É muito prazeroso perceber, na medida em que nos debruçamos em um objeto de estudo como a adoção, o acontecimento de um desejo tão esperado: a notável perspectiva de mudança atitudinal da sociedade em relação a ela.
Esta mudança tem acontecido, principalmente, devido à simplificação dos processos legais (visando defender o direito da criança acima de todos os envolvidos) e à nova cultura da adoção implementada na sociedade (que já existe em países desenvolvidos por causa da importância de se ter uma família, tanto para as crianças como para os adultos).
As possibilidades da adoção hoje refletem as ações de inúmeros sujeitos envolvidos, que se dedicam para que seja uma situação comum na nossa sociedade. Para isso, podemos contar também com a ajuda de várias Associações de Apoio à Adoção, que divulgam essa prática e sua importância, participando de programas e atividades por quase todo o país.
Os programas e as políticas públicas referentes às adoções são desenvolvidos, muitas vezes, com a ajuda de parcerias voluntárias, doações e apoio, que auxiliam na organização de eventos, tais como: seminários, palestras, reuniões administrativas e públicas, e, mais próximo ao atendimento às famílias adotivas e às crianças e adolescentes, podemos destacar as visitas feitas a instituições, orientações aos pais, oficinas de arte (incluindo jogos dramáticos) apoiando a terapia infantil, venda de livros e outros.
Como produto dessas ações podemos citar, como exemplo, o crescimento do número de adoções de crianças na cidade do Rio de Janeiro, segundo os dados da primeira Vara da Infância e da Juventude, o aumento girou em torno de 50% no ano de 2001. Vale salientar que este é apenas um exemplo entre tantos.
Mas, dentro dessa notável perspectiva de mudança atitudinal da sociedade (como já disse no início), ainda nos deparamos com uma lamentável realidade: o Brasil é um país onde 64% das crianças adotadas são brancas, 30% são mestiças e apenas 5% negras!
A falta de conscientização sobre a adoção inter-racial contribui para essa realidade, isso acontece porque a grande maioria dos adotantes (em geral brancos) ainda mantém o grande desejo da paternidade. Imbuídos desse sentimento, escolhem filhos com características próximas as suas, por isso é construtivo, necessário e honroso unirmos forças em prol do equilíbrio estatístico referente à “cor da adoção”.
A ação de entidades negras brasileiras pode vir a contribuir bastante, mas, é preciso que as mesmas, o mais rápido possível consolidem um programa que oriente e fundamente as ações a serem tomadas, baseado numa reflexão crítica e muito profunda no sentido de validar essa articulação, estabelecendo tarefas dentro de um campo concreto de atuação e desenvolvendo uma militância ativa.
É importante que o poder público perceba a tarefa da exigência ética que eles têm em relação a esse desequilíbrio opressor.
Torna-se edificante mostrar aos pretendentes que a cultura da adoção visa encontrar uma família substituta para a criança abandonada, e encontrar essa família independe da etnia, do grau de especialidade (quando se tratar de uma criança portadora de necessidades especiais), do fato de ser soro-positivo, do sexo e, até mesmo da idade (adoção tardia, por que não?).
Enquanto isso, contamos apenas com ações isoladas de algumas organizações que estão envolvidas com os caminhos que levam à conscientização.
A ONG suíça Terra dos Homens, desde l992, desenvolve um trabalho de colocação inter-racial e tardia (no caso, crianças acima de dois anos) de crianças em lares brasileiros. Apresenta resultados satisfatórios diante dessa ação e a contribuição para a mudança do pensamento padrão, de que esse tipo de adoção só e feito por estrangeiros, de uma forma ou de outra já está acontecendo.
No período em que estamos próximos da data onde lembramos do processo hipócrita que foi a “abolição” e, por outro lado, tendo conhecimento de algumas ações isoladas em prol das relações inter-raciais, podemos comemorar sim, a importância da luta pela conscientização, sendo uma grande bandeira que deve agregar negros e brancos e a certeza de que “não dá mais para ficar escamoteando a questão das relações raciais no Brasil, pois nós estamos aí, de uma forma ou de outra”, como citou a pesquisadora Lílian Gonzáles.
Se pensarmos, por alguns instantes, de forma poética e fizermos um paralelo entre a profissão de ator e o nosso papel enquanto possíveis adotantes, podemos verificar que, ao desempenharmos na sociedade o papel de intérpretes com a mesma propriedade que os atores e atrizes, ficaremos mais próximos dos sentimentos e dos desejos dessas crianças em ter uma família, pois os atores, na construção de seus personagens, apropriam-se do universo do outro, o objetivo é o de se colocar em seu lugar. Dessa forma, vivenciando-o da melhor maneira possível, dando-lhe vida, ultrapassando seus próprios limites e entendendo realmente as suas ânsias, independente de etnia, idade, sexo, necessidades especiais, ou seja, reforçando a adoção como doação!
Nazaré Sodré – atriz e arte-educadora (nanasodre@hotmail.com)
Original disponível em: https://www.construirnoticias.com.br/qual-a-cor-da-adocao/
Reproduzido por: Lucas H.
