08/03/2017
Jéssica Antunes
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
Era dezembro de 2000. Nazarena Monteiro de Castro teve um sonho: um bebê repousava em seu colo e a sensação persistiu quando acordada. Chegou a sentir saudade da criança por algum tempo. Naquele mesmo mês e ano nascia José Lucas, que seria seu filho quase seis anos mais tarde. Ele também pressentia. “Eu sabia que tinha uma mãe me procurando porque pedi a Deus. Só não sei porque você demorou tanto”, o menino disparou, ainda pequeno, dentro do carro. A história de amor se deu em uma adoção tardia, fora do esperado inicialmente pela mãe, que garante: “Sempre foi meu”.
Casos de adoção de crianças mais velhas são raros, mas não impossíveis. O principal receio das famílias é o molde da personalidade, que, segundo o psicanalista Sigmund Freud, é formada até os cinco anos, mesma faixa etária colocada como limite pela Nazarena. “Eu achava que ser mãe era ser mãe. Não importava o sexo, a cor, mas achava difícil educar alguém com personalidade formada”, afirma. Foram dois anos de processo até o garoto ser oficialmente seu filho.
Processo
Nazarena habilitou-se para adoção duas vezes. Primeiro, em 2001, com o ex-esposo, com quem casou-se após decidir que queria um filho biológico, que nunca veio. O casamento não deu certo e, em 2003, entrou com um novo processo, agora solteira. José Lucas não foi o primeiro que viu. Era um menino que tinha um irmão. “Não tinha coragem de separá-los e não daria conta dos dois, mas creio que Deus prepara as coisas”, lembra.
“Quando me apresentaram, José Lucas tinha uma cara de bravo, de marrento. Virou de costas e se encostou em mim, como quem diz ‘eu quero que me acolha, mas não significa que serei fácil ou gostarei de você’ e eu achei um barato esse temperamento maduro e decidido”, conta a mãe, servidora pública de 50 anos. A adoção foi criticada. “Muita gente dizia que eu era doida, que eu não conseguiria educar, que ele cresceria revoltado. Ouvi de tudo”, recorda.
O temperamento forte que chamou a atenção de Nazarena quando conheceu José Lucas também deu trabalho durante a adaptação. “Filho nenhum vem com manual, a gente aprende com a vida. A primeira coisa que aprendi foi abrir mão das coisas porque se tinha um objeto que eu gostava, quando ficava bravo ele jogava no chão”, conta a mãe.
“Não nasceu de mim, mas para mim”
Nazarena não tinha expectativa de encontrar uma criança muito “grata” por ser adotada, como ouviu pais dizerem na fila de adoção: “Esperava uma criança, que é criança em qualquer lugar. Posso dizer que a adaptação foi tranquila. Havia momentos tensos, mas outros em que eu ria bastante”.
José Lucas conta que não entendia a história de ser adotado e, por isso, ficava bravo. Brigava na escola, fez terapia. Hoje, diz estar resolvido em relação a isso.
“Ele sempre foi meu. Não nasceu de mim, mas nasceu para mim. Teve época que tive até medo de engravidar e não gostar do outro filho como gostava dele”, revela a mãe. O filho responde com reciprocidade: “Minha vida começou com quase seis anos”.
Hoje aos 16 anos, José Lucas não se lembra de quando chegou à casa de acolhimento. Mas as imagens do local estão nítidas na mente. “Eu não sabia o que era e o que estava acontecendo. Nem sempre foi muito legal. Às vezes eu até apanhava. Não entendia a minha história e, para mim, eu tinha sido abandonado”, conta o garoto.
Mesmo assim, diz que soube, desde o princípio, que sairia dali. “Eu sabia que viria uma pessoa que me levaria e que seria maravilhoso”, diz, sem conseguir segurar o choro. José Lucas recorda com detalhes do dia que foi para casa, com quase seis anos. “A partir daquele dia eu sabia que seria diferente”.
Adoção tardia
“Uma pessoa que diga que a adoção tardia é fácil, mente. Não é impossível, mas precisa de cuidados, de maturidade familiar. É difícil e trabalhoso”, afirma Soraya Pereira, psicóloga e presidente da ONG Aconchego, Grupo de Apoio à Convivência Familiar e Comunitária.
Walter Gomes, supervisor da área de adoção da Vara da Infância e da Juventude, confirma que o desejo de acompanhar todo o desenvolvimento de um bebê ainda é alimentado e com difícil negociação. A alternativa é sensibilizar para tentar mudar o perfil desejado.
Original disponível em: http://www.jornaldebrasilia.com.br/cidades/casos-de-adocao-de-criancas-mais-velhas-sao-raros-mas-possiveis/
Reproduzido por: Lucas H.
