CASO MONTE SANTO
Silvania diz à reportagem ser favorável a acordo com pais adotivos da região e teme agressão de ex-companheiro
28/05/2015 - 22h40
- Atualizado em 29/05/2015 - 09h49
| Cecília Polycarpo
cecília.cebalho@rac.com.br
cecília.cebalho@rac.com.br
Foto: Agência Brasil
Mulher está com uma das crianças "devolvidas" na Bahia e o pai, com quatro
A mãe biológica das cinco crianças de Monte Santo (BA)
adotadas por famílias de Indaiatuba e Campinas, Silvania Maria Mota
Silva, afirmou ao Correio que foi ameaçada de morte por
seu ex-companheiro, Gerôncio de Brito Souza, esta semana. Souza mora
com quatro dos cinco menores que viviam no Estado de São Paulo até
dezembro de 2012. Silvania disse que está impedida pelo homem de ver os
filhos e que é agredida frequentemente pelo ex-companheiro. Souza
registrou cinco filhos com a dona de casa, mas é pai biológico de dois.
Silvania voltou a afirmar ontem que tem o desejo de que as crianças
voltem a viver com as quatro mães afetivas. Um investigador da
delegacia de Monte Santo confirmou que recebeu as denúncias da mulher, e
disse que boletins de ocorrência contra Souza são feitos pelo menos uma
vez por mês. O policial classificou ainda o comportamento do homem como
“agressivo”.
As quatro famílias envolvidas no processo de adoção das cinco
crianças de Monte Santo deram entrevista coletiva nesta quarta-feira
(27) em Indaiatuba e informaram que pedirão prioridade na fila de adoção
para recuperar a guarda dos menores. O caso teve uma reviravolta na
última terça-feira, após o Tribunal de Justiça da Bahia anular por
unanimidade a decisão do juiz Luis Roberto Cappio Pereira, da comarca de
Monte Santo, que determinou que os meninos retornassem à mãe biológica
na Bahia, em novembro de 2012.
Em entrevista, Silvania disse que Souza ameaçou matá-la com uma “facada” ontem. “Ele fez isso por causa da matéria do SBT. É o que ele sempre faz. Ele vivia me batendo, me dando murro no meio da rua.” Na reportagem veiculada no Jornal do SBT na última segunda (25), a mulher se diz arrependida de ter pedido as guardas de volta.
Silvania contou ter procurado a delegacia de Monte Santo após a
ameaça, mas não teria conseguido fazer o boletim de ocorrência. “O
delegado não estava.” Outra agressão teria ocorrido há uma semana,
quando Silvania voltava da feira com os dois filhos mais novos. “Ele me
xingou e jogou meu celular no chão. A tela quebrou. Procurei ajuda da
delegacia. Mas eles não fazem nada. Estou sozinha.”
A dona de casa contou passar por sérias dificuldades financeiras e
não poder pagar aluguel. Hoje, ela mora com parentes e os dois filhos
mais novos, um menino de 3 anos e outra menina de 4. A garota foi uma
das crianças levada de Campinas, depois de ter morado dois anos com a
médica Letícia Cristina Fernandes Silva. Silvania disse temer que “o
pior” ocorra com seus filhos em Monte Santo.
“Eles não têm futuro aqui. A minha vontade é de mandar para Campinas. Eu converso com as mães (adotivas). Elas são mães deles como eu. São filhos meus e delas. Eu trouxe as crianças e agora quero devolver. Vou fazer o possível. Não vou me perdoar se algo de ruim acontecer com eles”, disse. Silvania comentou ainda que sua entrevista para o SBT repercutiu na cidade. Ela afirmou se sentir julgada pelos moradores. “Eles acham que as crianças devem ficar aqui. Não entendem.”
“Eles não têm futuro aqui. A minha vontade é de mandar para Campinas. Eu converso com as mães (adotivas). Elas são mães deles como eu. São filhos meus e delas. Eu trouxe as crianças e agora quero devolver. Vou fazer o possível. Não vou me perdoar se algo de ruim acontecer com eles”, disse. Silvania comentou ainda que sua entrevista para o SBT repercutiu na cidade. Ela afirmou se sentir julgada pelos moradores. “Eles acham que as crianças devem ficar aqui. Não entendem.”
As famílias afetivas iniciaram, em setembro do ano passado, contato
telefônico com Silvania. A informação foi divulgada anteontem, em
coletiva de impressa na Câmara de Indaiatuba. Por telefone, as mães
afetivas falaram com as crianças, que lembraram da rotina em São Paulo e
teriam dito que querem voltar.
A reportagem entrou em contanto com a delegacia de Monte Santo, mas
o delegado responsável não estava no local. No entanto, o investigador
Edson Brito dos Santos confirmou que Silvania vai frequentemente à
unidade fazer boletins de ocorrência contra o ex-companheiro. “São
várias ocorrências de agressão”, contou. Santos confirmou que o homem
tem passagens na polícia por furto, ameaças, porte ilegal de armas e
estupro.
Conselho defende permanência
O coordenador executivo do Centro de Defesa da Criança e do
Adolescente Yves de Roussan (Cedeca/Bahia), Waldemar Oliveira, afirmou
que, segundo informações que chegam ao órgão, Gerôncio Souza cuida bem
dos filhos, desde que assumiu a responsabilidade financeira pelas
crianças. “Ele agiu de forma correta. Não temos informações de ameaças.
Essa é toda a informação que tenho”, falou.
Oliveira disse que, para a entidade, as crianças devem permanecer
em Monte Santo, mas que a decisão será tomada em conjunto com o Conselho
Estadual da Criança e do Adolescente, Fórum de Defesa da Criança e do
Adolescente e a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado da
Bahia. “Não vamos impor a nossa vontade. Quem tem que se posicionar na
verdade é o juiz ou juíza do caso.” Para Oliveira, o processo de adoção
das crianças foi ilegal porque pulou etapas. Ela falou ainda que os
advogados do Cedeca estão disponíveis para auxiliar juridicamente
Silvania, mas que a mulher não teria mais procurado a entidade.
Já para a advogada de três das quatro mães afetivas, Lenora Thais
Steffen Todt Panzetti, Silvania está em uma situação de risco. “O
próprio Gerôncio disse que a vida da mulher está por um fio. Que dará
cabo dela. As autoridades precisam urgentemente fazer alguma coisa.”