domingo, 11 de dezembro de 2011

Adotei um embrião

Adotei um embrião
Casais que têm muita dificuldade para ter filhos recorrem às clínicas de medicina reprodutiva para adotar embriões

O casal Célio e Janaína* perambulou dez anos pelas clínicas de medicina reprodutiva. Eles tentaram vários tratamentos para ter um filho, sem sucesso. Quando pensaram em desistir, encontraram uma alternativa: adotar um embrião. “Queríamos ter uma família”, conta Janaína. E conseguiram. Ela deu à luz uma menina, hoje com quatro anos. Satisfeito, o casal não hesitou: adotou outro embrião e teve mais uma garotinha, de três anos.

Esta tem sido a saída encontrada por outros casais, a exemplo de Célio e Janaína. O processo, no entanto, envolve cuidados. A adoção começa quando outro casal faz fertilização in vitro – método no qual o espermatozóide e o óvulo são unidos em laboratório e, depois, implantados no útero. Como em geral são necessárias algumas tentativas para que ocorra a gravidez, são produzidos vários embriões. Alguns são congelados para o caso de terem de vir a ser usados. Se o tratamento vingar e o casal não quiser mais ter filhos, pode assinar uma autorização para a doação dos embriões restantes. Eles não sabem quem os receberá nem serão pagos pelo embrião doado. Mas o casal receptor banca os custos da implantação do embrião (cerca de R$ 5 mil). Para que a doação seja efetuada, são aplicados outros procedimentos. “Investigamos se há defeito genético na família do doador e, portanto, risco de comprometer o bebê”, garante o especialista Eduardo Motta, de São Paulo. Se houver problema, o processo é interrompido.

Adotar um embrião só é necessário quando o casal tem graves distúrbios de infertilidade. E isso é raro. Em cada 200 homens, apenas um não tem espermatozóides. “A maioria dos problemas de infertilidade masculina pode ser tratada”, garante o especialista Roger Abdelmassih, de São Paulo. “Geralmente, quem opta pela adoção são os casais mais velhos”, informa. Faz sentido. A idade afeta negativamente a divisão celular dos óvulos, comprometendo sua qualidade. E muitas vezes o homem também não sabe que é estéril – só descobrirá mais tarde. “Nesses casos, a adoção de embrião é uma ótima opção, pois não há um desgaste emocional tão grande da mulher, já que, por tentativa, há 50% de chances de a técnica dar certo, enquanto a taxa de resultado da fertilização in vitro para esse tipo de paciente é cerca de 12%”, afirma o médico Dirceu Pereira, de São Paulo. A adoção de um embrião não deve ser utilizada se houver risco de vida materno.

Aceitação – Durante o processo, várias angústias afligem o casal. A principal diz respeito ao estado emocional da mulher. “A futura mãe fica cheia de dúvidas. Quer saber, por exemplo, se o filho será parecido com ela.” “Com o tempo, quando vê a barriga crescer, aceita a situação e fica feliz ao perceber que o bebê está sendo alimentado com o seu sangue”, diz Motta. Quem quer um filho e não consegue, supera tudo pela realização do sonho. A secretária Aparecida Mendes, por exemplo, garante que não se abalou quando se decidiu por um embrião doado. Por mais de dez anos, ela tentou engravidar sem sucesso. Um dos problemas era a idade do casal (46 anos). “Fiquei satisfeita com essa opção. Tinha atingido meu limite de tolerância”, lembra. Aparecida implantou dois embriões e hoje tem um casal de gêmeas. “Minha vontade de ter filho foi maior do que qualquer preocupação”, conta. A psicanalista Magdalena Ramos entende a decisão de Aparecida. “A mulher quer ter um filho da maneira mais normal possível”, explica. Na opinião dela, a gestação e o nascimento estão vinculados e se revestem de uma conotação sublime. Sabe-se, no entanto, que, na prática, a gravidez não é tão sublime assim porque também gera dúvidas. “Mas o desejo de gerar e dar à luz é quase incontrolável”, reflete a psicanalista.

Para o médico Motta, essa talvez seja uma das razões pelas quais o casal prefira um embrião em vez de uma criança. “A sociedade ainda não aceita bem a adoção”, acredita. O juiz Siro Darlan de Oliveira, da Primeira Vara da Infância e Juventude do Rio, discorda: “Hoje é mais fácil adotar uma criança. Não é mais necessário ser casado, por exemplo”, esclarece. Quanto a assumir embriões, ele tem um questionamento. “Acho uma alternativa positiva, mas não socialmente correta num país com tantas crianças abandonadas”, defende. Para complicar a discussão, a Igreja joga um balde de água fria. “Ter um filho deve ser um dom de Deus e não um produto de laboratório”, protesta o bispo João Bosco de Assis, de Minas Gerais. Os casais que optaram pela adoção, no entanto, estão bem felizes com sua escolha.

Fonte: ISTO É INDEPENDENTE
http://www.istoe.com.br/reportagens/43372_ADOTEI+UM+EMBRIAO

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