quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

FILHOS DE ADOÇÃO - Marcos Costa, 38 anos, maquiador

''Tenho muita sorte. Por ter nascido e por ter sido adotado por uma família maravilhosa''

''Meus pais adotivos tinham três filhos adultos e viviam em Goiânia. Como todos estavam demorando a casar e os netos não vinham, optaram pela adoção. Uma amiga da família soube que uma jovem estava doando o filho por não ter condições de criá-lo. Na hora, minha mãe foi me buscar na casa dessa amiga. Cheguei em casa com dois dias de vida, embrulhado em uma toalha de rosto. Cresci sem sentir diferença de tratamento em relação aos meus irmãos. Ao contrário, fui o único a estudar em escola particular e a ter as melhores roupas, pois, quando me adotaram, meus pais estavam numa boa situação financeira. Jamais fui tratado como ilegítimo. Levava bronca, ficava de castigo como os outros.

Tinha uns sete anos quando soube da adoção, de um jeito inesperado. Fiz alguma reinação na casa da vizinha e ela gritou: 'Sai daqui, menino adotado'. Isso me machucou. Foi a primeira vez que senti o preconceito na pele. Minha mãe, que estava esperando o momento certo para me falar da adoção, resolveu me contar toda a história. Junto com a revelação, nasceu o medo de que ela me abandonasse ou me devolvesse para a mãe biológica. Sempre que esse pavor surgia, minha mãe me dava colo, abraços e me acalmava com palavras de conforto. Com o tempo, esse sentimento ruim deu lugar à segurança. Sentia que tinha meu espaço na casa e dentro do coração da família. Além disso, tinha o carinho da minha irmã mais velha, que tinha 26 anos quando cheguei e foi como uma segunda mãe para mim.

''Tudo que tenho devo aos meus pais adotivos. Estudei na França, sou um profissional de sucesso e vivo tranqüilo''
Tudo que tenho devo a eles. Só me dei bem na vida. Passei um tempo estudando na França, sou um profissional de sucesso, tenho amigos queridos, minha vida amorosa é tranqüila. Falo da adoção com muita naturalidade e nunca tive problemas com isso.

Não sinto vontade de conhecer meus pais biológicos. Em-bora, às vezes, me pergunte onde estaria se não tivesse sido adotado, se sou parecido com minha mãe, se tenho irmãos, mas é só. Não me apego a essas questões. Recebi carinho, respeito e educação, e isso não deixou espaço para conflitos.

Ainda não é o momento, mas quero adotar um filho. É uma decisão difícil e tem de ser tomada com carinho. O importante é que um casal, duas pessoas do mesmo sexo, ou alguém sozinho se comprometa com a nova vida que tem nas mãos, como aconteceu lá em casa.

Senti demais a perda dos meus pais. Meu pai faleceu em 2000, velhinho, aos 86 anos. Éramos muito ligados. Mesmo morando em São Paulo, nos falávamos todos os dias. Quando ia para Goiânia gostava de cuidar dele, aparava sua bara e cabelo. A morte da minha mãe foi ainda mais difícil. Ela teve um derrame e morreu de repente, aos 79 anos. Aconteceu entre o Natal e o Ano-Novo de 2001 e fiquei com ela o tempo todo. O fato de a família ser superunida ajudou muito a superar a dor. A tristeza se transformou em lembranças boas. Agora, a vejo em sonhos maravilhosos, cheios de luz e alegria.''

Fonte: http://revistamarieclaire.globo.com/Marieclaire/0,6993,EML952933-1740-2,00.html

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