Jéssica Antunes
jessica.antunes@jornaldebrasilia.com.br
Era dezembro de 2000. Nazarena Monteiro de Castro teve um sonho: um bebê repousava em seu colo e a sensação persistiu quando acordada. Chegou a sentir saudade da criança por algum tempo. Naquele mesmo mês e ano nascia José Lucas, que seria seu filho quase seis anos mais tarde. Ele também pressentia. “Eu sabia que tinha uma mãe me procurando porque pedi a Deus. Só não sei porque você demorou tanto”, o menino disparou, ainda pequeno, dentro do carro. A história de amor se deu em uma adoção tardia, fora do esperado inicialmente pela mãe, que garante: “Sempre foi meu”.
Casos de adoção de crianças mais velhas são raros, mas não impossíveis. O principal receio das famílias é o molde da personalidade, que, segundo o psicanalista Sigmund Freud, é formada até os cinco anos, mesma faixa etária colocada como limite pela Nazarena. “Eu achava que ser mãe era ser mãe. Não importava o sexo, a cor, mas achava difícil educar alguém com personalidade formada”, afirma. Foram dois anos de processo até o garoto ser oficialmente seu filho.
Processo
Nazarena habilitou-se para adoção duas vezes. Primeiro, em 2001, com o ex-esposo, com quem casou-se após decidir que queria um filho biológico, que nunca veio. O casamento não deu certo e, em 2003, entrou com um novo processo, agora solteira. José Lucas não foi o primeiro que viu. Era um menino que tinha um irmão. “Não tinha coragem de separá-los e não daria conta dos dois, mas creio que Deus prepara as coisas”, lembra.
“Quando me apresentaram, José Lucas tinha uma cara de bravo, de marrento. Virou de costas e se encostou em mim, como quem diz ‘eu quero que me acolha, mas não significa que serei fácil ou gostarei de você’ e eu achei um barato esse temperamento maduro e decidido”, conta a mãe, servidora pública de 50 anos. A adoção foi criticada. “Muita gente dizia que eu era doida, que eu não conseguiria educar, que ele cresceria revoltado. Ouvi de tudo”, recorda.
O temperamento forte que chamou a atenção de Nazarena quando conheceu José Lucas também deu trabalho durante a adaptação. “Filho nenhum vem com manual, a gente aprende com a vida. A primeira coisa que aprendi foi abrir mão das coisas porque se tinha um objeto que eu gostava, quando ficava bravo ele jogava no chão”, conta a mãe.
“Não nasceu de mim, mas para mim”
Nazarena não tinha expectativa de encontrar uma criança muito “grata” por ser adotada, como ouviu pais dizerem na fila de adoção: “Esperava uma criança, que é criança em qualquer lugar. Posso dizer que a adaptação foi tranquila. Havia momentos tensos, mas outros em que eu ria bastante”.
José Lucas conta que não entendia a história de ser adotado e, por isso, ficava bravo. Brigava na escola, fez terapia. Hoje, diz estar resolvido em relação a isso.
“Ele sempre foi meu. Não nasceu de mim, mas nasceu para mim. Teve época que tive até medo de engravidar e não gostar do outro filho como gostava dele”, revela a mãe. O filho responde com reciprocidade: “Minha vida começou com quase seis anos”.
Hoje aos 16 anos, José Lucas não se lembra de quando chegou à casa de acolhimento. Mas as imagens do local estão nítidas na mente. “Eu não sabia o que era e o que estava acontecendo. Nem sempre foi muito legal. Às vezes eu até apanhava. Não entendia a minha história e, para mim, eu tinha sido abandonado”, conta o garoto.
Mesmo assim, diz que soube, desde o princípio, que sairia dali. “Eu sabia que viria uma pessoa que me levaria e que seria maravilhoso”, diz, sem conseguir segurar o choro. José Lucas recorda com detalhes do dia que foi para casa, com quase seis anos. “A partir daquele dia eu sabia que seria diferente”.
Adoção tardia
“Uma pessoa que diga que a adoção tardia é fácil, mente. Não é impossível, mas precisa de cuidados, de maturidade familiar. É difícil e trabalhoso”, afirma Soraya Pereira, psicóloga e presidente da ONG Aconchego, Grupo de Apoio à Convivência Familiar e Comunitária.
Walter Gomes, supervisor da área de adoção da Vara da Infância e da Juventude, confirma que o desejo de acompanhar todo o desenvolvimento de um bebê ainda é alimentado e com difícil negociação. A alternativa é sensibilizar para tentar mudar o perfil desejado.
Original disponível em: http://www.jornaldebrasilia.com.br/cidades/casos-de-adocao-de-criancas-mais-velhas-sao-raros-mas-possiveis/
Reproduzido por: Lucas H.
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