segunda-feira, 31 de julho de 2017

Dando e recebendo amor através da adoção tardia (Reprodução)

27/07/2017

Ivoti – “Vem para casa que tenho uma novidade pra ti”, foi o que escutou o policial militar Alisson Aiala Trindade Alves, 39, ao atender a ligação da esposa Jeanne Paola Jardim Alves, 34. Juntos há 18 anos, o casal entrou com processo de adoção em março de 2016, em busca de crianças com idade entre quatro e 12 anos. “Em novembro do ano passado, nos convidaram para uma reunião a respeito da campanha da adoção tardia, no outro dia, alteramos o perfil para crianças com idade mais avançada, e quatro meses depois, o Fórum de Santa Maria entrou em contato querendo saber se tínhamos interesse em conhecer os irmãos Lucas, de 12 anos, e Mateus, de 10”.

Os irmãos estavam num abrigo com mais de 40 crianças, há quase dois anos. O primeiro encontro entre o casal e eles, foi um pouco tímido, mas após passarem a semana de adaptação em Ivoti, não voltaram mais a Santa Maria. “Todo mundo nos perguntava, por que vocês não vão num abrigo? Mas pra mim, ir num abrigo é como se fosse escolher um produto e eu não queria escolher, queria deixar nas mãos de Deus”, conta Jeanne.

Decisão

Ela diz que, desde o início do relacionamento do casal, a decisão de adotar uma criança mais velha sempre existiu. “Não queríamos bebê. Tenho problema, mas posso engravidar se fizer tratamento, mas nunca quis passar por essa pressão. Quando tomamos a decisão, pesquisamos bastante sobre o tema. Além disso, todos nós temos acompanhamento psicológico. Até porque, é uma mudança muito grande”, comenta Jeanne.

Emocionada, Jeanne fala da importância das pessoas entenderem que adoção tardia não é caridade. “Essas crianças não precisam de caridade, mas sim, de pais e mães, que estejam dispostos a abraçá-los. As pessoas ficam te julgando, mas se eu soubesse que ia ser tão fácil, já tinha feito antes”.

O casal conta que, daqui a alguns anos, gostaria de fazer uma nova adoção. “Até queríamos adotar outras crianças, mas se for acontecer, vai ser daqui quatro ou cinco anos”, diz.

Aiala acredita que o motivo para tantas crianças mais velhas estarem num abrigo seja o preconceito. “A maioria das crianças que estão no abrigo é da idade dos nossos filhos e são as que ninguém quer, porque existe um certo preconceito. As crianças que estão para ser adotadas, não precisam de caridade, precisam de amor, e isso é o que estamos dando para eles”, finaliza o policial.

Mobilização com pretendentes da região

Em novembro do ano passado, 50 casais pretendentes cadastrados da Comarca de Ivoti, Presidente Lucena e Lindolfo Collor participaram de uma reunião para conhecer a Campanha Estadual de Adoção, cujo tema era “Deixe o Amor te Surpreender”. O objetivo da reunião foi atualizar o cadastro dos pretendentes e incentivar a adoção tardia, já que a maioria das crianças abrigadas tem idade mais avançada, de sete a 13 anos. “A conversa foi muito proveitosa, pois alertamos a respeito da realidade da Comarca. A adoção de crianças menores de três anos de idade é um sonho! A possibilidade que de fato existe é a adoção de crianças com mais de seis anos de idade”, salienta o promotor Charles Martins.

Ele explica que, para adotar crianças com menos idade, a pessoa deve manifestar interesse na adoção de irmãos. Além disso, as pessoas interessadas devem se organizar para transformar o "sonho" da adoção num "projeto factível". Precisam procurar o Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) para auxílio psicológico, caso se abram para a hipótese da adoção tardia e fazer uma poupança para o caso de aceitarem irmãos. “A adoção pode ser uma realidade, mas dependerá da pessoa pretendente.
Chamo a atenção especialmente para os homens que pretendem adotar, pois eles costumam ter uma visão mais racional. O desejo de dar e receber amor nem sempre convive bem com imperativos da razão", explica.

O promotor enfatiza que a Comarca está movendo esforços para conscientizar as pessoas pretendentes à adoção sobre a importância de abrirem suas mentes à hipótese da adoção tardia. “Pedimos às assistentes sociais, que fazem a avaliação dos pedidos de adoção que estão em curso, que também abordem esse tema, com a sinceridade necessária, junto aos atuais pretendentes à inclusão no cadastro para adoção”, finaliza.

Encontro gera resultados

Segundo o Escrivão Judicial Designado da Comarca de Ivoti, Jean Schwertner, após a reunião, muitos casais realizaram a alteração dos seus cadastros e, tão logo, foram atualizados, foram contatados. “Temos quatro casais vinculados a crianças, ou seja, após a reunião, iniciaram o estágio de convivência com crianças aptas à adoção”, conta Schwertner.

Ele explica que, se os pretendentes restringem a idade, dificilmente serão consultados “Se eles cadastram de zero a três anos e tiver uma criança de três anos e meio disponível, eles não tomarão conhecimento, mas se ampliarem o cadastro para sete anos e tiver uma criança com quatro, eles vão ser consultados”, diz.

O escrivão frisa que o casal não é obrigado a adotar a primeira criança que surgir, mas, normalmente, quem inicia um estágio de aproximação acaba finalizando adoção. “Os pretendentes foram mais consultados na medida que ampliaram o leque de opções e isso é importante para quem deseja adotar”. Segundo Schwertner, ampliação do alcance territorial também permite aos pretendentes uma chance maior de resultados. A maioria dos interessados que já estão vinculados a alguma criança, a encontrou em outras regiões ou estados.

Original disponível em: http://www.odiario.net/mobi/noticia/15058/Dando-e-recebendo-amor-atraves-da-adocao-tardia

Reproduzido por: Lucas H.

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