planeja engravidar naturalmente de trigêmeos”, recorda a mãe.
“Eles nos realizaram mais do que esperávamos. Superou muito nossa expectativa, principalmente na adaptação. Não quer dizer que acontecerá da mesma forma com todos. São crianças bem-humoradas, cantoras, dançarinas, gostam de brincar com a gente. Fomos abençoados”, resume o pai. O trio até chamou a reportagem para jogar bola.
Apesar do tempo gasto em todo o processo, a mulher incentiva a adoção legal, que garante a segurança. “O processo é esse. Pode até ser mais fluido, mas precisa cuidar para que os direitos sejam garantidos”, opina.
Original disponível em: http://www.jornaldebrasilia.com.br/cidades/casal-muda-perfil-escolhido-pela-maioria-adota-trigemeos-e-contentamento-supera-expectativas/
Reproduzido por: Lucas H.
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