Esta mudança tem acontecido, principalmente, devido à simplificação dos processos legais (visando defender o direito da criança acima de todos os envolvidos) e à nova cultura da adoção implementada na sociedade (que já existe em países desenvolvidos por causa da importância de se ter uma família, tanto para as crianças como para os adultos).
As possibilidades da adoção hoje refletem as ações de inúmeros sujeitos envolvidos, que se dedicam para que seja uma situação comum na nossa sociedade. Para isso, podemos contar também com a ajuda de várias Associações de Apoio à Adoção, que divulgam essa prática e sua importância, participando de programas e atividades por quase todo o país.
Os programas e as políticas públicas referentes às adoções são desenvolvidos, muitas vezes, com a ajuda de parcerias voluntárias, doações e apoio, que auxiliam na organização de eventos, tais como: seminários, palestras, reuniões administrativas e públicas, e, mais próximo ao atendimento às famílias adotivas e às crianças e adolescentes, podemos destacar as visitas feitas a instituições, orientações aos pais, oficinas de arte (incluindo jogos dramáticos) apoiando a terapia infantil, venda de livros e outros.
Como produto dessas ações podemos citar, como exemplo, o crescimento do número de adoções de crianças na cidade do Rio de Janeiro, segundo os dados da primeira Vara da Infância e da Juventude, o aumento girou em torno de 50% no ano de 2001. Vale salientar que este é apenas um exemplo entre tantos.
Mas, dentro dessa notável perspectiva de mudança atitudinal da sociedade (como já disse no início), ainda nos deparamos com uma lamentável realidade: o Brasil é um país onde 64% das crianças adotadas são brancas, 30% são mestiças e apenas 5% negras!
A falta de conscientização sobre a adoção inter-racial contribui para essa realidade, isso acontece porque a grande maioria dos adotantes (em geral brancos) ainda mantém o grande desejo da paternidade. Imbuídos desse sentimento, escolhem filhos com características próximas as suas, por isso é construtivo, necessário e honroso unirmos forças em prol do equilíbrio estatístico referente à “cor da adoção”.
A ação de entidades negras brasileiras pode vir a contribuir bastante, mas, é preciso que as mesmas, o mais rápido possível consolidem um programa que oriente e fundamente as ações a serem tomadas, baseado numa reflexão crítica e muito profunda no sentido de validar essa articulação, estabelecendo tarefas dentro de um campo concreto de atuação e desenvolvendo uma militância ativa.
É importante que o poder público perceba a tarefa da exigência ética que eles têm em relação a esse desequilíbrio opressor.
Torna-se edificante mostrar aos pretendentes que a cultura da adoção visa encontrar uma família substituta para a criança abandonada, e encontrar essa família independe da etnia, do grau de especialidade (quando se tratar de uma criança portadora de necessidades especiais), do fato de ser soro-positivo, do sexo e, até mesmo da idade (adoção tardia, por que não?).
Enquanto isso, contamos apenas com ações isoladas de algumas organizações que estão envolvidas com os caminhos que levam à conscientização.
A ONG suíça Terra dos Homens, desde l992, desenvolve um trabalho de colocação inter-racial e tardia (no caso, crianças acima de dois anos) de crianças em lares brasileiros. Apresenta resultados satisfatórios diante dessa ação e a contribuição para a mudança do pensamento padrão, de que esse tipo de adoção só e feito por estrangeiros, de uma forma ou de outra já está acontecendo.
No período em que estamos próximos da data onde lembramos do processo hipócrita que foi a “abolição” e, por outro lado, tendo conhecimento de algumas ações isoladas em prol das relações inter-raciais, podemos comemorar sim, a importância da luta pela conscientização, sendo uma grande bandeira que deve agregar negros e brancos e a certeza de que “não dá mais para ficar escamoteando a questão das relações raciais no Brasil, pois nós estamos aí, de uma forma ou de outra”, como citou a pesquisadora Lílian Gonzáles.
Se pensarmos, por alguns instantes, de forma poética e fizermos um paralelo entre a profissão de ator e o nosso papel enquanto possíveis adotantes, podemos verificar que, ao desempenharmos na sociedade o papel de intérpretes com a mesma propriedade que os atores e atrizes, ficaremos mais próximos dos sentimentos e dos desejos dessas crianças em ter uma família, pois os atores, na construção de seus personagens, apropriam-se do universo do outro, o objetivo é o de se colocar em seu lugar. Dessa forma, vivenciando-o da melhor maneira possível, dando-lhe vida, ultrapassando seus próprios limites e entendendo realmente as suas ânsias, independente de etnia, idade, sexo, necessidades especiais, ou seja, reforçando a adoção como doação!
Nazaré Sodré – atriz e arte-educadora (nanasodre@hotmail.com)
Original disponível em: https://www.construirnoticias.com.br/qual-a-cor-da-adocao/
Reproduzido por: Lucas H.
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